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Exposição

Desenhos

Museu de Arte Contemporânea do Paraná (R. Des. Westphalen, 16). Obras de Flávia Duzzo (foto 1). De terça a sexta-feira, das 10 às 19 horas; e sábado, domingo e feriado, das 10 às 16 horas. Até 12 de setembro.

De longe, o espectador imagina se tratar de pintura. Mas, ao chegar perto, instigado até quase encostar o rosto na tela, percebe se tratar de um exercício (para alguns, absurdo) de paciência. As obras da artista gaúcha Flávia Duzzo são, na verdade, desenhos de milhares de bolinhas – criadas pelo efeito da escrita cursiva com canetas esferográficas de várias cores e pontas sobre superfícies de MDF.

O resultado da maior ou menor concentração de bolinhas, do uso de ponta mais fina ou mais grossa, de mais ou menos cores resulta em um desenho que assume aspecto de pintura. Radicada em Florianópolis há 19 anos, esta artista pacienciosa se debruça em média quatro semanas sobre uma única obra em um gesto obsessivo, que para ela é terapêutico.

"A gente acha que qualquer caneta azul é azul, e não é", diz. Em uma das obras, feita com todas as canetas azuis que tinha em casa, o efeito pictórico é alcançado pela variedade tonal que parecia não existir antes de se revelar no papel.

A artista começou a desenvolver esta, digamos, compulsão rabiscando em um papel enquanto assistia às aulas do mestrado em artes em 2007. Aí suprimiu as anotações e passou a desenvolver sua "escrita" em formatos mais rígidos, como as telas em MDF, de dimensões ampliadas. (AV)

CD 1

Further

The Chemical Brothers. Astralwerks. Preço médio: R$ 32. Eletrônica.

Há alguns anos, as canções do duo eletrônico britânico Tom Rowlands e Ed Simons pareciam presas a uma fórmula de sucesso: paredões de batidas dançantes, somadas a longos trechos de psicodelia e colaborações de grandes nomes nos vocais.

Further (foto 2), oitavo álbum da dupla, lançado na última semana, parece tentar seguir um caminho um pouco diferente. São oito canções feitas sob medida para soarem como um set tocado ao vivo.

Construída a partir de uma linha de baixo pulsante e feedbacks de guitarra, a faixa de abertura "Snow" não tem bateria e remete a Spacemen 3, com vocais da americana Stephanie Dosen (uma das poucas colaboradoras não anônimas do disco).

Em seus 12 minutos de duração, "Escape Velocity" é um desfile de sintetizadores vintage e deve embalar multidões durante os festivais de verão europeus que se aproximam. Ao lado de "Horse­power", reverencia a fase áu­­rea de big beat vivida pela dupla nos anos 90. Em tributo à mesma década, "Swoon" é uma homenagem à banda inglesa My Bloody Valen­­tine. Para dançar, mas de uma outra forma. (JG)

Livro 1

O Torcedor Acidental

Artur Xexéo. Rocco. 176 págs. R$ 29,50. Crônicas.

Para Artur Xexéo, a Copa do Mundo foi apenas um evento responsável por carimbar seu passaporte para cinco países diferentes. Com a missão de abastecer suas crônicas no Jornal do Brasil (1994 e 1998) e n’O Globo (2002 e 2006), o jornalista bateu pernas nos Estados Unidos, França, Japão, Coreia do Sul e Alemanha. A meta, sempre, era buscar "assuntos estranhos" àqueles que a grande maioria dos correspondentes davam bola.

Torcedor Acidental (foto 3) é o resultado dessas crônicas. Os textos, alguns deliciosos, têm uma mistura fina entre um humor quase sarcástico e nostalgia – o jornalista "elegeu" o goleiro Castilho (1927-1987), ídolo no Flu­­mi­­nense, como o último grande ídolo do futebol.

Xexéu nunca voltou para o centro de imprensa sem história. Nem mesmo quando se viu confinado na Alemanha, onde, nos 180 graus à sua frente só se viam morangos e, nos outros 180, aspargos.

Impagável também são suas andanças pelas ruas sem nome no Japão – nos perdemos com o jornalista. Houve também uma camareira marroquina cuja libido foi colocada em ebulição por Luis Fernando Veríssimo, além do contato rápido com Frank Sinatra, que pediu a Xexéo, apurado, o caminho para o banheiro do estádio. (CC)

CD 2

Normal as Blueberry Pie – A Tribute to Doris Day

Nellie Mckay. Universal Music. Preço médio: R$ 29,90. Jazz

Nellie Mckay é dessas cantoras voluntariosas e criativas. Assim como outra bela voz de sua geração, Regina Spektor – cotada para se apresentar no Brasil pela primeira vez no segundo semestre deste ano. Já em seu primeiro disco, Get Away from Me (Columbia, 2004), Mckay (pronuncia-se "ái" mesmo) investiu dinheiro do próprio bolso para bancar uma edição dupla. Misturou jazz a funk e rap, não poupou entusiasmo, e garantiu uma estreia aclamada.

Normal as Blueberry Pie (foto 4), o quarto trabalho da moça, tende a acolher um universo mais amplo de ouvintes, interrompendo por ora a vertente de trabalhos autorais. O disco todo é um tributo a Doris Day, a musa meio ingênua meio sexy da Hollywood dos anos 50 e 60.

Aos 27 anos, Mckay recupera o repertório da hoje reclusa senhora Doris Day, de 78. Sobretudo standarts de jazz, praticamente todos com arranjos recriados pela própria Nellie, que ainda assume alguns instrumentos.

Está no disco sua versão para "Meditation", mais conhecida dos brasileiros por "Meditação", de Tom Jobim. Nesta, toca ukelele, doce e plácida. Por contraste, na suingada "Crazy Rhythm" faz graça no vocal e no piano, e o resultado é contagiante. Já "Sentimental Journey" e "Mean to Me" (esta, da trilha do filme Ama-me ou Esquece-me, de 1955), representam perfeitamente o romantismo de outrora.

Na comparação com sua inspiradora, Mckay troca um tanto do sentimento que Doris despejava em suas interpretações por mais leveza e verve. (LR)

Livro 2

Teatro do Êxtase

Fernando Pessoa. Editora Hedra. 130 págs., R$18.

Fernando Pessoa pretendia escrever uma grande obra teatral. Começou mais de 30 peças em verso e prosa, português e inglês. E deixou quase todas inacabadas. Cinco delas – quatro incompletas e desconhecidas – foram reunidas por Caio Gagliardi no livro Teatro do Êxtase (foto 5), lançado em edição de bolso.

O autor costumava dizer que esses textos serviam mais para serem lidos do que encenados. Mas isso é algo que se pode facilmente contestar: basta ler "O Marinheiro", o único publicado em vida, no espaço fundamental do modernismo português, a revista Orpheu. Mais do que uma boa leitura, a peça provoca a imaginação e a vontade de vê-la em cena.

"O Marinheiro" se passa no velório de uma moça. À janela, outras três gastam o tempo em um diálogo metafísico. Elas exaltam o sonho e o passado, conscientes da falta de sentido do mundo. "Nada vale a pena", é o que ecoa de suas falas oníricas. Lembram, às vezes, As Três Irmãs, de Chékhov, mais desligadas da realidade.

Em "A Morte do Príncipe", o monarca começa dizendo que "todo este universo é um livro em que cada um de nós é uma frase", para depois se perder nos labirintos da sua alma. "Diálogo no Jardim do Palácio" opõe Homem e Mulher e duas visões incompatíveis do amor.

Nessas peças, Pessoa elabora algumas das preocupações essenciais de sua poesia. Por isso, devem agradar a qualquer admirador do escritor português e de seus heterônimos. (LR)

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