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Clarissa Oliveira interpreta ao mesmo tempo a ficcional Florrie e 15 assassinas analisadas pela escritora Shelley Klein | Fotos: Leco de Sousa/Divulgação
Clarissa Oliveira interpreta ao mesmo tempo a ficcional Florrie e 15 assassinas analisadas pela escritora Shelley Klein| Foto: Fotos: Leco de Sousa/Divulgação

Serviço

- Florrie, a Importância Extrema.

- Teatro Novelas Curitibanas (Rua Carlos Cavalcanti, 1.222 – São Francisco), (41) 3321-3358.

- De quinta a domingo, às 20 horas.

- Entrada franca.

- Até 18 de dezembro.

- Sujeito a lotação.

Depois de enveredar por linguagens como a performance e os happenings e flertar com as artes visuais, a Cia. Silenciosa estreia hoje um espetáculo propriamente dito, entre as quatro paredes do Teatro Novelas Curitibanas. O local não torna o coletivo mais comportado – até porque, por trás da ousadia iconoclasta, existe uma mensagem contínua, como se ela encenasse uma mesma peça há anos (Veja o serviço completo do espetáculo no Guia Gazeta do Povo).

Florrie, a Importância Extrema aborda comportamentos estranhos de pessoas esquisitas, fruto de uma pesquisa da diretora Léo Glück baseada no livro As Mulheres Mais Perversas da História, de Shelley Klein.

São 15 casos, como o da britânica Myra Hindley, que ajudou um homem a matar cinco crianças de quem ele também abusou, na década de 1960; ou Elena, a esposa de Nicolae Ceausescu, ditador comunista da Romênia por mais de 20 anos (até 1989). Do Leste Europeu para a China, a imperatriz Tsi-hi também traz suas maldades para o palco.

Em cerca de uma hora, a atriz Clarissa Oliveira entra na pele de cada uma dessas personagens reais, envolvidas com o molho da narrativa ficcional, de forma a borrar os contornos que dividem uma da outra. Sem aviso, ela passa das criminosas verdadeiras para Florrie, personagem que reúne um pouco de cada uma delas.

A cada relato, o espectador se pergunta o quanto daquela loucura poderia ser verdade. "Estamos no caminho entre realidade e ficção. Nos interessa a poesia, que é o que possibilita fazer teatro disso", contou à Gazeta do Povo a diretora, que define este trabalho como um "documentário cênico".

Incômodo

Pode ser incômodo ouvir uma sequência de crimes detalhados, mas a Silenciosa pretende apontar que, quando uma mulher comete um assassinato, ela é tratada de maneira muito pior que um criminoso homem. Isso fica bem claro na abordagem da história de Aileen Wuornos, a assassina de sete homens vivida por Charlize Theron no filme Monster, ou nos relatos de mães que envenenaram ou asfixiaram diversos de seus bebês.

A pesquisa sobre gênero e sexualidade tem sido a principal veia da Silenciosa há alguns anos, e esta, sobre a perversão feminina, foi feita nos últimos dois, com a leitura de autoras como Simone de Beauvoir e Judith Butler, que são, respectivamente uma das fundadoras e uma das reinventoras do feminismo.

"As vilãs sempre nos chamaram mais atenção do que as mocinhas, para mim e a Clarissa", conta Léo. É claro que, saindo do mundo das novelas e encontrando essas mulheres na vida real, tudo fica mais triste. Clarissa salienta que "não é o foco defender crimes nem vilanizar essas mulheres, e sim gerar perguntas entre o público".

Entre os pontos fortes do espetáculo, a trilha sonora executada ao vivo por Jo Mistinguett e a criativa direção de vídeos de Alessandra Haro – em consonância com o segundo tema preferido da companhia, que é a tecnologia e suas consequências.

Há provocações, como momentos em que o público é filmado e tem sua imagem projetada, ou quando a atriz se aproxima bastante da plateia – mas nada que faça alguém decidir nunca mais ir ao teatro.

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