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Miguel Conde, novo curador da Flip: em busca de outros olhares | Simone Marinho/Agência O Globo
Miguel Conde, novo curador da Flip: em busca de outros olhares| Foto: Simone Marinho/Agência O Globo

A décima edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa na próxima quarta-feira, dia 4, na cidade histórica do litoral fluminense, tem uma meta que poderá dar muito pano para manga.

Em entrevista concedida à Gazeta do Povo, por telefone, Miguel Conde, o novo curador do evento, hoje um dos mais importantes no calendário das letras mundiais, disse que a proposta neste ano é colocar em questão um conceito, já um tanto desgastado, porém talvez ainda em vigor, de que a literatura atual seria por demais voltada para si mesma, perdendo de vista questões mais fundamentais do seu próprio tempo.

"Para muitos, o maior pecado da Flip seria o de ser literária demais", disse Conde, que foi editor-assistente do caderno "Prosa & Verso" do jornal O Globo e cobriu, como repórter, várias edições do evento. Até o ano passado, quem respondia pela curadoria era o crítico literário Manuel da Costa Pinto.

No intuito de desfazer essa imagem de uma literatura que se retroalimenta, alheia a questões contemporâneas, meio afastada do mundo que a cerca, Conde diz que houve um esforço por parte da curadoria de convidar escritores que tivessem um diálogo mais intenso com o tempo presente.

"O que se percebe nos livros de muitos deles é que o ímpeto criativo se combina a um esforço de pensamento sobre o mundo, que inclui com frequência uma aproximação da ficção ou da poesia de outros tipos de discurso, como o histórico ou o autobiográfico. Mesmo aqueles que tematizam reiteradamente a própria escrita, e mobilizam em suas narrativas sobretudo um imaginário da vida entre os livros, não fazem isso para determinar algo como uma essência do literário", afirma.

Se, por um lado, a Flip 2012 se abre para o ensaísmo de forte teor metalinguístico, que fala do próprio mundo dos livros, presente nas obras de ficção do espanhol Enrique Vila-Matas (confira os principais lançamentos da Flip na página 3), que participa na próxima sexta-feira, ao lado do chileno Alejandro Zambra (de Bonsai) da mesa "Apenas Literatura", a festa também recebe o nigeriano radicado nos Estados Unidos Taju Cole.

O autor de Cidade Aberta, cuja obra discute imigração e desenraizamento, está escalado para a discussão "Exílio e Flanêrie", com Paloma Vidal, argentina que vive no Rio de Janeiro, que também acontece na sexta-feira.

Conde rejeita a ideia de que a décima edição da Flip vá ser um reflexo de seus gostos e preferências pessoais, ou dos de sua equipe, até porque o evento sempre busca trazer a Paraty escritores que estejam em evidência no mundo da literatura, que tenham ressonância tanto junto à crítica quanto ao publico. Mas o curador confessa que, entre os convidados deste ano, há alguns de seus favoritos, como o inglês Ian McEwan, autor de Reparação e Na Praia, e que, além de participar, no sábado, da mesa "Pelos Olhos do Outro", ao lado da norte-americana Jennifer Egan (do premiado A Visita Cruel do Tempo), faz no Brasil o lançamento mundial de seu novo romance, Serena.

Brasileiros

Para Conde, escalar nomes da literatura nacional não apresenta dificuldades específicas. "Ser convidado para participar da Flip possa ser algo mais importante para um escritor brasileiro do que para um autor de outro país. O que, certamente, aumenta a responsabilidade da curadoria na hora de fazer suas opções."

"A atenção recebida pela Flip é algo de fora do comum, quando se pensa em outros festivais literários internacionais ou mesmo na importância atribuída à literatura em nosso país. Isso pode ter um efeito positivo de valorização da escrita e da leitura, mas também pode produzir uma expectativa desmedida em torno dos convites que são feitos", diz Conde, que, neste ano, fez questão de convidar, por exemplo, João Anzanello Carrascoza.

Natural da cidade de Cravinhos, no interior do estado de São Paulo, ele que está na mesa "Em Família", que acontece no sábado, ao lado do escritor e jornalista Zuenir Ventura e da portuguesa Dulce Maria Cardoso. O autor de Amores Mínimos (2011) e Espinhos e Alfinetes (2010), é, nas palavras de Conde, um escritor que retrata a vida de uma certa classe média interiorana geralmente ignorada pela ficção brasileira. Ao falar de família e amizade, ele se dedica a criar histórias que parecem querer recuperar do esquecimento um conjunto variado de experiências cotidianas às quais usualmente não se dá atenção. E isso o faz um criador especial e único, digno de estar na Flip.

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