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Livro 1Luís Antônio-GabrielaNelson Baskerville. NVersos, 244 págs. R$ 29. Memória.

O diretor Nelson Baskerville foi premiado neste ano com o Shell de melhor diretor, um dos troféus mais significativos da área teatral pelo espetáculo Luís Antônio-Gabriela, que foi apresentado na capital paranaense em abril, durante o Festival de Teatro de Curitiba. Os choros quase escondidos que aconteciam com os espectadores da peça também devem atingir o leitor da obra literária homônima, onde Nelson, assim como no espetáculo, escancara a sua infância pesada e as feridas familiares, sentimentos que, antes, pertenciam somente ao fundo da memória. O pai ficou viúvo – a mãe morreu no parto de Nelson –, mas se casou novamente. A presença do irmão Luís Antônio, que se assumiu homossexual e, mais tarde se travestiu como Gabriela, era perturbadora para Nelson e a família, já que o pai, por não aceitar, batia muito nos filhos, sobretudo em Luís. O relato do diretor comove tanto pela história em si quanto pela coragem em detalhar certas situações. O autor traz, ainda, algumas escolhas realizadas para a montagem da peça, como a seleção de atores, e as reações do público nas primeiras apresentações. Preste atenção: No projeto gráfico do livro, repleto de ilustrações e com algumas fotografias do espetáculo. O uso de fontes e tamanhos de letras variadas é outro ponto que chama a atenção, e não compromete a leitura.

CDMy Head is an Animal. Of Monsters and Men. Universal Music. R$ 27,90. Indie folk.

Como pode uma ilha vulcânica perdida no Atlântico Norte, com pouco mais de 100 mil quilômetros quadrados e 320 mil habitantes, exportar tanta música boa? Depois de Björk e Sigur Rós, a Islândia orgulhosamente apresenta seu mais novo talento: o sexteto de indie folk Of Monsters and Men. Formado em 2010, estourou no mundo inteiro com seu álbum de estreia, My Head is an Animal, lançado no Brasil neste segundo semestre. Formada por Nanna Bryndís Hilmarsdóttir (voz e guitarra), Ragnar "Raggi" Þórhallsson (voz e guitarra), Brynjar Leifsson (guitarra), Arnar Rósenkranz Hilmarsson (bateria), Árni Guðjónsson (piano e teclados) e Kristján Páll Kristjánsson (baixo), a banda teve uma carreira meteórica: em 2010 ganhou um concurso anual de bandas em seu país, e a partir de agosto deste ano já estava se apresentando em festivais no Canadá e nos Estados Unidos e fazendo turnês em países como Irlanda, Alemanha, Itália e Suécia. A propósito, já está confirmada no Lollapalooza do ano que vem, em São Paulo.

Por que ouvir? O disco inteiro é irretocável. A primeira audição remete a um folk entre o fofo e o épico, no estilo de Arcade Fire. As vozes doces de Nanna (que lembra Kate Nash) e Raggi (que emula Jason Mraz) casam perfeitamente com os arranjos grandiosos. Mas, se você quer uma referência ainda mais próxima, seria a banda californiana Edward Sharpe and the Magnetic Zeros. Ouça primeiro "Little Talks", "Dirty Paws", "Mountain Sound" e "King and Lionheart".

CD e DVDTerruá Pará. Vários artistas. Tratore (Distribuidora). De R$42,90 (CD ou DVD) a R$ 137,90 (box com quatro CDs e dois DVDs). Regional.

A rica cena musical do Pará, há pelo menos uma década um dos principais focos de interesse dos ouvidos curiosos por novas produções à margem do eixo Rio-São Paulo, ganhou uma coletânea representativa do que vem sendo produzido por lá.

Os CDs e DVDs do Terruá Pará trazem registros inéditos dos shows apresentados por artistas paraenses como Gaby Amarantos, Felipe Cordeiro, Lia Sophia e Dona Onete nas edições do festival realizadas em São Paulo, em 2006 e 2011. Cada show foi transformado em um CD e DVD duplo.

Por que ouvir?: Gaby Amarantos se tornou o nome mais famoso da ebulição paraense este ano, com direito a abertura de novela e disco elogiado na mídia especializada, mas é a ponta do iceberg. Os artistas do Pará vêm sendo saudados pela inventividade (ouça o tecnobrega e o eletromelody) e pela diversidade, que reflete a própria riqueza cultural da região (carimbó, boi-bumbá, lambada, guitarrada).

CD 2British Lion. Steve Harris. EMI Music. R$ 34,90. Rock.

A marcação precisa do baixo está lá. O peso musical que fizeram a fama do Iron Maiden, também. Mas Steve Harris, o fundador, baixista e principal compositor da Donzela de Ferro em seu primeiro trabalho solo, em certa medida, consegue se distanciar da marca registrada que ele ajudou a criar para o Iron.

British Lion traz 10 faixas conduzidas pelo bom vocal, mas talvez um pouco melódico para os fãs do Iron, de Richard Taylor. A bateria de Simon Dawson é precisa e mantém um andamento interessante, evitando o tradicional estilo cavalgada que Harris e o baterista Nicko McBrain imprimiram à cozinha do Iron Maiden. David Hawkins e Graham Leslie conduzem as guitarras.

Por que escutar?: Os destaques do disco são "Us Against the World", com sua abertura que lembra os bons tempos do Iron, mas depois ganha corpo e possui um refrão interessante, "The Chosen Ones", com ótimos riffs de guitarra, e nos sete minutos da bela "A World Without Heaven".

Livro 2Serena. Ian McEwan. Companhia das Letras. Tradução de Caetano Galindo. 384 págs. R$ 29. Romance.

Há livros que custam a engrenar, mas quando chegamos ao fim nos parabenizamos pela persistência, bem recompensada. Serena pode representar uma experiência assim. A protagonista é apaixonada pela leitura, à sua forma, lendo livros classe "B" e clássicos. Então se apaixona por Tom, professor universitário e escritor, que enxerga os livros com igual paixão, mas reverência maior. O que contribui para torná-los personagens literários é o fato de ela ser uma agente do MI5, o serviço secreto britânico, e nunca encontrar a forma de contar este detalhe a ele. Seus empregadores querem financiar secretamente os escritos de Tom, que escrevera alguns artigos anticomunistas. Com essa missão, e dentro do contexto da Guerra Fria, é que ela se aproxima.

Preste atenção: A prosa de Ian McEwan é admirada desde Reparação, que ganhou as telas de cinema pelas mãos de Joe Wright (Desejo e Reparação, de 2007). Já então, realidade e imaginação se mesclavam. Em Serena, ele acrescenta a ficção a essas duas dimensões. Além disso, questiona a eficácia de qualquer projeto político que deseje influenciar a arte, quando apenas o contrário funcionaria. Outro "brinde" do livro são os contos dentro do romance: a prosa de Tom relatada tintim por tintim.

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