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A diretora francesa Pascale Ferran conseguiu um grande feito com "Lady Chatterley", que estréia em São Paulo e Curitiba nesta sexta-feira (23): fazer um filme de época com uma leitura contemporânea.

Diretores que se arriscam nesse tipo de filme muitas vezes caem numa mesma armadilha, fazer um filme preso ao passado, o que o torna pesado e quase sempre desinteressante. O francês "Lady Chatterley" vai na contramão desse estereótipo.

Adaptado de uma segunda e menos conhecida versão do romance "O Amante de Lady Chatterley", do inglês D. H. Lawrence, o longa prima pela leveza, sem cair numa abordagem rasa.

A diretora francesa reencontra o frescor do livro publicado na década de 1920, que chegou a sofrer um processo por obscenidade. Na Inglaterra, só foi liberado na década de 1960. Até então, só era encontrado ilegalmente.

Diferente da versão mais popular do romance de Lawrence, aqui o foco se fecha na personagem central - tanto que no título do filme nem há a palavra "amante". Constance (Marina Hands, de "As Invasões Bárbaras") é uma jovem aristocrata casada com um marido inválido (Hippolyte Girardot, de "Paris, Te Amo"), que lhe dá pouca atenção e prefere cuidar de seus negócios com mineração.

Durante um passeio por sua propriedade, Lady Chatterley conhece o novo guarda de caça da propriedade, Parkin (Jean-Louis Coulloc'h). Se no princípio há uma estranheza entre os dois, deixando as distinções sociais prevalecerem, com o tempo o relacionamento se transforma em amizade e, posteriormente, num romance.

Longe de limitar-se ao seu aspecto erótico, esse envolvimento tem um papel fundamental para que os dois personagens definam suas próprias identidades. Nesse sentido, "Lady Chatterley" é abertamente feminista, ao trazer ao centro o ponto de vista e as sensações de Constance.

Das seis adaptações do livro para o cinema e televisão, aliás, esta é a única até agora dirigida por uma mulher - o que faz uma grande diferença na compreensão da protagonista. "Lady Chatterley" lida francamente com o despertar sexual da personagem, pelas mãos de Parkin.

A diretora mostra com clareza e sutileza como a atração sexual muda a percepção que Constance e Parkin têm do mundo e de si mesmos. Se os personagens nem sempre conseguem encontrar palavras para explicar sua experiência, a diretora traduz isso em imagens. Cenas da natureza, flores em especial, têm um significado importante nas descobertas dos amantes.

Ao adaptar o romance de Lawrence, Pascale redescobre a obra literária, restaurando uma vitalidade que se perdera com o tempo. O longa ganhou cinco prêmios César na França em 2006 - melhor filme, roteiro, fotografia, figurino e atriz.

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