• Carregando...
 | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A cidadezinha chama-se Riachuelo e fica enfurnada no agreste do Rio Grande do Norte. Neste ensaio, realizado no início de 2014, o fotógrafo Marcelo Andrade foi em busca daquele Brasil que às vezes lembramos que existe, embora sempre em algum outro lugar que não aqui, pois distante, quente e duro. De alguma forma, sabemos do que se trata: o chão esturricado, o burrico só pele e osso, a água inestimável, o céu que anuncia a chuva todo dia e depois desiste, um sol peludo. Vidas secas, enfim.

Foi um impulso natural visitar o lugar em que sua avó nasceu, há 93 anos. "Acho que todo fotógrafo se inspira um pouco em seu passado, em suas recordações", diz Marcelo. O imaginário existia, portanto. Faltava o registro. Durante três dias, o homem com a câmera na mão encarnou um verdadeiro Riobaldo, o inquieto protagonista criado por Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. O olhar atento encontrou o incontornável: Erivan Soares Paiva, de 52 anos, jagunço clássico. A pele dobrada de tanto sol na moleira, o corpo rijo de tanta força bruta, a lida simples com a vida que, rapaz, é uma batalha a cada dia. Em Riachuelo, existem sete mil Erivans. E também as gêmeas Ana Barbosa e Ana Beatriz, de 14 anos, filhas do nordestino, que sonham em fazer agronomia para, ora, cuidar de toda aquela terra.

"No começo choca. Por que pensamos ‘como aquelas pessoas conseguem viver com tão pouco?", questiona-se o fotógrafo, que logo lembra da música do Chico: "E eu que não creio/ peço a Deus por minha gente/É gente humilde/ que vontade de chorar."

Fotografar é o último passo para compreender

Marcelo Andrade tem 32 anos, é natural de Natal (RN), e foi criado em Vitória (ES). É formado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Vilha Velha e possui especialização em Arte e Semiótica. Trabalha em jornal diário desde 2004, e na Gazeta do Povo desde 2012.

Em 2009, venceu Prêmio Capixaba de Jornalismo. Suas fotos foram escolhidas, em 2013 e 2014, para integrar o anuário O Melhor do Fotojornalismo Brasileiro. Neste ano, é finalista do 19.º Concurso Latino-Americano de Fotografia Documental.

Andrade é clássico, digamos. Tem preferência pelo corte quadrado, gosta de fotografias em preto e branco, e entende a arte de clicar como o último passo para um recorte possível da realidade. "É primeiro observar. Depois conversar. E só então fotografar," explica. Com isso, se aproxima de seus retratados. Entende e compreende. "A partir desse momento, o fotógrafo fica invisível e as coisas acontecem."Ensaio: Gente humilde

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]