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Antes de se tornar autor de romances best sellers, Mitch Albom foi jornalista esportivo com uma carreira de respeito e livros publicados. Quando entrou no bar do hotel paulista em que estava hospedado para conversar com o Caderno G, a tevê plasma na parede exibia uma partida de pré-temporada do beisebol americano.

O jogo aconteceu na tarde de segunda-feira, dia 5, entre o New York Yankees e o Detroit Lions. Provocado pela reportagem para saber se gostava de beisebol, Albom, nascido em Detroit, respondeu "Eu sou americano!", com os braços abertos para ressaltar o óbvio da situação. "É como o futebol para vocês, brasileiros", afirmou.

Aos 48 anos, Albom ocupa as listas de mais vendidos por tanto tempo que poderia reivindicar propriedade sobre elas. Uso capião. No Brasil, já vendeu mais de 400 mil exemplares de A Última Grande Lição e As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu.

Ele esteve no país no início do mês para lançar seu mais recente campeão de vendas: Por Mais um Dia (Tradução de Pedro Jorgensen Junior. Sextante, 192 págs., R$ 19,90). Livro conta a história de um homem desesperado que é salvo do suicídio pela figura da mãe (morta há oito anos). Ele passa horas conversando com ela e acaba descobrindo a verdade sobre seu passado.

Na entrevista a seguir, Albom fala das pessoas que o inspiraram a escrever, do trabalho com Jack Lemmon (1925 – 2001) e tenta explicar o fascínio gerado por seus livros em leitores do mundo todo.

Caderno G – Há um tanto de espiritualidade no enredo de Por Mais um Dia. Ela reflete o seu modo de pensar?Mitch Albom – Com certeza. Eu acho que não escreveria essas coisas se eu mesmo não acreditasse nelas, se eu fosse um cínico. Gosto de acreditar que existe algo mais do que a nossa vida na Terra. Eu não sei se é possível ter um dia mágico com alguém que já morreu, mas, por outro lado, parte do livro foi escrita quando eu tentava imaginar as cenas entre Chick e sua mãe, enquanto passavam esse dia juntos. Eu sempre tentei pensar nesses sonhos que todo mundo tem com pessoas que já morreram. Em determinado momento do sonho, você vira para a pessoa e diz: "Você morreu, não pode estar aqui". E eles nunca respondem. Já percebeu isso? Eles nunca respondem. Eu acho que nós nos comunicamos subliminarmente com pessoas que não estão mais aqui, por meio de sonhos, coisas assim.

Como você faz a pesquisa para seus livros e, especificamente, a de Por Mais um Dia?A maioria dos meus livros é inspirada por pessoas de verdade, mesmo se são romances. No caso de As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu, meu tio Eddie foi a inspiração para Eddie (o protagonista do livro). Eu procurei lembrar como nós vivíamos, como foi quando ele foi para a guerra (do Vietnã), coisas assim. Por Mais um Dia é sobre um filho e uma mãe. A inspiração para o personagem da mãe é, na verdade, minha própria mãe. Então eu não tive que fazer muita pesquisa. Tive apenas de usar minha memória e lembrar como era.

O que não deixa de ser um tipo de pesquisa.Sim, claro. Também busquei saber sobre a vida nos anos 50 e 60, época em que Chick cresceu, sobre o beisebol, esporte que ele pratica. Depende. Alguns livros exigem mais pesquisa que outros. As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu exigiu muita pesquisa sobre parques de diversão porque o livro os segue de 1900 até o ano 2000.

Você escreve obras extremamente populares. Como acontece com filmes de orçamentos caros, você tenta antecipar a reação do público, fazendo alguma espécie de leitura-teste (semelhante às exibições-teste)?A única leitura-teste a que submeto meus livros é a que faço para a minha mulher. Um dia pela manhã, depois de uma semana ou duas de trabalho, ela se senta atrás de mim, eu leio em voz alta e ela ouve, como se eu contasse uma história. Eu não tento mirar em nada. Sei do que eu gosto: gosto de uma história, gosto que as coisas aconteçam. Não consigo apreciar livros que, às vezes, têm 300 páginas e são só pessoas pensando sobre coisas. Nada acontece. Eu prefiro mantê-los simples e fazer as coisas acontecerem de modo que você é levado a pensar depois que termina a leitura. Eu não tento fazê-los populares ou transformá-los em filmes, é apenas o tipo de coisa que me interessa.

Continua...

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