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É feriado e Flávia Alessandra vai passar o dia em casa, com a família. A filha, Giulia, de 7 anos - de seu casamento com Marcos Paulo -, está colando figurinhas num álbum que elas acabam de comprar na banca de jornais ali perto. Flávia aparece na sala sem maquiagem, oferece um cafezinho, uma água. O marido, Otaviano Costa, surge para se despedir, está de saída para uma pelada. A figura morena, com corpo bem-feito e jeito simples, poderia ser uma pacata dona-de-casa igual a tantas.

Mas em "Duas caras" - maior audiência da TV no momento -, Flávia é Alzira, também uma dona-de-casa padrão, mas que se apresenta dançando nua numa espécie de vida dupla. Aos poucos, dá para perceber a presença da personagem também na casa de Flávia. Num canto, onde a família cultiva orquídeas, há um "queijo" cenográfico. É lá que a atriz treina três horas por dia para entrar em cena dançando só de tapa-sexo. Ela não tem medo do desafio. Aliás, aparecer seminua foi sugestão sua. Além da força nos braços indispensável para as coreografias da pole dance, ela precisa cultivar a expressão triste de sua personagem. "Ainda não mostrei os dentes e, para isso, tenho que me conter". Os dentes, pode até ser. Já as garras...

Como é fazer uma personagem que, na verdade, se desdobra em duas?

No início, sentia que ainda não conhecia a Alzira. Demorei a construí-la. Fiz novelas do Aguinaldo (Silva) numa época em que ele embarcava naquele caminho do realismo mágico. Em "A indomada" tive meu primeiro papel importante. A Alzira é muito realista, demorei um pouco para entendê-la. Quando fui convidada, me foi dito que ela era uma mulher de vida dupla, quase com duas personalidades. Mas, aos poucos, fui achando que não é nada disso. Quem tem dupla personalidade possui um mecanismo de desligamento, de revezamento de comportamentos e de falta de consciência do que se passa quando está "tomado" por esta ou outra personalidade. Alzira não é assim. Ela tem pleno domínio de suas duas vidas e transita entre as duas com consciência.

Você está dizendo que ela é, de alguma maneira, uma mulher resolvida?

Ela é muito triste. O figurino da Alzira é todo em tons escuros, cinza, marrom. Até agora não mostrei os dentes em cena. E isso para mim, que sou risonha, significa um enorme esforço. Mas ela não leva a vida de dançarina por obrigação. Ela gosta. Rola um encanto, uma fantasia. Ela procura ali algo que a faz sentir completa. Mas tem também uma coisa das mulheres conformadas, que acham que a vida delas é assim porque "o destino quis". Mesmo assim, não acredito que ela vá ficar com aquele marido, com quem vive por compaixão.

Como você se sente com a perspectiva de ela ter um caso homossexual?

Uma dançarina da uisqueria se apaixonará pela Alzira, mas não acho que será correspondida. Não acredito que essa trama vá longe. Se for, serei surpreendida.

Mas você teria alguma reserva em fazer cenas de homossexualismo?

De jeito nenhum. Acho ótimo, polêmico, vamos discutir, pôr em questão.

E ficar nua em cena, é complicado?

Quando estávamos criando a personagem, conversava muito com a Emília (Duncan, figurinista). Ela me mostrou shortinhos mínimos, para usar tipo enfiados na bunda. Eu disse que aquela não era a realidade da favela. As moças dançariam peladas. E falei: "Vamos encarar!" Nunca faria isso se não fosse sério. Daí os tapa-sexos que eu uso, todos bordados, alguns com cristais Swarovski. Mas tampando um mínimo.

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