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Guerra ao Terror está disponível em DVD no Brasil e só agora é descoberto nos EUA | Divulgação
Guerra ao Terror está disponível em DVD no Brasil e só agora é descoberto nos EUA| Foto: Divulgação

Washington - Na cena inicial de Guerra ao Terror, filme da diretora Kathryn Bigelow que competiu no Festival de Veneza de 2008 e agora está em cartaz nos Estados Unidos, um destacamento de elite do exército norte-americano chega a um canto imundo de Bagdá para desativar um explosivo escondido embaixo de um monte de lixo.

O especialista em improvised explosive devices (IEDs, ou dispositivos explosivos improvisados) manobra cuidadosamente um robozinho que vai se aproximando da bomba que ele precisa desarmar. Mas, no meio dos pedregulhos, o robozinho perde uma roda.

O especialista, sargento Matt Thompson (Guy Pearce), veste seu "escafandro" de proteção contra bombas e caminha lentamente para o monte de lixo. Enquanto isso, alguns iraquianos observam. Muitos são apenas moradores da cidade pobre, cansados da guerra e da presença dos americanos. Outros podem ser insurgentes, que com o simples aperto de uma tecla de seu celular, podem detonar a bomba. Se desse para esquecer de respirar, metade da plateia tinha morrido sem ar até o final da cena.

O filme mostra essa batalha assimétrica que os EUA estão perdendo. O poderoso exército com seus caças não tripulados, pilotados como videogames, e destemidos especialistas em explosivos, estão levando uma sova de pobres agricultores e suas bombas caseiras feitas com frasco de desodorante e celulares de US$ 30.

O foco do filme é um destacamento do exército que passa a vida tentando desativar essas bombas improvisadas, a principal arma no Iraque. O ator Jeremy Renner (sargento William James) é o líder do destacamento, um super especialista que atua com precisão de cirurgião para desarmar bombas e guarda os detonadores como lembrança. Ele adora desafiar o destino e testar seus limites. Seus companheiros são o sargento JT Sanborn (Anthony Mackie), que respeita as regras e muitas vezes bate de frente com a temeridade de James, e o cabo Owen Eldridge (Brian Geraghty), boa-praça e ingênuo, doido para ir para casa.

Guerra ao Terror, já disponível nas locadoras do Brasil desde abril, saiu nos EUA com o nome The Hurt Locker e é baseado no roteiro do jornalista Mark Boal. Em 2004, Boal passou várias semanas "embutido" com destacamentos de especialistas em bomba em Bagdá, seguindo os movimentos desses soldados para escrever uma matéria. "A experiência no Iraque me impressionou muito; as pessoas não têm ideia sobre como esses caras vivem e o que eles estão enfrentando", disse Boal.

A diretora fez filmes de ação como K-19: The Widowmaker, Estranhos Prazeres e Caçadores de Emoção, mas só com Guerra ao Terror ganhou consagração da crítica. Para A.O. Scott, crítico do jornal The New York Times, trata-se do "melhor filme não documentário sobre a guerra no Iraque". E também, como ele brinca mais para frente: "Se Guerra ao Terror não for o melhor filme de ação do verão, eu prometo explodir meu carro."

Depois de uma série de filmes professorais sobre o atoleiro do Iraque que foram fracasso de bilheteria, Guerra ao Terror consegue ser o filme que menos faz proselitismo sobre a futilidade da guerra, e o que melhor traduz a falta de sentido do conflito americano – tanto no Iraque, como no Afeganistão.

Ao retratar o dia a dia dos destacamentos que desarmam bombas, Guerra ao Terror mostra a dimensão do buraco em que os EUA se enfiaram. Em poucas palavras, os soldados nunca sabem quem é o inimigo. Muitas vezes, o inimigo é o velhinho simpático levando uma bomba feita com lata de Nescau que ele arrasta no seu burrico. Como resultado, os soldados vivem numa paranoia constante. É impossível descobrir quem é civil e quem é insurgente.

"Tem muita gente olhando para cá, vamos embora", diz o sargento Sanborn, enquanto o protagonista se embrenha em um carro-bomba, tentando desativar explosivos que podem levar o prédio inteiro pelos ares.

Os EUA estão saindo do Iraque. E sim, a situação está melhor. Em vez de morrerem 800 por mês, há um ataque por semana, onde morrem 60. Mas isso é ganhar a guerra. Muitos dos soldados não sabem o que é a vitória e se concentram em como se manter vivos. É uma contagem regressiva dos dias que faltam para eles voltarem para casa. Como é que se ganha essa guerra, em que o inimigo é esquivo?

"A guerra é uma droga." Essa frase do ex-correspondente de guerra Chris Hedges abre o poderoso filme de Kathlyn. E só o vício da guerra pode explicar o que move esses soldados nessa batalha sem sentido, na qual qualquer coisa pode ser uma bomba, e qualquer um pode ser o inimigo.

O sargento James volta para casa depois do fim de seu turno no Iraque. Uma cena típica, até um pouco clichê, mostra sua perplexidade diante das infinitas possibilidades de escolha do corredor de cereais no supermercado. James não aguenta. Decide voltar para o "barato" da guerra e enfrentar o hurt locker, expressão que significa "a expectativa de uma dor lancinante".

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