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Cena de A Estrada 47, de Vicente Ferraz | Divulgação
Cena de A Estrada 47, de Vicente Ferraz| Foto: Divulgação

O imaginário caipira de Mazzaropi

Amácio Mazzaropi foi um dos grandes emblemas do cinema brasileiro do século 20, principalmente entre os anos 1950 e 1970. Ele era, guardando as devidas proporções, um Chaplin brasileiro: escrevia, roteirizava, produzia e estrelava seus filmes. Jeca Tatu, o caipira simplório, corresponderia, então, a Carlitos, se considerarmos a sua capacidade de estabelecer diálogo franco com a sua plateia.

Suas películas, que saíam inicialmente pelo prestigioso selo Vera Cruz, depois pelo seu próprio estúdio, não almejavam pouco: entreter e ganhar uns bons trocados com isso. A fórmula deu certo por um bom tempo ao apresentar o embate entre um Brasil arcaico e campestre contra uma urbanidade matreira que chegava mexendo com tudo. Mazzaropi era o camponês ingênuo, que acaba aprendendo, ao seu modo, a inverter as situações de desvantagem – e nisso ele foi exímio, ao criar um personagem catártico para um Brasil em mutação.

Seu personagem-espelho, Jeca Tatu, amalgamava-se com um público que não podia ir muito ao cinema e conseguia enxergar em suas tramas o seu próprio universo e, quem sabe, alguma saída à Mazzaropi das dificuldades.

A sua jornada do herói é um caso digno de estudos profundos na história cultural brasileira, um artista que atraía crianças e idosos, mesmo exercendo o mesmo filme 32 vezes.

  • Mazzaropi será tema de uma oficina com o crítico Celso Sabadin, especialista na obra do cineasta

O que o mundo caipira pré-urbano de Mazzaropi tem em comum com a espiritualidade de trevo da sorte de Paulo Coelho?

Duas coisas: retorno avassalador de público e um certo jeito brasileiro de fazer as coisas darem certo, apesar de todos os prognósticos contrários.

Amácio Mazzaropi e Paulo Coelho são temas do 7.º Festival de Cinema da Lapa, com uma programação extensa que começa hoje e termina sábado.

O evento na cidade histórica vai exibir mais de 50 filmes. São curtas, documentários, filmes infantis e mostras especiais, como a "Casos e Causos", com filmes produzidos pela RPC TV, e a mostra itinerante em homenagem ao criador do personagem Jeca Tatu.

Do cineasta paulista, o festival exibirá quatro obras, com destaque para O Corintiano (1966), um dos clássicos realizados pelo ator.

"Nós levamos, durante um mês, o trabalho do Mazzaropi a comunidades do interior da cidade. Para apresentar as películas, usamos barracões das vilas, organizamos bingos, teve até venda de pastel feito pelos moradores. A ideia foi integrar o espectador de forma ativa, ainda mais se considerarmos que o acesso dessas comunidades ao cinema é bem restrito", esclarece Rudolfo Auffinger, produtor do festival. "E o retorno foi ótimo. O cinema de Mazzaropi é muito comunicativo."

Além de oficina com o escritor e crítico de cinema paulistano Celso Sabadin, especialista na obra de Mazzaropi, o festival trará uma Mostra Competitiva, com quatro filmes nacionais na disputa: Isolados, de Tomas Portella; A Estrada 47, de Vicente Ferraz; O Menino no Espelho, de Guilherme Fiúza Zenha; e Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho, cinebiografia dirigida por Daniel Augusto, em uma co-produção Brasil e Espanha.

A Estrada 47 abre a Mostra Competitiva hoje, às 20 horas. Amanhã, também às 20 horas, será exibido Não Pare na Pista. A programação fecha na sexta-feira, às 18 horas, com O Menino no Espelho, e às 20 horas com Isolados.

O vencedor sai no sábado, às 20 horas, na cerimônia de encerramento do evento, que homenageia também os atores paranaenses Guilherme Weber e Polliana Aleixo com o Prêmio Tropeiro, destinado aos artistas de destaque nacional nascidos no estado.

De época

"Nesta edição buscamos fugir do perfil dos outros anos, em que o filme de época era a regra. Trouxemos filmes com carreiras em outros festivais, vencedores de prêmios e com potencial de diálogo. A proposta é ampliar nosso público", completa Auffinger.

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