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Mateus Solano (na foto, com Priscila Sol): ator que vem dos palcos e não faz questão de nutrir a imagem de galã | Márcio de Souza/Divulgação
Mateus Solano (na foto, com Priscila Sol): ator que vem dos palcos e não faz questão de nutrir a imagem de galã| Foto: Márcio de Souza/Divulgação

Como em todas as novelas feitas nos últimos tempos, Viver a Vida arrasta um melodrama desgastado cuja trama se funda em clichês e obviedades. Pouca coisa se salva. Uma delas costumava ser a espontaneidade de Alinne Moraes, no início da trama, ao dar vida a uma Luciana serelepe, vaidosa e mimada. Mas depois que sua personagem ficou tetraplégica, a atriz se apagou na obrigação de adotar uma postura mais sóbria, passiva e lacrimosa.

Outra que mal teve tempo de mostrar a que veio é a curitibana Adriana Birolli, que, diante dos atrasos frequentes na entrega dos capítulos pelo autor, anda amenizando as maldades de sua personagem Isabel, irmã de Luciana, que rendiam doses de diversão à trama. Nem se consideram as sempre ótimas cenas com a mãe das moças, Tereza, já que o talento da veterana Lília Cabral não é nenhuma novidade.

De resto, se há algum frescor em Viver a Vida, ele está nos personagens Jorge e Miguel, em boa medida pela impressionante capacidade do ator Mateus Solano em dar vida a dois gêmeos tão distintos – há pessoas que acreditam, até mesmo, se tratar de dois atores.

Se o imaginário sobre gêmeos em novelas nos remete aos maniqueísmos explícitos de Rute e Raquel, em Mulheres de Areia, vividas por Eva Wilma, em 1973, e Glória Pires, no remake de 1993, aqui não há o irmão mau e o bom, o vilão e o mocinho.

Há diferenças, é claro, que geram conflitos, senão, não haveria novela. Jorge é um arquiteto sério, de ar solene, tímido. Miguel é um médico boa-praça, divertido, sempre com um sorriso no rosto. Os dois disputam o coração da mocinha, Luciana (que, aliás, seria má em outros tempos, e não só mimada, para se contrapor à protagonista de fato, Helena, vivida por uma insossa Taís Araújo).

O próprio Mateus Solano declara em inúmeras entrevistas que se cerca de cuidados para que o público não antipatize com Jorge – já que é bem mais fácil cair de amores pelo irmão bonachão. E defende o gêmeo. Afinal, em algum momento ele iria reagir mal diante de tantas comparações com o irmão divertido feitas pela família, os amigos e até a namorada.

Interpretados com extrema competência por um ator que vem dos palcos e não faz questão de nutrir a imagem de galã, os personagens são um acerto na mão de Manoel Carlos. Sugerem que é possível fugir dos clichês ao escrever novelas com personagens mais nuançados e inspirados na vida normal. A realidade tem, sim, mocinhos e bandidos, mas, na maior parte das vezes, nossas desavenças são com gente como a gente, com qualidade e defeitos, mas com as quais divergimos pelo temperamento, pelo modo de pensar e de nos relacionar com o mundo. O que não nos impede de amá-las, como Jorge ama Miguel e Isabel ama Luciana.

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