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Neguette foi um guerreiro e quis continuar em campo mesmo machucado, mas técnico Lori Sandri não deixou | Antônio Costa / Gazeta do Povo
Neguette foi um guerreiro e quis continuar em campo mesmo machucado, mas técnico Lori Sandri não deixou| Foto: Antônio Costa / Gazeta do Povo

Quando se fala de boa ou má arquitetura, mais um aspecto entra em cena: a relação de uma edificação com o seu entorno, o espaço urbano. Jaime Lerner, arquiteto e urbanista, chama a atenção para a sensação de "pertencimento", como fator fundamental para que o habitante se sinta feliz na sua relação com o ambiente construído.

Atualmente dedicado à revisão do plano piloto de Brasília, entre outros projetos no Brasil e em Angola, Lerner falou com a reportagem do Caderno G em seu escritório, instalado na casa do bairro do Cabral que projetou quando ainda estava no terceiro ano de faculdade.

O filósofo Alain de Botton diz, no livro A Arquitetura da Felicidade, que a má arquitetura é uma falha tanto de projeto quanto de psicologia. Como o senhor analisa o papel desse aspecto psicológico da arquitetura?A boa arquitetura se traduz em todas as suas dimensões: na solução física, na atenção aos desejos das pessoas às quais se destina e na realização de sonhos e das expectativas dessas pessoas. A boa arquitetura se traduz na boa resposta psíquica.

Pode-se dizer que há uma identidade arquitetônica em Curitiba?A gente pode questionar alguma coisa da arquitetura que nasceu da iniciativa privada, bons e maus exemplos de arquitetura. Agora, a arquitetura dos espaços públicos, dos parques, em geral é de qualidade. Tem boas soluções, adequação dos materiais, se insere bem na paisagem e cria uma identidade entre as pessoas e as edificações. O sentimento de felicidade de uma pessoa em uma cidade está relacionado ao sentimento de pertencer a um lugar.

Mas, é possível identificar um perfil da arquitetura curitibana, algumas características em comum entre as edificações que estão sendo construídas agora?Acho importante separar a arquitetura dos modismos. Tivemos uma fase pós-moderna, outra fase pós-pós-moderna, mas continuo achando que a boa resposta da arquitetura está naquela que corresponde à solução de um programa. No fundo, a arquitetura tem que ser um projeto que atenda a um sonho desejável. Eu gosto da arquitetura que esteja bem ancorada no entorno urbano, na cidade. Para mim, esse diálogo é fundamental.

Que elementos são importantes para esse diálogo?O diálogo existe ou não existe, ele não pode ser analisado separadamente. A arquitetura é viva quando ela corresponde a uma época, traduz esse sentimento de pertencer à cidade, utiliza tecnologia adequada, é sustentável, enfim, quando ela não é usada como um objeto de desfile. Nós temos muito orgulho das grandes estrelas da arquitetura no mundo inteiro, mas nós precisamos de uma constelação de arquitetos que tenham mais preocupação com a cidade.

Esse é o desafio da arquitetura hoje, a integração com a cidade?Com certeza, não só um desafio como uma obrigação. Não consigo conceber a arquitetura desvinculada da cidade. A arquitetura dos parques em Curitiba é integrada à paisagem, feita em postes de madeira reciclada e entra na paisagem naturalmente, não é exibida ou deslumbrada.

O senhor costuma afirmar que "a cidade não é problema, é solução". A arquitetura exerce um papel importante nesse contexto?Ela é importante. A cidade pode ser melhorada, tenho convicção de que, em menos de três anos, qualquer cidade do mundo pode melhorar a sua qualidade de vida, não importa a escala ou as condições financeiras. A arquitetura muitas vezes é um instrumento para prover esses espaços, essas necessidades levantadas. E é óbvio que elas têm que ter o caminho da viabilidade. Não podem ser soluções absurdamente caras. Sou contra os excessos que às vezes se praticam no sentido de querer aparecer. Gosto muito da arquitetura do Oscar Niemeyer, porque ela é simples e, ao mesmo tempo, genial. Muitas pessoas vão dizer que ela não é tão prática, mas ela tem outras qualidades. A forma sublimada em si preenche os possíveis quesitos que às vezes não são respondidos.

O crescimento populacional e do fluxo de veículos exige novas ações de planejamento urbano em Curitiba?Curitiba é um compromisso de inovação constante. Esse desafio é permanente em cada momento e em cada gestão.

E quais desafios o senhor considera mais urgentes solucionar?Avançar na mobilidade, trazer a universidade para o centro da cidade, ocupar mais a cidade, revitalizar o centro – esse é um cuidado permanente – e aproveitar os espaços novos que estão aí. Existe um espaço para a juventude, que eu chamaria de o "Soho" curitibano, a área do Rebouças, onde estão as antigas fábricas. O jovem não gosta de espaços acabados, ele quer entrar com alguma coisa. Por isso que, às vezes, uma arquitetura toda empetecada não é boa. Ela não dá espaço para as pessoas entrarem com alguma coisa sua.

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