• Carregando...
 |
| Foto:

Livro - Ressurreição (foto ao lado)

Liev Tolstói. Tradução de Rubens Figueiredo. Cosac Naify, 432 págs., R$ 79. Romance.

Desde que o tradutor Rubens Figueiredo desencavou no seu escritório os cadernos de russo da época em que fazia a Universidade de São Paulo (USP), a fim de retomar os estudos da língua, os leitores brasileiros têm recebido traduções diretas e cuidadosas de clássicos indesviáveis.

Depois de verter ao português Anna Kariênina – sugerindo, inclusive, uma nova forma de grafar o sobrenome da personagem-título, mais próxima da pronúncia usada no idioma original –, Figueiredo se dispôs a trabalhar com Ressur­­reição, que sai agora pela Cosac Naify numa bela edição em capa dura. Hoje, ele trabalha em Guerra e Paz, talvez o livro mais conhecido de Tolstói (1828-1910), muito por sua extensão – uma das edições brasileiras, feita em dois volumes, tem mais de mil páginas. Embora sejam independentes, as três obras formam uma tríade dos trabalhos considerados os mais importantes do autor, morto há um século.

O ponto de partida de Ressurreição foi um caso narrado a Tolstói pelo jurista Anton Koni. Este contou o episódio real de um príncipe que, durante o julgamento para o qual havia sido convocado a integrar o júri, reconheceu na ré uma criada com quem teve um caso (e um filho) anos antes. O relato teria tocado Tolstói por um motivo íntimo: ele próprio teve um caso com uma criada anos antes. (IBN)

CD - Total Life Forever (foto 1)

Foals. Sub Pop, preço médio: US$ 14 (importado). Indie rock.

Criado há pouco mais de cinco anos, o quinteto inglês Foals, de Oxford, causou certo burburinho em 2008, quando lançou seu álbum de estreia, Antidotes. Com canções construídas a partir de elementos dance-punk, milimetricamente alternados a cada faixa, a banda embalou pistas de dança, mas foi criticada por não conseguir causar conexão emocional nenhuma. As músicas eram instantâneas em excesso.

No sucessor, o recém-lançado Total Life Forever, a banda segue o caminho inverso e parece entregue às possibilidades de sua própria sonoridade. De abertura longa, a faixa inicial, "Blue Blood", indica al­­go de mais maduro no frontman Yannis Philippaki, agora de voz mais contida e menos esganiçada. Na sequência, "Mia­­mi" traz ecos de Madchester, ouvidos ainda na canção que dá título ao disco. Melódica e dançante, "The Orient" é a mais previsível do trabalho e deve agradar fãs de Bloc Party, enquanto as texturas equilibradas de sintetizadores e guitarras são os fortes das ótimas "Black Gold" e "2 Trees". Mas o grande destaque fica por conta de "Spanish Sahara". De estrutura crescente, a abertura de quatro minutos desemboca em uma explosão de delicadeza de causar arrepios. Agora sim. (JG)

Livro infantil - Avô, Conta Outra Vez e Mamãe Bela, Mamãe Fera (foto 2)

José Jorge Letria e André Letria. Editora Peirópolis. 40 págs., R$ 40. Marta Lagarta e Sami e Bill. Editora Prumo. 24 págs., R$ 28,90.

O tema da brasileira Marta Lagarta são as mães. Do português José Jorge Letria, os avós. Os dois autores usam versos para retratar essas figuras importantes na vida das crianças. Em Mamãe Bela, Mamãe Fera, Marta se coloca no lugar da menininha que se pergunta por que "quando fica boazinha/minha mãe é uma gatinha./ Mas se briga e fica chata/ é leoa muito brava". Até que chega a uma conclusão: "Ora boa, ora ruim/ feito história encantada/ eu agora chego ao fim: mamãe é conto de fada!". As ilustrações e as colagens da du­­pla Sami e Bill tornam as páginas atraentes e ajudam a contar a história. Em Avô, Contra outra Vez, José Jorge fala como um avô apaixonado pelo seu neto: "Tens estrelas no olhar/e andorinha no sorriso/ e não te cansas de brincar/ com este avô sem juízo." Aqui, as ilustrações são elegantes e poéticas, e guardam o po­­tencial de cativar as crianças. São dois bons livros para serem lidos pelas próprias crianças ou pelos pais, para elas. Ambos são adequados para os pequenos e também para pré-adolescentes. (MS)

Livro - Um Vento me Leva: Lembranças de Jirges Ristum (foto 3)

Org. Ivan Negro Isola. Imprensa Oficial. 188 págs. R$ 100. Biografia.

Glauber Rocha gostava de dizer que o amigo Jirges Ristum era "o maior cineasta brasileiro não revelado". Uma leucemia levou o Turco, como era chamado, à morte aos 42 anos, em 1984. Antes que ele, ex-jornalista da Folha de S. Paulo, pudesse mostrar ao mundo a genialidade vislumbrada por diretores como Glauber, Bernardo Ber­­tolucci e Roberto Rosselini.

Ristum foi parar em Roma, em plena ditadura militar no Brasil, com a pretensão de estudar a obra do cientista político Antonio Gramsci. O que fez. Mas sua visita à Itália seria lembrada mesmo pela participação, como assistente de direção, nos filmes Anno Uno (1973-74), de Rosselini; La Luna (1978), de Bertolucci; e O Mistério de Oberwald, de Michelangelo Antonioni (1979).

A passagem por suas vidas dessa figura carismática e divertida, fisicamente um misto do ator José Lewgoy com o poeta Paulo Leminski, é lembrada por familiares, amigos e cineasta na caprichosa biografia organizada pelo produtor audiovisual Ivan Negro Isola. Ao longo das páginas, com textos fartamente ilustrados com fotografias, estão pequenos poemas anotados por Ristum em pedacinhos de papel nos momentos em que esperava sua musa nas mesas de bares de todo o mundo – e que em 1983 seriam publicados no livro Guardanapos. (AV)

Livro - 90 Livros Clássicos para Apressadinhos (foto 4)

Henrik Lange e Thomas Wengelewski. Tradução e adaptação de Ota. Galera Record, 192 págs., R$ 26,90. Quadrinhos.

O sueco Henrik Lange teve uma ideia bacana que executou com genialidade. Sem pretensões, ele resolveu brincar com dezenas de grandes clássicos da literatura mundial. Sua proposta: resumir os livros em apenas quatro quadrinhos, numa página (na verdade, três, se você considerar que o primeiro quadrinho leva o nome da história e do seu autor). Vale dizer que a obra deve ser evitada por quem tem planos de ler algum dos títulos resumidos por Lange, pois ele entrega os desfechos sem nenhum pudor.

Estão lá: Ulisses, Apanhador no Campo de Centeio, Em Busca do Tempo Perdido, Moby Dick e outras 86 histórias drasticamente resumidas – não sem senso de humor. O traço de Lange lembra um pouco o de Marjane Satrapi, autora de Persépolis. O sueco faz um bom uso do preto e branco e os personagens que desenha são meio toscos, cartunescos.

Uma das sacadas de Lange e Thomas Wengelewski, corroteirista da HQ, é não se limitar apenas à transcrição das histórias e inserir pequenos comentários nelas. Como em O Processo, de Franz Kafka, quando eles dizem, já na primeira cena, que "Josef K é preso no dia de seu aniversário, não temos certeza por quê. Nem ele". O livro é, enfim, uma piada. Das boas. Logo, a mesma editora publica 90 Filmes Clássicos para Apressadinhos, também de Lange. (IBN)

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]