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Antonio Abujamra em cena da peça O Provocador, no Sesc da Esquina, de Curitiba, em março de 2001. | Arquivo/Gazeta do Povo
Antonio Abujamra em cena da peça O Provocador, no Sesc da Esquina, de Curitiba, em março de 2001.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Antônio Abujamra era muito querido em Curitiba. Sua última apresentação na cidade foi em setembro de 2013, com o monólogo A Voz do Provocador, no Teatro do Paiol, numa espécie de aula-espetáculo que marcou os 15 anos do programa RadioCaos, apresentado na rádio e-Paraná.

A notícia de sua morte foi extremamente dura para o diretor Paulo Biscaia Filho, que atribui a Abujamra o fato de ter escolhido o gênero grand guignol e a própria existência de sua companhia de teatro, a Vigor Mortis.

Hoje o grupo cresce em prestígio nacional: é o único representante do Paraná a percorrer o país pelo festival itinerante Palco Giratório, do Sesc, com Jukebox Vol.1.

Mas o começo foi no ano de 1993. Biscaia fez assistência de direção para um evento de Abujamra em Curitiba, e dessa forma tinha conhecido o homem. Foi escracho à primeira vista. “Fui buscá-lo no aeroporto, e ele tinha a mania de testar as pessoas xingando. Só que ele me xingou em francês e eu entendi e devolvi com outro, também em francês. Começou ali”, conta.

Eu nunca tinha ouvido aquelas duas palavras antes [grand guignol] . E aquela bobagem que ele falou acabou se tornando parte de quem eu sou.

Paulo Biscaia, cineasta.

Biscaia estava em cartaz com o espetáculo Sangue para uma Sombra, no parque São Lourenço. Havia um ônibus exclusivo, com saída do Café do Teatro. Abujamra apareceu de surpresa e foi o único a usar a condução especial.

Ao final do espetáculo – que, de acordo com o próprio Biscaia, não era tão bom assim –, Abujamra o chamou num canto e sugeriu: “Por que você não faz o grand guignol?”. “Eu nunca tinha ouvido aquelas duas palavras antes. E aquela bobagem que ele falou acabou se tornando parte de quem eu sou”, diz.

Biscaia estudou as origens desse estilo que aterrorizou Paris na primeira metade do século 20 em seu mestrado na Inglaterra, e dedicou a dissertação, claro, a Abu.

A relação de amizade perdurou. “Ele ligava para amigos do nada. Deixou um recado na minha secretária eletrônica, uma vez, dizendo ‘Paulinho, estou em Nice, comendo uma lagosta incrível’. Outra vez me mandou cartão postal de Juazeiro do Norte...ele era assim.”

O empresário Samuel Lago conta que Abu esteve em Curitiba por duas vezes nos últimos quatro anos para gravar audiolivros de poesia para sua editora, a Nossa Cultura, e para a apresentação no Paiol.

“Mais do que um gigante da cultura nacional, perdemos um amigo, maluco e genial. Nasceu em 15 de setembro de 1932 e tende ao infinito”, é a homenagem de Lago.

O músico e locutor Rodrigo Barros Homem Del Rei prepara para sábado (2), às 23h, um programa RadioCaos especial com trechos de Abujamra, que participou três vezes das gravações.

São poesias, textos antigos, ditos, provocações. “Ele é o bat-guru do programa”, diz Barros. “Um mestre erudito da provocação.”

Barros relembra de uma ocasião em que passeava com Abu, e as pessoas o chamavam de “Ravengar”, nome de seu personagem na novela Que Rei Sou Eu? (1989).

“Ele ficava louco, porque ele sempre foi underground e só ficou popular com a novela. Mas, no fundo, como ator, era ótimo para ele”, diz.

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