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O tipo de formação da Regional Jazz Band era comum na década de 1930 | Crédito Renata Casimiro/Divulgação
O tipo de formação da Regional Jazz Band era comum na década de 1930| Foto: Crédito Renata Casimiro/Divulgação

É o Rio de Janeiro das primeiras décadas do século 20 que costuma vir à mente quando se fala em gêneros populares como o choro. Músicas de Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha, que surgiram naqueles tempos de teatros de revista, "cines" e anos de ouro do rádio, conseguiram atravessar o século e fazer parte do imaginário brasileiro junto com os cenários cariocas.

Mas pouco se fala na vibrante e antenada cena de música popular a que também teve direito a paisagem dos pinheirais, e que dois músicos e pesquisadores de Curitiba trabalham desde 2005 para trazer à tona, formando até um grupo para transformar novamente em música as partitura que encontram. Entre os mais importantes está a obra de José da Cruz (1897-1952), que Marilia Giller e Tiago Portella apresentam com a Regional Jazz Band hoje, às 20 horas, no Sesc Água Verde Verde (Av. Rep. Argentina, 944), antes de levar a apresentação para a França, no dia 30, com apoio da família do compositor.

O grupo leva esse nome em referência à transição das formações de choro "regional", que tem violões, cavaquinho e pandeiro, e "jazz band", comum nos salões e bailes de clubes nas décadas de 1920 e 1930, que soma bateria, piano, contrabaixo e instrumentos de sopro e a influência do jazz. Cruz, natural de Campo Largo, foi um dos principais compositores para esse tipo de banda em Curitiba. Todas as 13 músicas do show são de sua autoria.

"O cenário aqui não era muito diferente do carioca. Curitiba também se espelhava muito na Europa devido à grande quantidade de imigrantes europeus", lembra Marilia, em entrevista por telefone, se referindo às inovações culturais que também aconteciam na capital do Paraná, juntamente com os principais centros urbanos. "Mas a música curitibana ficou um pouco diferente porque a cidade se fechou mais no contexto dos imigrantes por estar distante do porto, ao contrário do Rio", conta a pianista e pesquisadora.

É esta sonoridade diferente, aliás, o que mais chamou a atenção do Club du Choro de Paris, a instituição que convidou o grupo curitibano para se apresentar durante um festival e encontro internacional na capital francesa. "A gente consegue perceber na obra do José da Cruz uma espécie de ‘paranismo’. Os compositores aplicavam aspectos simbólicos do estado", diz Portella. Musicalmente, também há especificidades nos choros do compositor, de acordo com o pesquisador, que é também cavaquinhista do grupo. Há elementos regionais, como melodias de fandango, sonoridades rurais e a influência polonesa – daí a inscrição "à moda paranaense" encontrada em muitos manuscritos de Cruz. "É perceptível a busca pelo regionalismo na música dele, enquadrada no modernismo e nacionalismo da época", afirma o músico. Como a maioria dos grupos de choro tem a maioria do repertório formado pelo cânone carioca e paulista, a Regional Jazz Band animou o clube parisiense. "A gente está carecendo um pouco de ineditismos", diz Portella.

Serviço: Sabiá: A Obra de José da Cruz – Regional Jazz Band. Sesc Água Verde (Av. Rep. Argentina, 944), (41) 3342-7577. Dia 24 às 20h. Entrada franca. Sujeito a lotação.

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