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Em uma semana, um dos maiores festivais de cinema da América Latina anuncia que vai acabar com uma de suas mais tradicionais mostras. Na outra, um filme com protagonistas pouco comuns na produção nacional é escolhido para representar o Brasil no Oscar. Enquanto isso, fora e dentro do país, produções outrora relegadas a nichos fazem sucesso em multiplexes.

São muitos os sinais que indicam a desconstrução de um rótulo: o "cinema gay". Diferentemente do que costuma acontecer fora das telas, o chamado "cinema gay" nunca teve preconceito de gênero. O rótulo passou a ser usado há décadas para tachar qualquer tipo de filme com personagens LGBT ou enredos de conteúdo homossexual. Servia tanto para alertar uma plateia mais conservadora quanto para chamar a atenção de quem preza a diversidade.

No Festival do Rio, que começa amanhã e segue até o dia 8 de outubro, o rótulo foi parcialmente quebrado com a extinção da antiga mostra Mundo Gay. A partir desta 16ª edição do festival, as produções que se enquadrariam no chamado "cinema gay" passam a ser distribuídas por todas as outras mostras: são 43, de cerca de 350 filmes no total.

Até recentemente, as mostras gays tinham um papel importante porque incentivavam filmes que não conseguiam distribuição. Mas eu adoraria que essas mostras acabassem - diz o carioca Mauricio Zacharias, corroteirista de dois filmes que serão exibidos no Festival do Rio, o americano "O amor é estranho" e o brasileiro "Trinta". - O que está acontecendo é que o cinema gay está acabando. Os filmes têm personagens gays, mas não são mais sobre a experiência gay. Estão deixando de ser políticos, não levantam mais bandeiras, e acabam tendo mais êxito em combater o preconceito.

Zacharias vive em Nova York e escreveu "O amor é estranho" em parceria com o diretor americano Ira Sachs. A dupla já tinha sido responsável por "Deixe a luz acesa" (2012) e prepara agora "Thank you for being honest".

"O amor é estranho" mostra o casamento de dois homens com mais de 50 anos (interpretados por John Lithgow e Alfred Molina) e tem sido um sucesso no circuito americano, com exibições nos principais cinemas do país. A boa recepção levou críticos a chamarem o filme de marco do "cinema pós-gay", outro rótulo para quem gosta de rótulos.

"A sexualidade é simplesmente parte do que somos, não define pessoas ou filmes. O rótulo "pós-gay" seria, portanto, uma indicação de que não é necessário mais anunciar uma identidade sexual", afirma Ira Sachs. - Eu não escrevo um filme como um cineasta gay. Eu escrevo como um contador de histórias. Então não distinguo as pessoas baseado em sexualidade, nem no cinema, nem na minha própria vida.

Em contrapartida ao fim da mostra Mundo Gay, o Festival do Rio criou o Felix, um prêmio nos moldes do Teddy do Festival de Berlim, que será entregue para o melhor filme com temas ou personagens LGBT exibido na cidade. Para presidir o júri do Felix, foi convidado o alemão Wieland Speck, diretor da mostra Panorama do Festival de Berlim e fundador, há 27 anos, do Prêmio Teddy.

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