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Andres Pazos e Mirella Pascual  em cena do filme Whisky,  apresentado na Cinemateca no  sábado (14) | Divulgação
Andres Pazos e Mirella Pascual em cena do filme Whisky, apresentado na Cinemateca no sábado (14)| Foto: Divulgação

Produção

O diretor de arte Gonzalo Delgado nasceu em Montevidéu, no Uruguai, em 1975.

- Formou-se em direção cinematográfica na Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de los Baños, em Cuba.

- Co-roterizou o filme Whisky (Rebella e Stoll, 2004). Seu trabalho como diretor de arte inclui os longas 25 Watts (Rebella e Stoll, 2001), Whisky, El Custodio (Rodrigo Moreno, 2005), La Perrera(Manuel Nieto, 2006) e Phantasma (Lisandro Alonso, 2006).

Pequeno e pobre, o Uruguai revela-se um pólo de cinema, com produções igualmente modestas, mas extremamente criativas e sensíveis. É o caso, por exemplo, de Whisky (2004), de Juan Pablo Rebella e Pedro Stoll, vencedor de vários prêmios, como o FIPRESCI da mostra Um Certo Olhar, no Festival de Cannes, e o Goya de melhor filme estrangeiro .

As dificuldades financeiras do país podem, até mesmo, se converter em qualidade. "Uma produção pequena é independente economicamente, então, pode-se contar o que se quer. Há mais liberdade criativa", explica Gonzalo Delgado, diretor de arte de Whisky. Ele esteve em Curitiba no último fim de semana para participar do 4º Encontro Ficção Viva, do Projeto Olho Vivo, na Cinemateca. Confira a entrevista com o artista.

A partir de que período o cinema no Uruguai ganha força?

Gonzalo Delgado – O cinema uruguaio começou a existir a partir de 1995. Antes, havia pouquíssimas experiências. Com a ditadura, que durou de 1973 a 1985, o pouco que havia desapareceu. No período de pós-ditadura, uma nova geração, que rompeu com as tradições culturais, começou a estudar cinema, o que era uma coisa estranha no país. Com as escolas de comunicação e com a produção de comerciais próprios (até os anos 1980 eles eram importados da Argentina e de outros países), toda uma geração começa a explorar novas maneiras de se expressar, de se comunicar.

A que se atribui a boa acolhida do cinema uruguaio nos festivais?

Se não há dinheiro, é preciso ser criativo para contar uma história. Os filmes agradam tanto nos festivais porque há muito tempo não se viam filmes tão pobres. Mas não pobres porque tratam da pobreza, como em Cidade de Deus, que, aliás, é uma produção cara. São fitas econômicas, pequenas, muito sensíveis, e isso chama atenção nos festivais.

Costuma-se dizer que faltam bons roteiros no cinema brasileiro. A que se atribui isso?

No Brasil, a iniciativa privada patrocina a cultura. E a uma grande empresa não interessa financiar uma pequena história. Quanto mais dinheiro se necessita para fazer cinema, mais interesses se criam sobre o produto final. Isso prejudica o roteiro. Uma produção pequena é mais independente economicamente, pode-se contar o que se quer. Creio que aí está a graça. Há mais liberdade criativa.

Economicamente, é muito difícil fazer cinema no Uruguai?

Há muitas dificuldades financeiras, mas é preciso saber transformá-las em algo criativo. É claro que não é possível fazer filmes com explosões e guerras. O Uruguai é um país pequeno e pobre, entendemos isso e nos adaptamos a isso. Senão, será muito frustrante. É melhor fazer pouco com o pouco que se tem do que não fazer nada por querer fazer muito.

O público uruguaio tem acesso aos filmes brasileiros?

É como em toda a América Latina. A distribuição dos filmes depende das companhias internacionais, principalmente, norte-americanas. Os produções brasileiras que chegam ao Uruguai são distribuídas através da Miramax, e são filmes como Tropa de Elite, Cidade de Deus ou Central do Brasil. Outros filmes podem ser vistos na Cinemateca.

Há intercâmbio entre os cineastas brasileiros e uruguaios?

O ridículo da situação é que os argentinos, chilenos, uruguaios se encontram no Festival de Berlim, no Festival de Cannes... Estamos há duas horas de viagem e nos conhecemos na Europa. Isso infelizmente não acontece nos festivais daqui, como o de Havana e o do Rio.

Na direção de arte de Whisky, você busca elementos do cotidiano para dar início ao trabalho de direção de arte. É uma forma de dialogar com o roteiro, que também parte do olhar sobre a realidade?

Os filmes uruguaios não são feitos para refletir uma realidade social. A realidade é entorno, é paisagem. O mais importante é o que se conta, a fábula. Se esta fábula se passa em 2002, um ano de crise, isso é só o contexto. Poderia ter sido filmada em outro país e seria a mesma história. Não interessa fazer uma fotografia da sociedade uruguaia, mas é claro que, mesmo que não se queira, o cinema acaba por revelar essa fotografia.

Nos interessa viver no Uruguai, fazer filmes uruguaios, com atores uruguaios. Estamos no Uruguai, então, os personagens são uruguaios. Não queremos contar a crise dos fabricantes de meias, mas nos aproveitamos deste entorno para enriquecer a história. Creio que estes são os filmes que transcendem porque podem ser entendidos por qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Tratam de seres humanos e de suas pequenas histórias, de suas emoções e anseios.

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