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Trio sueco se prepara para a segunda apresentação no Brasil. Para o vocalista Peter, ao centro, dialogar com a plateia é o objetivo no show do Festival Planeta Terra | Divulgação
Trio sueco se prepara para a segunda apresentação no Brasil. Para o vocalista Peter, ao centro, dialogar com a plateia é o objetivo no show do Festival Planeta Terra| Foto: Divulgação

Opinião

Alegria versus melancolia

Cristiano Castilho, editor do Gaz+

Foi como uma volta à zona de conforto de onde Peter Bjorn and John, aliás, nunca deveriam ter saído. Gimme Somme é um disco coerente que tem como fio condutor as melhores referências pop – Beatles e Elvis Costello –, um tempero garageiro dos anos 1970 e uma alegria melódica que, combinada às letras melancólicas do trio, criam uma atmosfera estranha, porém genuína.

Um acorde repetitivo de guitarra e uma bateria espacial dão a partida, com "Tomorrow Has to Wait". "Não acho que você esteja arrependido pelo que fez", canta Peter, límpido, ecoado por backings que esbanjam em harmonia.

"Dig a Little Deeper" tem potencial para ser a nova "Young Folks". Isso porque, depois de um rápido solo de bateria, surgem "oh, ohs" convidativos. A voz de Peter é incisiva, e a trajetória da música – perceba os bongôs no final – lembra a esperta costura que faz a banda Vampire Weekend.

Emulando Buzzcocks, as guitarras aparececem com mais força em "Second Chance". "A segunda chance nunca será encontrada", canta Peter, reconhecendo que nem na Suécia o mar está para peixe.

"Breaker Breaker" tem menos de dois minutos e poderia ser um single perdido dos Beatles, não fosse a letra algo devastadora. "Antes de você partir meu coração, vou quebrar seu braço e sua concentração".

As melhores faixas de Gimme Somme aparecem quando o trio junta a objetividade musical à variação nos arranjos, mesmo que por ali só existam baixo, guitarra e bateria. "May Seem Macabre", então, se aproxima de Stone Roses, banda queridinha por eles. E um grande presente é "I Know You Don’t Love Me". Densa, sussurrada e hipnotizante, a última faixa talvez dê pistas sobre o caminho futuro dos suecos. GGGG

Até o bizarrinho disco Living Thing (2009), Peter Bjorn and John corria o sério risco de entrar na galeria das bandas de um hit só. Pois a maneira mais fácil de explicar quem eram esses suecos, fãs de Ride e Stone Roses, era fazer biquinho e imitar os gostosos assovios de "Young Folks", música que ainda hoje é uma carta na manga para DJs que querem dar uma animada em pistas indies, do Brasil ao Japão.

A música é um single de Writer’s Block (2006), terceiro disco de um grupo que quer sempre fazer algo diferente em seus álbuns. Seaside Rock (2008), por exemplo, é essencialmente instrumental e nele há três faixas permeadas por monólogos em diferentes dialetos suecos. Nada pop. Depois disso, o experimentalismo e a obscuridade são os ingredientes do já citado Living Thing. Mas eis que finalmente ressurge o sol, coisa rara na Suécia, como sabemos.

Gimme Somme, sexto disco do trio, lançado no Brasil pela Vigilante no início de julho, devolve PB&J à sua melhor forma. O álbum é um divertido exercício pop, com referências tanto ao pop de Elvis Costello, ao rock setentista do Buzzocks e ao krautrock da banda Can.

"A principal diferença desse disco está na gravação. Queríamos voltar ao básico, ao que éramos. Simplesmente respeitamos nosso jeito de tocar e o nosso momento atual", disse o guitarrista e vocalista Peter Morén, de sua casa em Estocolmo, na Suécia, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo.

O básico para o trio, em que também brincam Bjorn Yttling (baixo, vocais e teclados) e John Eriksson (bateria, percussão e vocais), ora, é o básico do rock. "Para gravar Living Thing usamos balões, guarda-chuvas e vários samplers. Agora, foi só guitarra, baixo e bateria", disse o sueco.

No novo disco, o quesito experimentação atende pelo nome de Per Sunding, o produtor do ál­­bum. Foi a primeira vez que o trio convocou alguém para subir e descer botões no estúdio. "A banda existe desde 1999 e decidimos que precisávamos de algo novo nesse sentido. Novas ideias, al­­gum olhar diferente no estúdio", explica o músico, que tem Caetano Veloso e Jorge Ben Jor em seu Ipod.

Na Suécia, Per é meio que um mago. Tem em seu currículo a produção de bandas como The Cardigans e Swan Lee. E é ex-membro da Eggstone, considerada por muitos como uma das principais bandas do pop sueco das últimas duas décadas. "Buscávamos algo perto do punk, um som mais agressivo, enérgico, direto, com mais guitarras", diz o sueco. As músicas passam longe do punk. E a dita atitude está, talvez, na maneira de gravar, sem rodeios. Peter concorda. E ri, ri muito. "As músicas não são... é, elas não são punk de jeito ne­­nhum. Talvez só nas nossas cabeças".

"Young Folks"

Peter nunca imaginava que "Young Folks" poderia fazer o estrago que fez. Entretanto, durante a gravação, alguns insights surgiram para, talvez dar pistas sobre o que viria – a música ficou no topo das paradas inglesas e também foi nomeada a segunda melhor de 2006 pela revista britânica NME, perdendo apenas para "Over and Over", do Hot Chip. "Quando gravamos, sabíamos que era algo diferente", diz Peter, sempre sorrindo. "Melhor ter um hit do que nenhum," né?

I’m from Estocolmo

Os anos 2000 foram gentis com bandas da Suécia. I’m from Barcelona, Taken by Trees, Jens Lekman e outros despontaram escandinávia afora, revelando que há algo na água da terra do Abba. "Não chamaria de movimento, apesar de todos esses grupos serem mais pop. Nós fazemos coisas parecidas, mas não tomamos cerveja juntos. O que há de similar é a melancolia nas letras. Não sei por que. Talvez os nossos invernos longos expliquem", diz Peter.

Em 2008, Peter Bjorn and John veio ao Brasil tocar para pouco mais de 500 pessoas. No dia 5 de novembro, retornam para uma apresentação no Festival Planeta Terra, no qual são esperadas mais de 20 mil. "Vai ser muito bom voltar. É ótimo tocar para grandes públicos", diz Peter, citando um show recente de Bruce Springsteen.

"Foi na Inglaterra, para uma multidão. Mesmo assim, ele conseguiu fazer com que todos interagissem, conseguiu criar um dialogismo. Se conseguirmos fazer isso, estarei feliz", finaliza o simpático Peter Móren, sempre com risos de lambuja.

Serviço:

Gimme Some. Peter Bjorn and John. Vigilante. R$ 24,90. Indie rock.

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