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Francis Hime dedicou álbum duplo a parcerias recentes e a composições feitas para o cinema | Leo Aversa/ Divulgação
Francis Hime dedicou álbum duplo a parcerias recentes e a composições feitas para o cinema| Foto: Leo Aversa/ Divulgação

Opinião

Aniversário em grande estilo

Paulo Camargo, editor do Caderno G

Francis Hime é herdeiro direto de Heitor Villa-Lobos, que aproximou a música erudita da popular, e de Tom Jobim, que trilhou, de certa maneira, o caminho inverso. Ambos são compositores que ajudaram a construir a identidade cultural brasileira. E geraram descendentes como Francis e Chico Buarque.

Em O Tempo das Palavras... Imagem, o carioca comemora seu septuagésimo aniversário em grande estilo. No primeiro CD, dedicado a canções, ele não revira seu baú. Inquieto, inaugura um novo com composições afiadas, com destaque para a belíssima "Existe um Céu", coescrita pelo poeta Geraldo Carneiro. A letra, emoldurada com perfeição pela tocante melodia de Francis, diz: "Existe um céu onde moram as amadas/ Que o coração desinventou/ Um lugar onde vagueiam palavras de amor/ Restos de sol e solidão".

O segundo disco, de temas compostos para o cinema, tem versões instrumentais de composições antológicas como "Passaredo", "A Noive da Cidade" e uma suíte composta para o filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, da qual faz parte a canção "O Que Será?", cuja melodia surge diluída em várias faixas, todas tocadas por Francis ao piano.

Enquanto trilha sonora, o compositor tem razão: os temas criados para Lição de Amor, menos dependentes do formato canção, são primorosos em seu lirismo contido, intimista, sob medida para a sensualidade modesta, mas não menos intensa, narrada pela história criada por Mário de Andrade. GGGG1/2

Não deu tempo para esperar o resultado em casa. Quando soube que o Rio de Janeiro havia sido escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o cantor e compositor Francis Hime estava num táxi na Lagoa Rodrigo de Freitas, a caminho aeroporto, de onde voaria para São Paulo. "O rádio estava ligado e, quando o anúncio foi feito, comecei a chorar."

Para Francis, que comemorou 70 anos em agosto passado, a no­­tícia foi o melhor presente que poderia desejar, ainda que tenha vindo com atraso de alguns meses. "A Olimpíada vai trazer mu­­danças profundas para a cidade, para o país, e só podemos ficar felizes com isso."

Embora não seja exatamente um atleta – a não ser que dedilhar as teclas de seu piano se torne um dia uma modalidade es­­por­­tiva –, Francis se preocupa com a forma física, com a saúde. Caminha à beira-mar, faz ginástica, tenta, enfim, manter a forma. Para seguir saudável e dedicado à música, que, ao lado da mulher, a cantora Olívia Hime, é sua maior companheira. Ele conta que está o tempo todo tocando, arranjando, compondo.

Portanto, faz muito sentido que, para celebrar sete décadas de existência, Francis tenha lançado um álbum "turbinado". Compos­to por dois CDs, O Tempo das Pa­­lavras... Imagem, lançado pela gravadora Biscoito Fino (dirigida por Olívia), o disco é bastante ambicioso em seu conceito.

O primeiro CD, quase todo dedicado a composições inéditas, celebra a palavra, o casamento em forma de canções entre melodia e letras. Maestro, com formação tanto erudita quanto popular, Francis sempre teve parceiros fa­­bulosos. Entre os mais ilustres, Chico Buarque, com quem compôs clássicos do naipe de "Tro­­cando em Miúdos" e "Atrás da Por­­ta"; e Vinicius de Moares, autor das letras de "Sem Mais Adeus" e "Anoi­­teceu", só para citar duas.

No CD O Tempo da Palavra, Francis reafirma a fortaleza de seus laços criativos com seu parceiro atual mais constante, o poeta Geraldo Carneiro: das 12 faixas do disco, seis são frutos dessa união estável. Mas também há es­­paço para outros flertes criativos. O mais recente, e festejado, é com a cantora e compositora Joyce (Mo­­reno), amiga de longa data, que coassina "Adrenalina" e "Rá­­dio Cabeça". Olívia Hime, com­­pa­­nheira também no âmbito cri­­ativo, divide os créditos de "Ma­­ré". O repertório inclui, ainda, mú­­­­sicas escritas a quatro mãos com Edu Lobo ("O Sim pelo Não"), Paulinho Pinheiro ("Pra Baden e Vinicius") e Paulinho Moska ("Há Controvérsias").

Sobre o ofício de compor, Francis conta que não regras ortodoxas que normatizem seu processo criativo. Com alguns parceiros, como Joyce, ele trabalha da seguinte forma: envia a ela melodias já prontas, que ganham letras adequadas a seus acordes. Já o trabalho com Geraldo Car­­neiro é diverso. Francis cria a partir de poemas finalizados.

Tela grande

O segundo disco do álbum duplo comemorativo aos 70 anos de Francis vai na direção oposta do primeiro. Dedica-se inteiramente à música instrumental feitas a partir de imagens. A trilhas sonoras escritas ao longo de quatro décadas de carreira para filmes do cinema nacional.

Foram muitas e Francis hesita quando indagado sobre qual mais lhe agrada. "São como fi­­lhos, não há prediletas". Mas, após pensar por algumas dezenas de segundos, confessa ter enorme apreço pela trilha criada para Lição de Amor (1975), filme de Eduardo Escorel baseado no romance Amar, Verbo Intransitivo, do modernista Mario de An­­dra­­de. Estrelado por Lilian Lem­­mer­tz (1937-1986), o longa conta a história de uma governanta de origem alemã, contratada por um homem rico para iniciar o filho adolescente nas artes da alcova. "Escorel é um craque. Fez um filme belíssimo e acho que música e imagem se unem à perfeição na tela."

Serviço

O Tempo das Palavras... Imagem, Francis Hime. álbum duplo. Biscoito Fino. Preço médio: R$ 44,90.

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