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Larry (Stuhlbarg) vai ao médico: sucessão de desastres vai da mulher que pede o divórcio ao aluno que tenta suborná-lo | Divulgação
Larry (Stuhlbarg) vai ao médico: sucessão de desastres vai da mulher que pede o divórcio ao aluno que tenta suborná-lo| Foto: Divulgação

Filmografia

Confira alguns dos principais filmes de Joel e Ethan Coen:

Um Homem Sério (2009)

Queime Depois de Ler (2008)

Onde os Fracos Não Têm Vez (2007)

Matadores de Velhinhas (2004)

O Homem Que Não Estava Lá (2001)

E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (2000)

O Grande Lebowski (1998)

Fargo (1996)

A Roda da Fortuna (1994)

Barton Fink – Delírios de Hollywood (1991)

Ajuste Final (1990)

Arizona Nunca Mais (1987)

Gosto de Sangue (1994)

Larry Gopnik procura ser um homem sério. Correto no trabalho, dedicado à família, religioso e respeitoso, ele quer ser uma pessoa boa. Mas uma série de acontecimentos torna essa tarefa quase impossível. Se pouca desgraça é bobagem, Um Homem Sério tem de ser respeitado pela profusão de tragédias que o protagonista experimenta.

O novo filme dos irmãos Joel e Ethan Coen, vencedores do Oscar por Onde os Fracos Não Têm Vez, representa um movimento ousado e nada previsível. No lugar de usar o poder de fogo conquistado com o prêmio da Academia, os dois resolveram voltar às origens e rodar um filme sem atores conhecidos, num universo muito pessoal e com a atmosfera típica de produções antigas como A Roda da Fortuna e Arizona Nunca Mais, quando eram referências do cinema independente.

O resultado é tão bizarro que Um Homem Sério ganha versão em DVD sem passar pelos cinemas. É um caso raro (único?) de diretores que saem do Oscar para realizar um filme pessoal sem a preocupação de agradar crítica ou público. De família judaica – embora nada ortodoxos –, os Coen pela primeira vez falam sobre o que é crescer numa comunidade de judeus.

Explico o bizarro. Além de não ter nomes reconhecíveis – Michael Stuhlbarg, o protagonista, veio de papéis secundários em séries de tevê –, o filme não tem clímax nem desfecho. É uma sucessão de desastres cujo objetivo único parece ser testar o caráter de Larry.

A história funciona como uma versão judaica e cinematográfica para o "Livro de Jó", em que este sofre o diabo para provar sua fé em Deus. Larry, por sua vez, fica perplexo com os fatos, mas não desanima. A mulher anuncia que quer se separar e conta que se tornou "muito próxima" de um viúvo, Sy Ableman. Na escola em que leciona Física, um aluno sul-coreano tenta suborná-lo para melhorar uma nota ruim que pode significar o fim de sua bolsa de estudos. O caso ganha complicações quando Larry pensa em denunciar o aluno, fazendo o pai do garoto ameaçá-lo.

A filha adolescente de Larry passa o tempo todo preocupada com o cabelo e o maior drama de sua vida é não poder lavá-lo quando precisa – porque o tio Arthur, irmão de Larry, fica o dia inteiro trancado no banheiro. Arthur vive um momento difícil, sofre de um problema de saúde que o obriga a drenar pus de um ponto na nuca e conta com a bondade do irmão até encontrar um lugar para morar e concluir um projeto de matemática que se propôs a fazer.

O filho de Larry, também adolescente, morre de tédio nas aulas de iídiche e procura se entreter com o que parece ser uma versão arcaica do walkman (a ação do filme se passa nos anos 60), ouvindo "Somebody to Love", da banda Jefferson Airplane. A música é responsável por uma das melhores piadas de Um Homem Sério, envolvendo o rabino mais importante da região. É também ela que toca no desfecho da história, servindo de fundo para a imagem impressionante de um tornado que só pode indicar uma coisa: depois de 100 minutos de problemas, as coisas ainda podem piorar.

Larry procura encarar os reveses com espírito esportivo e segue as orientações que recebe. Precisando de ajuda, procura rabinos e advogados, que não têm nada a acrescentar para a situação. Pelo contrário. Cada vez que tenta esclarecer as coisas, que procura sabedoria de qualquer forma, Larry parece ficar mais e mais frustrado.

As situações são engraçadas de uma maneira característica dos irmãos Coen. Há personagens estranhos que falam de modo esquisito e têm nomes ridículos. Há também muitas situações absurdas. A questão é que o humor disfarça um sentimento de desespero – exatamente como nos filmes anteriores da dupla. É o que gostam de chamar por aí de "comédia de erros". É o desespero de quem se vê impotente diante de uma situação terrível. Não é fácil rir disso, mas os Coen conseguem. GGG

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