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Faith Liddell diz que os festivais  precisam definir que tipo de retorno,  além do econômico, desejam gerar | Antônio More/Gazeta do Povo
Faith Liddell diz que os festivais precisam definir que tipo de retorno, além do econômico, desejam gerar| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Serviço

Grupos e companhias que queiram se inscrever para o Fringe de Curitiba têm até as 23h59 de 4 de dezembro, pelo site www.fringe.com.br.

O Festival de Teatro de Curitiba 2012 irá de 27 de março a 8 de abril.

  • Atores de rua se apresentam no centro histórico de Edimburgo: evento escocês serviu de inspiração para uma centena de eventos ao redor do mundo

Se Curitiba vira uma festa nas duas semanas de Festival de Teatro, em março e abril, imagine viver em Edimburgo, na Escócia, onde apenas três meses do ano não contam com algum festival de arte. A cidade fervilha com mostras de jazz, cinema, exibição de culturas pouco conhecidas e até desfiles militares. Nas artes cênicas, esse é o modelo original do Fringe, a mostra paralela que Curitiba adotou em 1998 e que aceita inscrição de qualquer grupo.

Outros pontos interessantes de Edimburgo que inspiram os cerca de cem festivais com "fringes" realizados em todo o mundo incluem o patrocínio dentro da mostra oficial, que assim pode oferecer alguns assentos bem mais em conta. Para trocar experiências com a organização do festival de Curitiba, a diretora do bloco de festivais de Edimburgo esteve aqui na última semana e conversou com a Gazeta do Povo:

Por que vocês usam o plural, "Festivais de Edimburgo"?

Nossa primeira edição ocorreu em 1947, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. O festival foi justamente criado para aproximar os países europeus, e para criar o que chamamos de um avivamento do espírito humano. Foi uma ideia muito bonita – no primeiro dia, tocaram uma orquestra alemã e outra austríaca, uma delas com regente judeu. A cultura é uma forma de aproximar as pessoas. No mesmo ano, companhias que não haviam sido convidadas para o festival que tem curadoria decidiram participar mesmo assim, dando início ao Fringe. Vieram oito grupos, que ocuparam espaços alternativos, como salões de igreja, garagens, escolas... Hoje há 250 espaços assim. A cada década, mais um ou dois festivais foram sendo acrescentados. É o maior festival de arte do mundo, com 2,5 mil artistas e público de 400 mil pessoas. A maioria entende os festivais como os sete que acontecem entre julho e agosto, incluindo o maior festival de jazz do Reino Unido, as mostras internacional e alternativa de teatro, e o maior festival de literatura do mundo. O trabalho que faço é justamente para garantir que este continue a ser o maior festival do mundo. Se Curitiba chegar perto... estamos de olho [risos]. Na verdade, estou aqui para ajudar nisso.

A senhora já participou de alguma edição do Festival de Curitiba?

Essa é minha primeira visita à cidade. O Festival de Curitiba é muito semelhante ao nosso, porque tem sua mostra oficial e o Fringe.

E o que a senhora acha dessa versão?

É a forma mais sincera de se lisonjear. Existem talvez cem festivais fringe no mundo, e Curitiba é certamente um dos maiores. Um festival você não pode imitar, sempre precisa adaptar. Ele passa por sua própria evolução. Alguns têm um modelo um pouco diferente, porque selecionam parte dos trabalhos. Em Curitiba, vocês apoiam os locais de apresentação com a infraestrutura necessária. Já Edimburgo é como uma grande "sopa empresarial". Há artistas individuais, companhias e teatros que investem e correm riscos financeiros. A maioria não ganha dinheiro. É possível ter lucro, mas a maioria dos artistas está lá pelas suas carreiras, para atrair a atenção da imprensa e de curadores internacionais.

É possível alcançar um bom nível de investimento empresarial em festivais de países emergentes?

É tão provável de acontecer aqui quanto em qualquer lugar. Aqui é necessário um baixo investimento em infraestrutura e marketing, então, é mais provável que surjam investimentos empresariais que permitam que esse evento, de menor escala, ocorra. Em Curitiba vocês têm cerca de dez espaços independentes que funcionam como em Edimburgo. Nos demais, a organização apoia a infraestrutura. Outra coisa interessante é que em Curitiba vocês têm práticas ambientais, e nós estamos buscando promover uma mudança comportamental. Para isso, fazemos uma pesquisa de nosso impacto social, econômico e cultural.

E os ideais humanitários lá do início, funcionaram?

Eles continuaram a ser expressos, então funcionou porque eles continuam a existir. No ano passado nosso festival internacional teve um programa com artistas asiáticos, para trazer trabalhos que o público britânico não veria de outra forma. É um exemplo do que o Fringe faz: promover o espírito do seu tempo, seja em novas tecnologias ou falando sobre o Oriente Médio, as pessoas se unem e expressam suas inspirações.

Um festival precisa trazer grupos internacionais para crescer?

Não necessariamente. Esse tem sido nosso hábito, e acho que, se você quer ser internacional, sim. Mas para crescer, não. Somos internacionais em conteúdo e em público. É preciso saber quem você quer inspirar, e qual sua relação com a cidade e o que você quer fazer por ela. A primeira coisa é ser amado pela cidade. O nosso público ama o fato de estar exposto a trabalhos que não veria em qualquer outro lugar, ter essas experiências culturais obrigatórias. Eles gostam e são modificados por eles.

Como vocês fazem para conquistar mais público para o teatro?

Há muitas formas. Por exemplo, em Edimburgo você pode passar o tempo todo no Fringe, vendo trabalhos de graça – temos um "subfringe" de graça. E pode ver a melhor dança do mundo por 5 libras. Se você tem renda baixa, há um jeito de assistir ao show.

Mesmo na mostra oficial?

Temos preços diferentes na plateia. E, às vezes, patrocínio, como neste caso, quando um banco apoiou um espetáculo de dança para que houvesse lugares custando apenas 5 libras. Mas às vezes acontece de os mais ricos comprarem esses ingressos, então é preciso vendê-los para as pessoas certas. Temos também performances na rua, entre nosso castelo e nosso palácio, numa rua muito bonita, e ali você experimenta diferentes shows. As pessoas sentem que o festival pertence a elas.

Com que festivais vocês concorrem?

Os maiores são os de Avignon – porque eles têm um oficial e um "off" (eles são franceses, por isso não querem chamar de "fringe") –, Adelaide, na Austrália, e Montreal, no Canadá, que se sente uma cidade-festival também – e estão realmente nos imitando [risos]. Tem um festival ótimo na Holanda também, em Roterdã, e um dos líderes é Sydney, onde o festival é mais uma celebração, e a cidade o ama. Já Barcelona tem mais dias de festival, que vai desde religião até arte contemporânea.

Há algum do tamanho de Curitiba num país emergente?

No momento, não. No ano passado recebemos produtores de delegações internacionais em Edimburgo, porque no ano que vem queremos conectar o que fazemos à Olimpíada [de Londres], e alguns dos países cuja presença em Edimburgo pode aumentar são Brasil, China, África do Sul e Índia. Essa é uma das razões por que estou aqui. Esperamos ter um grande encontro de fringes em 2012 em Edimburgo. Será ótimo ver modelos um pouco diferentes.

Quais os principais modelos?

Você precisa escolher o modelo do seu festival. Se é gerar turismo, ou a economia como um todo. O nosso tem um retorno de 261 milhões de libras para a economia do país. Fizemos um estudo neste ano sobre o impacto cultural. Queríamos saber como as famílias reagem ao festival, como nós as estimulamos a passar tempo juntas, como inspiramos a imaginação das crianças e afetamos e melhoramos sua educação. Tudo isso é tão importante quanto o resto. Os políticos tendem a ser obcecados com o impacto econômico, mas nós queríamos garantir que nossa mensagem não fosse só essa. Tudo começa com ótimas apresentações e uma visão. O resto do impacto vem depois.

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