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O escândalo causado por Esta É a Verdadeira História do Paraíso (1963) rendeu a Millôr o seu desligamento de O Cruzeiro | Reprodução
O escândalo causado por Esta É a Verdadeira História do Paraíso (1963) rendeu a Millôr o seu desligamento de O Cruzeiro| Foto: Reprodução

Biográficas

Erro na certidão e infância triste. Confira algumas curiosidades sobre a vida de Millôr Fernandes:

• Nome

Nascido Milton Fernandes, o escritor carioca mudou de nome ao descobrir, na adolescência, que em sua certidão de nascimento, por conta de um erro de caligrafia do escrivão, seu nome parecia ser "Millôr".

• Infância triste

Millôr perdeu o pai em 1925, com um ano, e a mãe, aos dez. Já na adolescência, por intermédio de um tio, gráfico de O Cruzeiro, começou a trabalhar na revista em 1938, fazendo de tudo um pouco.

• O Cruzeiro

Em 1945, com um empurrãozinho do amigo Frederico Chateaubriand, sobrinho do magnata da imprensa Assis Chateaubriand, fez sua estreia em O Cruzeiro, na seção semanal O Pif-Paf, sob o pseudônimo Vão Gogo, com o qual assinou o livro Tempo e Contratempo (1949), agora republicado pela Companhia das Letras.

• Censura

Millôr saiu dos Diários Associados, que publicava O Cruzeiro, por causa dos desenhos de A Verdadeira História do Paraíso, que, após publicados pela revista em outubro de 1963, provocaram de imediato tamanha indignação entre os católicos. A direção da revista fez uma retratação no número seguinte, acusando Millôr de quebra de confiança. A obra agora ganha nova edição pela Companhias das Letras.

  • Por si mesmo: Millôr Fernandes também costumava se autorretratar em seus desenhos

Millôr Fernandes é uma espécie de super-herói brasileiro, que a partir de hoje alça voo no principal evento literário do calendário cultural do país: ele é o autor homenageado pela edição deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece até o próximo domingo na cidade histórica do litoral fluminense.

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Dono de múltiplos talentos, desenvolvidos na prática, sem qualquer formação acadêmica, Millôr, que faleceu em 2012 e completaria 90 anos de 2014, fez de tudo um pouco – e com incrível desenvoltura: crônicas, poemas, desenhos, peças de teatro, traduções, aforismos e fábulas. Mas o autor fazia questão de dizer que, acima de tudo, era um jornalista, um homem da imprensa, já que grande parte desses trabalhos foi publicada em revistas e jornais brasileiros, como O Cruzeiro, O Estado de S. Paulo, Veja, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e O Pasquim .

Ao longo da Flip, Millôr será tema de mesas na tenda principal, inclusive na abertura do evento, hoje à noite, na qual o cartunista Jaguar, um dos fundadores do jornal O Pasquim, será entrevistado pelos millôrmaníacos Reinaldo e Hubert, integrantes do grupo Casseta & Planeta. Também haverá exposições e debates na programação paralela.

Livros

Simultaneamente à Flip, estão chegando às livrarias de todo o país reedições de algumas das obras mais importantes de Millôr, além de compilações e traduções. A Companhia das Letras acaba de relançar quatro títulos, alguns esgotados há décadas: Tempo e Contratempo (1949), Essa Cara Não Me é Estranha e Outros Poemas (originalmente publicado como Papaverum Millôr, em 1967), The Cow Went to the Swamp ou A Vaca Foi pro Brejo (best-seller quando lançada, em 1988) e Esta É a Verdadeira História do Paraíso (que lhe custou sua saída de O Cruzeiro, quando foi publicada na revista, em 1963). Na nova edição deste último, há um apêndice com versões da história de adão e Eva assinadas por 18 cartunistas, entre eles Allan sieber, Angeli e Luli Penna, única mulher do time.

Em entrevista à Gazeta do Povo, a editora Vanessa Ferrari, responsável pelas quatro obras republicadas pela Companhia das Letras, contou que a editora se interessou pelos livros antes de a curadoria da Flip escolher Millôr como o autor homenageado desta edição "Foi uma coincidência feliz", comentou, dizendo apostar no potencial dessas obras junto ao público que já conhece, e admira, o autor carioca, mas também junto aos jovens. Há nos livros, segundo ela, atemporalidade, frescor e inteligência, capazes de fazê-los dialogar com vários tipos de leitores.

Máximas

O Instituto Moreira Salles (IMS), que hoje abriga, em regime de comodato, o acervo gráfico do autor, com cerca de 9 mil itens, vai lançar amanhã na Flip Millôr 100 + 100: Desenhos e Frases, com cartuns escolhidos por Cássio Loredano e máximas selecionadas pelo jornalista Sérgio Augusto. Na sexta-feira, às 10 horas, os dois e o cartunista Claudius, que também foi ilustrador de O Pasquim, participam da mesa "O Guru do Méier". Além disso, a Casa do IMS, em Paraty, terá uma exposição inspirada no livro e a instituição prepara para 2015 uma retrospectiva da obra visual de Millôr, com mais de 300 trabalhos.

O cartunista Cássio Lore­­dano, que é consultor do Acervo Millôr Fernandes no IMS e organizador da parte visual do livro, contou à reportagem que o livro Millôr 100 + 100 faz uma aproximação de frases e desenhos criados em separado. Por vezes, há anos de distância entre os momentos criação.

Loredano diz que o ponto de partida foram as frases, escolhidas por Sérgio Augusto entre mais de 15 mil, já para uma edição dedicada a Millôr dentro da coleção Cadernos de Literatura Brasileira, do IMS, em 2003. "Para cada uma, selecionei entre e dois ou três desenhos com os quais dialogavam, mas não de maneira óbvia", diz Loredano, para quem na obra gráfica de Millôr, "que ele levava menos a sério do que seus escritos", há influências do cartunista norte-americano (nascido na Moldávia) Saul Steinberg (1914-1999) e do gravador e artista gráfico francês André François.

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