• Carregando...

Usuários de roupas pretas dos pés à cabeça; freqüentadores de cemitérios; apreciadores de vinho barato, leitores de Edgar Allan Poe e Lord Byron; ouvintes de Bauhaus e Siouxsie and the Banshees. Estes são os mais prováveis estereótipos que vêm à mente no momento de definir o que é ser gótico. Dissecar esse movimento underground que assimila elementos culturais do passado e os recicla com o passar dos anos foi a intenção do jornalista inglês Gavin Baddeley, autor de Goth Chic: um Guia para a Cultura Dark (Rocco, 288 págs., R$ 52,50), obra lançada em 2002, mas que só agora chega ao mercado editorial brasileiro.

Jornalista, escritor e pesquisador de assuntos ocultos, Baddeley, além de colaborador de veículos como a revista Kerrang! e o jornal The Observer, é autor de livros um tanto polêmicos e bastante aclamados, como Lucifer Rising: Sin, Devil Worship and Rock’n’Roll, que explica a relação do rock com o satanismo; Dissecting Marilyn Manson, que analisa as referências psicóticas utilizadas pelo roqueiro drag queen; e o mais recente, The Gospel of Filth: A Black Metal Bible, em que conta a história da vertente satânica do heavy metal – todas publicações inéditas no país. Sem falar que Baddeley é reverendo da primeira organização da religião satânica, Church of Satan (Igreja de Satã).

Feita a devida apresentação do autor, o destaque vai para o conteúdo de Goth Chic. Em dez capítulos ricamente ilustrados, Baddeley analisa as principais referências do movimento que denomina como subcultura gótica: literatura, cinema, o gênero de horror, programas de rádio e televisão, graphic novels, música, visual e sensibilidade. O texto, apesar de ser quase excessivamente informativo, é leve e atrativo, devido à empatia do autor com a cultura gótica, que é tratada com seriedade e de maneira elogiosa, beirando uma idolatria pseudopoética. "Gótico. Essa palavra significa mais do que uma subcultura juvenil, uma estética lúgubre ou um gênero literário. Aqui, o obscuro e o ameaçador possuem uma sedução irresistível, enquanto que a normalidade e o conforto prometem apenas tédio e decadência. Inocência e virtude são vistas apenas como um pergaminho virgem, sobre o qual o selo do pecado pode ser escrito em largas pinceladas de vermelho sangue e negro crepúsculo", define o autor, no prefácio do livro.

Para o designer multimídia e professor universitário curitibano Doca Soares, 31 anos, que, há pelo menos 18, é adepto da cultura gótica, o livro do jornalista inglês, apesar de apresentar extensas referências do movimento, é bastante genérico, no sentido de que abrange demais o assunto ao apresentar a obra como um "guia para a cultura dark". Doca, que acompanha a cena gótica curitibana da velha e nova guarda, acredita que o livro deve acentuar ainda mais as divergências que já existem no cenário local. "A cena gótica atualmente é rachada. Há os mais antigos, que acreditam no gótico como uma opção estético-cultural, que, a exemplo de outras ‘tribos’, é difundida por meio da convivência com outros adeptos, nas ruas. Do outro lado, há os que aceitam gêneros musicais como o chamado gothic metal e o black metal como parte da cultura gótica, algo refutado pelos mais velhos. Muitos da nova geração, a quem costumo chamar de ‘neogóticos’, acreditam que algumas pessoas já nascem com uma ‘alma gótica’, são predestinadas a serem góticas", explica Soares.

Porém, algumas divergências encontradas na cena underground gótica também são tratadas por Baddeley, que admite, logo na introdução da obra, que o movimento é mesmo "confuso em alguns aspectos". "O que é ou não autêntico na subcultura gótica é um assunto comum em diversos zines e websites – muitos clamando que um sinal dos verdadeiros góticos é que eles, na verdade, negarão que são góticos até o último suspiro", conta o autor, identificando, talvez, uma das poucas posturas comuns tanto aos mais antigos quanto aos "neogóticos". Fato é que Goth Chic, de acordo com Doca, deve render pano para a manga. Tópicos de debates fervorosos para iniciados e uma bíblia de referências para iniciantes.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]