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La Jalousie (O ciúme), 24º longa de Philippe Garrel, não é apenas sobre o ciúme como diz o título, mas também sobre amor, traição, separação, crises, enfim sobre a convivência entre os seres humanos. O filme foi bem recebido ontem na prévia para a imprensa da 51ª edição do Festival de Nova York.

Garrel é um dos cultuados diretores franceses pós Nouvelle Vague e seu cinema tem dividido opiniões: a linha impulsionada pelo Cahier du Cinema o exalta, outros, principalmente os mais jovens, o combatem.

Mas o veterano diretor segue coerentemente sua trajetória em filmes ao mesmo tempo estranhos e fascinantes como "Inocência Selvagem" e "Os Amantes Regulares".

Seu novo trabalho segue Louis, um ator medíocre nos seus 30 anos (Louis Garrel, filho do diretor), que vive um caso de amor com uma atriz desempregada. Mas há outra mulher, que ele abandonou e com quem teve uma filha. Louis mantém ligação com a criança, mas não tem condições de dar nada para a mãe, que precisa trabalhar para sustentar a menina e a si própria.

Além de Garrel, o filme traz no elenco Anna Mouglalis, Rebecca Convenant, Olga Milshtein e Esther Garrel (também filha do diretor).

Vindo de Veneza, onde concorreu ao Leão de Ouro, o filme foi realizado em preto e branco e suas imagens são enriquecidas pela bela fotografia de Willy Kurant.

Garrel explica que o título do filme é sobre um sentimento que todo mundo sabe de imediato do que se trata:

"Todas as pessoas já sentiram isso em sua vida, desde a infância e de várias formas. Mas um dos principais aspectos do filme são os pais. É um filme sobre relações de casal, pais, filhos, enfim, sobre a ligação das pessoas com a vida", conta, acrescentando que o título foi dado quando começou a escrever o roteiro.

"Houve um momento que cheguei até a pensar em chamar o filme de Discórdia, mas logo afastei a ideia. O ciúme é pior do que discórdia, mas é também um enigma e todo mundo já precisou lidar com ele", ressalta o diretor, que colocou subtítulos em dois capítulos da historia: Eu mantive os Anjos e Faíscas em um barril de pólvora.

"Costumo fazer isso para organizar as filmagens. Eu mantive os Anjos é uma frase bastante misteriosa, dita por um professor que foi muito importante para mim. Da última vez que fui visitá-lo, ele já estava bem idoso e eu lhe perguntei se ainda não acreditava em Deus. E ele respondeu: Não, mas mantive os anjos. Ele já morreu, mas a frase ficou comigo. No filme, ela se refere mais ao fato de manter as crianças, ou seja a ruptura entre um casal, não deve ocasionar uma ruptura também com seus filhos", ensina.

Garrel contou que o roteiro, escrito a quatro mãos por ele, juntamente com Deruas Caroline, Arlette Langmann e Marc Cholodenko, foi uma experiência bem sucedida.

"Foi a primeira vez que fiz isso e o resultado foi bastante interessante. Dentro da narrativa, o fato de ter uma cena escrita por um homem e outra escrita por uma mulher traz uma diversidade de sentimentos da relação com o mundo que eu estava procurando Escritas masculina e feminina são frequentemente muito diferentes", destaca o diretor, que segue o método de permitir improvisações nas filmagens.

"Os diálogos que os atores falam no filme nem sempre são aqueles que escrevemos. Acho que não devemos fazer algo rigidamente como tinha sido planejado com antecedência, porque o cinema é uma arte coletiva que deve acolher as contribuições de quem participa do projeto", conclui o diretor de 65 anos, em mais um trabalho que traz sua inconfundível assinatura.

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