Biográficas
Erro na certidão e infância triste. Confira algumas curiosidades sobre a vida de Millôr Fernandes:
Nome
Nascido Milton Fernandes, o escritor carioca mudou de nome ao descobrir, na adolescência, que em sua certidão de nascimento, por conta de um erro de caligrafia do escrivão, seu nome parecia ser "Millôr".
Infância triste
Millôr perdeu o pai em 1925, com um ano, e a mãe, aos dez. Já na adolescência, por intermédio de um tio, gráfico de O Cruzeiro, começou a trabalhar na revista em 1938, fazendo de tudo um pouco.
O Cruzeiro
Em 1945, com um empurrãozinho do amigo Frederico Chateaubriand, sobrinho do magnata da imprensa Assis Chateaubriand, fez sua estreia em O Cruzeiro, na seção semanal O Pif-Paf, sob o pseudônimo Vão Gogo, com o qual assinou o livro Tempo e Contratempo (1949), agora republicado pela Companhia das Letras.
Censura
Millôr saiu dos Diários Associados, que publicava O Cruzeiro, por causa dos desenhos de A Verdadeira História do Paraíso, que, após publicados pela revista em outubro de 1963, provocaram de imediato tamanha indignação entre os católicos. A direção da revista fez uma retratação no número seguinte, acusando Millôr de quebra de confiança. A obra agora ganha nova edição pela Companhias das Letras.
Millôr Fernandes é uma espécie de super-herói brasileiro, que a partir de hoje alça voo no principal evento literário do calendário cultural do país: ele é o autor homenageado pela edição deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece até o próximo domingo na cidade histórica do litoral fluminense.
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Dono de múltiplos talentos, desenvolvidos na prática, sem qualquer formação acadêmica, Millôr, que faleceu em 2012 e completaria 90 anos de 2014, fez de tudo um pouco e com incrível desenvoltura: crônicas, poemas, desenhos, peças de teatro, traduções, aforismos e fábulas. Mas o autor fazia questão de dizer que, acima de tudo, era um jornalista, um homem da imprensa, já que grande parte desses trabalhos foi publicada em revistas e jornais brasileiros, como O Cruzeiro, O Estado de S. Paulo, Veja, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e O Pasquim .
Ao longo da Flip, Millôr será tema de mesas na tenda principal, inclusive na abertura do evento, hoje à noite, na qual o cartunista Jaguar, um dos fundadores do jornal O Pasquim, será entrevistado pelos millôrmaníacos Reinaldo e Hubert, integrantes do grupo Casseta & Planeta. Também haverá exposições e debates na programação paralela.
Livros
Simultaneamente à Flip, estão chegando às livrarias de todo o país reedições de algumas das obras mais importantes de Millôr, além de compilações e traduções. A Companhia das Letras acaba de relançar quatro títulos, alguns esgotados há décadas: Tempo e Contratempo (1949), Essa Cara Não Me é Estranha e Outros Poemas (originalmente publicado como Papaverum Millôr, em 1967), The Cow Went to the Swamp ou A Vaca Foi pro Brejo (best-seller quando lançada, em 1988) e Esta É a Verdadeira História do Paraíso (que lhe custou sua saída de O Cruzeiro, quando foi publicada na revista, em 1963). Na nova edição deste último, há um apêndice com versões da história de adão e Eva assinadas por 18 cartunistas, entre eles Allan sieber, Angeli e Luli Penna, única mulher do time.
Em entrevista à Gazeta do Povo, a editora Vanessa Ferrari, responsável pelas quatro obras republicadas pela Companhia das Letras, contou que a editora se interessou pelos livros antes de a curadoria da Flip escolher Millôr como o autor homenageado desta edição "Foi uma coincidência feliz", comentou, dizendo apostar no potencial dessas obras junto ao público que já conhece, e admira, o autor carioca, mas também junto aos jovens. Há nos livros, segundo ela, atemporalidade, frescor e inteligência, capazes de fazê-los dialogar com vários tipos de leitores.
Máximas
O Instituto Moreira Salles (IMS), que hoje abriga, em regime de comodato, o acervo gráfico do autor, com cerca de 9 mil itens, vai lançar amanhã na Flip Millôr 100 + 100: Desenhos e Frases, com cartuns escolhidos por Cássio Loredano e máximas selecionadas pelo jornalista Sérgio Augusto. Na sexta-feira, às 10 horas, os dois e o cartunista Claudius, que também foi ilustrador de O Pasquim, participam da mesa "O Guru do Méier". Além disso, a Casa do IMS, em Paraty, terá uma exposição inspirada no livro e a instituição prepara para 2015 uma retrospectiva da obra visual de Millôr, com mais de 300 trabalhos.
O cartunista Cássio Loredano, que é consultor do Acervo Millôr Fernandes no IMS e organizador da parte visual do livro, contou à reportagem que o livro Millôr 100 + 100 faz uma aproximação de frases e desenhos criados em separado. Por vezes, há anos de distância entre os momentos criação.
Loredano diz que o ponto de partida foram as frases, escolhidas por Sérgio Augusto entre mais de 15 mil, já para uma edição dedicada a Millôr dentro da coleção Cadernos de Literatura Brasileira, do IMS, em 2003. "Para cada uma, selecionei entre e dois ou três desenhos com os quais dialogavam, mas não de maneira óbvia", diz Loredano, para quem na obra gráfica de Millôr, "que ele levava menos a sério do que seus escritos", há influências do cartunista norte-americano (nascido na Moldávia) Saul Steinberg (1914-1999) e do gravador e artista gráfico francês André François.
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