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David Cook: ídolo americano | Mario Anzuoni/ Reuters
David Cook: ídolo americano| Foto: Mario Anzuoni/ Reuters

Conhecer um vencedor do American Idol apenas quando seu disco é lançado significa perder, no mínimo, a metade da diversão. E a temporada 2008 esteve entre as melhores, recuperando o interesse já gasto pelo reality show, transmitido aqui pelo canal Sony.

A qualidade geral dos cantores foi irregular, como sempre – e ainda assim, bem acima do que se tem escutado nas versões brasileiras do show. O que fez com que a edição ganhasse um fôlego a mais foi a ascensão rápida de um talento precoce, David Archuleta, 17 anos, que despontou como favorito. E o abalo provocado quando um outro competidor, mais velho, e de visual esquisito, surpreendeu a todos com uma versão roqueira da romântica "Hello", de Lionel Richie.

David Cook, 25 anos, foi se impondo como um adversário cada vez mais forte e dos mais "originais", ao menos, dentro dos moldes do programa, nos quais ele não se encaixava tão confortavelmente. Mexendo nos arranjos das canções para deixá-las mais pesadas e agradáveis para o paladar roqueiro, chegou ao ponto mais alto de sua trajetória revolucionando um dos maiores clássicos do pop moderno, "Billie Jean", música que catapultou Michael Jackson nas paradas em 1982.

Mostrou ser um competidor esperto e arriscado, e com uma voz poderosa, que usou tanto para ressuscitar velhos hits quanto para dar graça a canções, digamos, medianas. Conseguiu revelar o melhor até de "Always Be My Baby", na semana em que foi obrigado a escolher algo do repertório da Mariah Carey, obviamente bastante incompatível com o tipo de música que Cook fazia no circuito alternativo de rock, quando ainda trabalhava como barman no meio-oeste americano.

Não deu outra, ganhou 12 milhões de votos a mais que o concorrente na final, se consagrando como o primeiro Idol roqueiro da história do programa pop. Seu primeiro grande feito? Emplacar impressionantes 11 músicas no top 100 das paradas americanas em uma única semana, quebrando recordes.

O disco

Vencido o desafio, o próximo passo foi assinar um contrato com a RCA para gravar seu autointitulado disco de estreia, recém-lançado no Brasil pela Sony Music. Males de vencedor: por intervenção da gravadora, que tem por hábito fazer o mesmo com os outros artistas saídos do programa, o disco soa mais pop-romântico do que a trajetória de Cook sugeriria.

Suas referências estão mais próximas do rock dos anos 90 e nomes como Foo Fighters, Alice in Chains, Collective Soul e Jimmy Eat World. Aos 15 anos, fundou com amigos sua primeira banda, Axium. E, antes do Idol, havia gravado um disco-solo autoral em 2006, Analog Heart, enquanto tocava na extinta banda Midwest King, da qual trouxe dois guitarristas amigos, Neal Tiemann e Andy Skib, para acompanhá-lo em sua primeira turnê-solo.

David Cook, álbum produzido por Rob Cavallo (Green Day e Dave Matthew Band), já vendeu mais de um milhão de cópias, quantidade ainda mais admirável em plena recessão americana. O que se pode lamentar da interferência de uma gravadora com pulso firme (para não dizer controladora) é que um punhado de faixas tende ao pop-rock radiofônico de Nickelback e os singles escolhidos, primeiro "Light On" e então "Come Back to Me", estão longe de serem os destaques do CD.

Já o que sustenta e redime as canções, de conteúdo romântico e estrutura previsível, são as texturas vocais do cantor, bom intérprete, ora rasgante, viril, a entoar "Bar-ba-sol", a faixa mais pesada, ora macia e mais doce, como em "Avalanche" - se é para cantar baladas amorosas, esta está entre as melhores do disco -, e a extensão vocal que lhe permite alguns gritos afinados em "Life on the Moon", sobre a estranheza de sua guinada ao estrelato, ou em "A Daily Anthem", hino para multidões.

Do lado mais calmo do disco, "Permanent" sobressai pelas notas tristes ao piano, acompanhado apenas por voz. É a canção mais angustiada, escrita em homenagem ao irmão que luta contra um câncer cerebral há mais de uma década.

Mesmo essa, no entanto, sucumbe diante de "Lie", uma balada romântica de qualidade superior, que não se vende apenas pelo refrão e carrega a melhor letra. Uma bela canção sobre a tentativa de reter por um instante mais um amor que está prestes a se acabar.

No balanço final, David Cook é um artista mais interessante do que seu primeiro disco deixa ver.

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