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"Piratas do Caribe - No fim do mundo" estréia esta sexta-feira (25) ao redor do planeta, prometendo causar alvoroço e repercussão astronômicos. Além disso, chega para tentar roubar o cetro de "Homem-Aranha 3", primeiro lugar em arrecadação no mundo, e que tirou de "Piratas do Caribe - O baú da morte" o recorde de bilheteria numa estréia americana. Os dois filmes citados têm muita, mas muita coisa em comum. É bem possível que a nova aventura do hilário pirata Jack Sparrow supere os cerca de US$ 300 milhões gastos no último longa da franquia aracnídea. Por isso mesmo, como no longa do "amigo da vizinhança", a nova produção de Jerry Bruckheimer (das bombas "Armageddon" e "Pearl Harbor") é voltada para quem efetivamente dá lucro ao mercado cinematográfico: crianças e adolescentes. Também como no último episódio do "Cabeça de Teia", este é sem dúvida o pior da série, e o mais ousado. O que talvez confirme a idéia de que (geralmente) menos é mais. Por isso, atenção bucaneiros: o melhor filme da série é disparado, a milhas náuticas de distância, o primeiro: "Piratas do Caribe - A maldição do Pérola Negra".

Em "Piratas do Caribe - No fim do mundo", a maldição é outra. Assim como nas trilogias de "O poderoso chefão", "Star Wars" (a original), "Superman", "Indiana Jones", "De volta para o futuro", "O exterminador do futuro", "X-Men", o terceiro exemplar da série é o mais fraco. E, por ser o ponto final de uma trilogia, o mais decepcionante. Por culpa talvez de outra trilogia de sucesso ("Matrix", na qual apenas o primeiro - excelente - presta), diretores e produtores de blockbusters hollywoodianos (perdoem-me pelo pleonasmo) se convenceram de que as seqüências de ação devem ter 15 minutos, ou mais. Mesmo que se esteja na melhor montanha-russa do mundo, é praticamente impossível evitar a chegada dos bocejos se ela não termina nunca.

A última - por enquanto - aventura de Jack Sparrow começa muito bem, com bom ritmo, tensão e interesses crescentes, e um pouquinho de violência. Talvez isso explique a censura de 12 anos, que é um tanto absurda, já que é um filme claramente voltado para as crianças. Assim como "Homem-Aranha 3", que obteve a mesma classificação de censores obtusos que ainda não acordaram para o mundo em que vivem. Em "Piratas do Caribe - No fim do mundo", lorde Beckett (Tom Hollander), de posse do coração de Davy Jones (Bill Nighy) - que lhe foi entregue no final da segunda parte pelo então comodoro Norrington (Jack Davenport) -, agora governa e controla os mares. No comando da Companhia das Índias Orientais - e tal qual o presidente Bush - ele decide, objetivando lucro, varrer os piratas do mapa.

Barbossa (Geoffrey Rush), Will (Orlando Bloom) e Elizabeth (Keira Knightley) navegam até o fim do mundo para tentar resgatar Jack Sparrow (Johnny Depp) da morte (para quem não se lembra, ele vira comida do monstro Kraken no fim do filme anterior). Os três precisam de Jack para, junto com outros oito lordes piratas, "despertar" a deusa Calypso (Naomie Harris), única que pode deter Beckett e Jones. Na verdade, porém, as motivações de cada personagem são as mais variadas possíveis, e eles não hesitarão em trair e deixar para trás aqueles que estiverem em seu caminho. Em conseqüência, muita desconfiança, reviravoltas, traições e correria, embalando uma (fraca) história de amor e de busca pela liberdade.

O filme traz algumas referências cinematográficas. Da obra-prima "Era uma vez no oeste" (Sergio Leone, 1968) até "O império contra-ataca" (Irvin Kershner, 1980), passando por "Indiana Jones e o templo da perdição" (Steven Spielberg, 1984) e "Meu ódio será sua herança" (Sam Peckinpah, 1969). Mesmo que, em quase três horas de duração, estes sejam elementos isolados, é vísível o que o diretor Gore Verbinski pode fazer, o que já havia sido provado em "O chamado" (2002). Sua refilmagem do filme de terror japonês (que também faz parte de uma trilogia), aliás, foi o que lhe abriu as portas e valeu o convite para retomar o gênero que consagrou Errol Flynn (1909-1959) como o pirata mais famoso da história do cinema.

Entretanto, há "citações" bem mais explícitas e ainda frescas na mente do espectador. E estas não funcionam muito bem, como a reminiscência de "A janela secreta" (David Koepp, 2004), com o próprio Johnny Depp. Chega a ser risível e constrangedor verificar que foi utilizado o mesmo "truque" - com o mesmo ator - do filme baseado no conto "Janela secreta, jardim secreto", de Stephen King, o autor vivo mais adaptado da história. A idéia até poderia ser boa e funcionar. Mas assim como não funcionou há três anos, é impossível - para quem viu os dois filmes - não fazer a associação imediatamente. Já a ponta de Keith Richards remete à participação de Caetano Veloso em "Orfeu", de Cacá Diegues, o que não é um bom sinal.

Legítimo exemplar de filme-pipoca, o longa parece ter errado a mão no sal. Longo demais, mas ainda assim divertido, com ação desenfreada e gags visuais, além de fotografia e montagem estupendas, "Piratas do Caribe - No fim do mundo" irá fazer a festa da garotada ao redor do globo. Porém, sua maior falha é a mesma que a do segundo filme. Aqui, mais acentuada, infelizmente. Jack Sparrow, um personagem sensacional é um mero coadjuvante. E isso fere o filme de morte. É duro ficar torcendo para que Depp surja, já que Keira e Bloom estão longe de convencer. Principalmente ela, que, posando de rainha dos piratas, é um peixe fora d'água. A cena de seu discurso é constrangedora. Por isso, o filme - mesmo com estupendos efeitos especiais e alucinantes cenas de ação -, como num jogo de batalha naval, aponta seus canhões e atira. E acerta a água.

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