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No romance, Veronica Stigger constrói um singular panorama narrativo, funde diversas referências e traz um ideal próprio de viagem, do exterior ao Brasil | Walter Craveiro/Divulgação
No romance, Veronica Stigger constrói um singular panorama narrativo, funde diversas referências e traz um ideal próprio de viagem, do exterior ao Brasil| Foto: Walter Craveiro/Divulgação

Livro

Opisanie Swiata

Veronica Stigger. Cosac Naify, 160 págs. R$ 25. Romance.

Certos livros criam expectativas exacerbadas por conta de quem os prefacia e do roldão de críticas positivas. É o caso quando se abre pela primeira vez o imodesto projeto gráfico de Opsanie Swiata, da porto-alegrense Veronica Stigger, finalista do Portugal Telecom 2014 na categoria Romance. Aqui nos deparamos com um texto de abertura assinado por ninguém menos do que Flora Sussekind, o que leva a se esperar algo, no mínimo, acima da média – a trajetória de crítica literária de Flora quase tem mais de solo do que Veronica tem de idade.

E, sim, Opsanie Swiata cumpre tudo o que promete e mais um pouco. Espécie de fusão entre um Fellini de Amarcord e La Nave Va com relatos tropicais de viagem semelhantes às pitorescas narrativas dos primeiros portugueses que vieram ao Brasil, o livro ainda mescla elementos narrativos da publicidade mais, digamos, ingênua. E também presta homenagens sutis a Drummond, Oswald de Andrade e outros modernistas. Há de anúncios de canivetes a informes sobre a chegada à São Paulo do Circo Liliputiano e a Cidade dos Anões, além de singelos cartões postais e notinhas aleatórias.

O experimento narrativo de Veronica aborda de um jeito quase fantástico, como num sonho dirigido, as aventuras de um polonês chamado Opalka, que se descobre pai após o filho, Natanael, lhe enviar uma correspondência da Amazônia alegando grave problema de saúde. Então, ele parte ao Brasil, de navio, numa viagem de contornos surreais que exige, sobretudo, espírito livre do leitor.

Descrição do mundo

Pretensioso sem ser pedante, o jogo estrutural de Veronica não abre mão de um humor irresistível, marcante, que dá contornos quase mágicos a certas passagens. Olha o que acontece quando um passageiro resolve cantar uma melodia aleatória e o navio inteiro se põem em uníssono. "Quando as meninas disseram o segundo verso, o casal da amurada iniciou a música. A senhora fornida já entoava o quarto e último verso quando os homens altos entraram no coro. E assim continuaram, intercalados, até que, como sempre acontecia nessa brincadeira, sem ninguém perceber, estavam todos cantando o mesmo trecho. Merrily, merrily, merrily, merrily." Dá para quase ouvir a autora se divertindo.

Opsanie... é peculiar em diversos aspectos. Para apresentar os seus personagens, a obra recorre a Bopp, o agitado e quase macunaímico amigo de Opalka, possível alusão ao poeta Raul Bopp, e nos abre seu diário de bordo. "HANS. Alemão. Amigo íntimo de Curto Chivito. Conhece-o faz pouco tempo. Fala pouco. Come pouco. Mas bebe um bocado. [...] Aceitou o convite de Curto Chivito para viver no Uruguai e juntos tocarem o museu. No futuro, talvez se casem."

Tudo funciona no arco narrativo e chega a um resultado emocionante, o que coloca seu Opsanie Swiata como um dos favoritos, ao lado de O Drible, de Sérgio Rodrigues, para vencer a categoria. Livro inesperado e bonito por excelência, é bem como diz Flora: "Uma coleção de formas narrativas, entremeadas por vastas zonas em branco". GGGG

Apostas

Onze livros, divididos em três categorias, concorrem ao Portugal Telecom de 2014. O Caderno G selecionou títulos favoritos ao prêmio:

Categoria Conto ou Crônica

Aqui, Nu, de Botas, de Antonio Prata, é o grande favorito. Concorrem também Asa de Sereia (Arquipélago Editorial), de Luís Henrique Pellanda, Entre Moscas (Confraria do Verbo), de Everardo Norões, e Viva o México (Tinta da China), de Alexandra Lucas Coelho.

Corre por fora: Asa de Sereia, do curitibano Pellanda.

Categoria Romance

O fabuloso O Drible, de Sérgio Rodrigues, ou o formalista Opsanie Swiata? Alguma vantagem para O Drible por sua abrangência histórica. Fecham a lista A Cidade, o Inquisidor e os Ordinários, de Carlos de Brito e Mello, e Matteo Perdeu o Emprego, de Gonçalo M. Tavares.

Se ganhar, não é surpresa: Opsanie Swiata.

Categoria Poesia

Dificilmente o prêmio não será do belo retorno estético-lírico de Zuca Sardan em Ximerix (Cosac Naify). Brasa Enganosa (Patuá), do curitibano-morretense Guilherme Gontijo Flores concorre também, ao lado de Observação de Verão Seguido de Fogo (Móbile Editorial), de Gastão Cruz.

Para quebrar a banca: Brasa Enganosa.

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