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Uma discussão que começou entre o secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), Sérgio Sá Leitão, e o poeta Ferreira Gullar, botou em lados opostos dois velhos amigos: o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e Caetano Veloso. Nesta quinta-feira, Gil saiu em defesa de Sá Leitão, depois de Caetano dizer em carta à "Folha de S. Paulo" que o secretário havia respondido de maneira autoritária a críticas feitas por Gullar à gestão do MinC.- O que é que Sá Leitão fez de errado? O que ele fez em nome do ministério que não esteja de acordo com a orientação do ministério? Por que não pedem a minha cabeça em vez de pedir a dele? Peçam a minha cabeça, peçam ao presidente - disse Gil.

A polêmica começou depois que Gullar disse, em sabatina na "Folha de S. Paulo", que a política cultural do MinC era centralizadora. Sá Leitão reagiu chamando o poeta de defensor do stalinismo. Em carta ao jornal, Caetano disse que, se o governo não sabe aceitar críticas, está a um passo do totalitarismo. Gil contestou.

- Digam qual é o próximo passo, apontem o que é totalitarismo no ministério. Digam. Totalitarismo? É vago, eu não sei o que é, me digam, eu também preciso saber - disse o ministro, segundo a Agência Estado, após almoço no Palácio Gustavo Capanema, no Rio.

O ministro disse ainda que Caetano "está exercendo papel de cidadão" que acompanha o trabalho do ministério:

- Vejo com bons olhos. (Caetano) não é como alguns outros que fazem críticas e ao mesmo tempo dizem que não acompanham o trabalho - disse, numa referência indireta a Gullar, que admitira não estar muito bem informado sobre a atuação do MinC.

O ministro lançou quinta-feira no Rio o projeto Copa da Cultura, que vai levar este ano apresentações de cultura brasileira à Alemanha durante a Copa do Mundo. Um dos artistas convidados é Ferreira Gullar. Segundo Sá Leitão, o convite a Gullar para a Copa da Cultura está de pé. O poeta disse que aceita, mas pode "desaceitar, se acharem que é um favor que estão fazendo".

Sá Leitão disse ter achado válida a atitude de Caetano:

- É absolutamente democrático ele se manifestar. Mas não concordo com ele: totalitarismo seria se um órgão público não pudesse se expressar. Não houve ataque pessoal a Gullar. Tanto que o convite feito a ele, para participar da Copa da Cultura, está totalmente de pé. Haveria totalitarismo se esse embate de idéias criasse discriminação.

Sá Leitão disse que as críticas aos órgãos públicos são necessárias e que sua resposta foi uma reação à crítica de Gullar:

- Nessa entrevista, Gullar admitiu que não acompanhava bem o funcionamento do ministério. É como eu criticar um livro dele sem ter lido.

Na carta, Sá Leitão escreveu: "A 'centralização' não era a marca registrada dos finados regimes stalinistas dos quais Gullar foi e segue sendo um defensor?". Segundo o secretário, o termo stalinista foi usado porque Gullar enfatizou na entrevista seu passado comunista. O poeta disse que a resposta de Sá Leitão foi insultante.

- Militei no PC e, quando houve a cisão, os stalinistas foram para o PCdoB. Qualquer um com um mínimo de conhecimento histórico sabe disso. Fui respondido de modo insultante. Aliás, não me responderam. O argumento deles foi me desqualificar - disse Gullar.

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