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Capa do CD "Martinho da Vila, do Brasil e do Mundo" | Reprodução
Capa do CD "Martinho da Vila, do Brasil e do Mundo"| Foto: Reprodução

Números

39 anos completou o Filo. O festival é mais antigo do continente americano. O diretor Luiz Bertipaglia prevê uma edição comemorativa de quatro décadas em 2008, com lançamento de livro, exposição videográfica e a participação de companhias que fizeram parte da história do evento.

47 companhias participaram da edição 2007 do Filo, totalizando 420 atores, diretores e técnicos.

R$ 1,8 milhão foi o orçamento do Filo 2007. O principal patrocinador é a Petrobrás.

Um móbile vivo a quase 40 metros do solo. A atração, que encerrou o Festival Internacional de Londrina (Filo) no último sábado (dia 23), foi democrática. "Quando estamos no alto, todos, crianças e adultos, podem nos ver", disse o diretor de Mobile Homme, o francês Gille Rhodes.

Por ser na rua, qualquer um, com dinheiro ou não, pôde assistir aos atores-músicos que, vestidos como Napoleão Bonaparte e tocando tambores, penduraram-se em trapézios suspensos por um enorme guindaste giratório. Do alto, a visão era a de um grande móbile luminoso, inspirado na obra do escultor Alexandre Calder.

Criado em 1990, o espetáculo é o mais antigo da companhia francesa Transe Express. Já foi apresentado na abertura dos Jogos Olímpicos de Atenas (2000) e durante o carnaval de Marselha, na França.

Diretor da companhia e integrante do elenco, Rhodes também é escultor. Trabalhava com metais e cobre na década de 70, quando conheceu sua esposa e parceira, a coreógrafa Brigitte Bourdain. "Nas artes plásticas, o artista faz o objeto e, depois de pronto, não está mais com ele. Queríamos buscar uma forma de viver a emoção artística, entrar dentro da obra", explica. Assim, nasceu a companhia que realiza espetáculos que são verdadeiras instalações artísticas.

No espetáculo, a música de guerra tocada com tambores franceses foi desafiada. "A música da tradição francesa ou foi feita para a guerra ou é muito demonstrativa, solene. Os jovens franceses foram atrás de outros ritmos, como os da batucada africana, brasileira. Por isso, adaptamos essa tradição criando um repertório que soa mais rock-n-roll", diz.

A montagem da trupe francesa foi apenas um dos vários espetáculos de rua do Filo que empolgaram gente que, de outra feita, não iria ao teatro. Outros destaques gratuitos foram Circo Minimal, da companhia gaúcha Gente Falante, com breves, mas intensos, quatro minutos, em que só entram sete espectadores por vez em uma tenda; os palhaços alagoanos da Turma do Biribinha; e, Le Polichineur de Tiroirs, da companhia belga Caminhos de Terra, que fez humor com objetos mínimos, de uma colher a um pé de alface.

Na caixa preta

Dentro dos teatros (alguns ainda pouco adequados às necessidades de um festival que em 2008 será "quarentão"), os dois últimos dias do evento receberam cinco atrações, entre elas o visualmente belo O Homem Provisório, de Cacá Carvalho (o Jamanta, da novela Belíssima), e um dos grandes destaques de 18 dias de festival: O Círculo de Giz Caucausiano, adaptação exemplar do texto de Brecht feita pela Cia. do Latão, de São Paulo.

Mesmo com três horas de duração, a atuação magnífica dos atores – que rendeu o Prêmio Shell do Rio de Janeiro à protagonista Helena Albergaria – fez com que o público, sentado em uma pouco confortável arquibancada, não visse o tempo passar.

A montagem sofreu alguns percalços, fora e dentro de Filo. As duas primeiras apresentações, na quinta e na sexta-feira (dias 20 e 21), foram prejudicadas por uma queda de energia, imprevisto contornado pelo elenco com velas. Há quem diga que a montagem ficou ainda mais bonita.

A companhia enfrenta um momento difícil – acaba de perder um de seus integrantes. Por isso, foi difícil não compartilhar o choro do elenco, misto de tristeza e alegria, ao final de cada apresentação.

A montagem é fiel ao texto, mas conta com inúmeras soluções criativas da companhia. Um exemplo é o prólogo, que no texto de Brecht reúne dois grupos de camponeses em discusão amigável sobre a posse de um vale. Na montagem, ele é um documentário sobre o ensaio da peça com jovens do MST. "Quisemos pôr a questão dentro de um ambiente socialista e que, no entanto, marcasse a diferença histórica", disse o diretor do espetáculo, Sérgio de Carvalho.

Os dois grupos de camponeses assistem à encenação da história de uma serviçal da corte que sacrifica sua vida para cuidar do filho abandonado da imperatriz, e de um juiz beberrão, que, pouco afeito à lei vigente, acaba fazendo justiça aos pobres. Metáforas de Brecht para a questão agrária.

Um dos maiores sucessos de crítica e público ficou por conta do Grupo Galpão, que celebra 25 anos de estrada com a montagem de Pequenos Milagres, sob a direção de Paulo de Moraes. O texto, inspirado por narrativas reais, comoveu a platéia que ocupou os 1.500 lugares do Teatro Ouro Verde nos dois dias de apresentação. Em cena, os atores interpretam personagens castigados pela pobreza, pela frustração e até pela guerra, mas motivados por desejos improváveis. A peça tem atuações realistas e prima pelo apuro técnico desde a trilha sonora até a iluminação e o cenário.

Abre as Asas sobre Nós, dirigida por Luiz Valcazaras, trouxe a Londrina o universo trágico das travestis exploradas por cafetões. O texto de Sérgio Roveri foi baseado no conto "Bárbara", escrito por Dráuzio Varella. Ambientado em uma grande gaiola, na qual breu e luz se alternam para compor o drama, o espetáculo impressiona pelas atuações de Emerson Rossini, como a feminina travesti Bárbara, e Walter Baltazar, como a destemperada transexual Galega.

De um total de 47 atrações, também mereceram aplausos calorosos os espetáculos Amores Surdos, do grupo mineiro Espanca!; Graphic, da curitibana Vigor Mortis; Adubo ou a Sutil Arte de Escoar pelo Ralo, do grupo brasiliense Tucan; Ketzal, dos russos da companhia Derevo; e, Houdini’s Suitcase, do grupo inglês Pickled Image.

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