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Cena de "Brecht - The Hardcore Machine" | Molnár Edvárd/Divulgação
Cena de "Brecht - The Hardcore Machine"| Foto: Molnár Edvárd/Divulgação

As cidades brasileiras privilegiadas com festivais de teatro crescem acostumadas a aproveitar o fervo proporcionado pelos dias de peças concentradas. Assim está São José do Rio Preto (no norte de São Paulo) desde a última quarta-feira (4). Na cobertura dessa 12ª edição do Festival Internacional - que antes viveu 40 anos como festival nacional -, a Gazeta do Povo pôde observar o quanto pessoas de todo tipo acorrem aos teatros.

Com dois novos espaços - um teatro municipal com mais de 900 lugares e um do Sesi focado em receber grandes produções, veem-se casais arrumadinhos, jovens alternativos e gente da classe teatral.

É claro que pipocam aqui e ali reclamações de que este é um público que ama o festival e esquece do teatro no resto do ano, mas enquanto está ali, a plateia aplaude de pé. Nem que tenha visto uma peça-performance estranha, inspirada justamente no conceito de estranhamento do dramaturgo e diretor alemão Bertolt Brecht (1898-1956).

O grupo húngaro que leva o nome do poeta Kosztolányi Dezso estreou em Berlim, em 2007, o trabalho intitulado de forma provocativa: "Brecht - The Hardcore Machine" ("a máquina hardcore").

A primeira meia hora não tem palavras, e tem-se a sensação de estar apenas diante de esquetes pesadinhas, que simulam o sexo com frequência. Vestidos em roupas de trabalhador estilizadas, os dois atores e duas atrizes, com quase nenhum cenário e à meia-luz, acrescentam à estética com o uso de lanternas, que ligam e desligam freneticamente, direcionando o olhar do espectador para um rosto, um movimento, a simulação de uma convulsão.

Quando começam a gritar palavras de ordem, traduzidas num telão (literalmente, em fonte 50), aprofundam a sensação de se estar diante de uma constestação de outro, que não nos é familiar.

A peça foi criada com a mente nas "Elegias a Buckow", que Brecht escreveu em memória do levante de trabalhadores ocorrido nessa cidade alemã em 1953.

Num dos momentos de maior contato com a plateia, os quatro sentam-se alinhados e simulam primeiro um congresso do ódio - para dizer o quanto nos odeiam - e depois uma versão do amor - para dizer o quanto nos amam. Tudo em gestos exageradíssimos, levando a cabo a pesquisa iniciada pelo diretor András Urbán, que privilegiou o trabalho de corpo dos atores. Em manifesto no site do grupo, o criador salienta que não se trata de uma peça e sim de um obra inscrita no universo pós-dramático.

O público aplaude e sai, pronto para novas incursões nacionais ou internacionais. Os mais afeitos às artes frequentam o "point cult", instalado numa antiga fábrica de óleo de cozinha, a Swift. Ali há exposição de figurinos, apresentação de peças cabeça num barracão - como "Ato de Comunhão", de Gilberto Gawronski - e mesas da performance "Otrafrecuencia", em que dois espectadores se encaram, munidos de fones de ouvido, pelos quais ouvem uma narração e se tornam atores com uma missão.

O festival de São José do Rio Preto vai até dia 14 e cobra R$ 10 a entrada inteira para os espetáculos.

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