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Livro - Papis et Circenses. José Roberto Torero. Alfaguara, 160 págs., R$ 29.90. Contos | Reprodução
Livro - Papis et Circenses. José Roberto Torero. Alfaguara, 160 págs., R$ 29.90. Contos| Foto: Reprodução

Vencedor do Prêmio Paraná de Literatura do ano passado, na categoria conto, Papis et Circenses, de José Roberto Torero, chega agora às livrarias pelo selo Alfaguara, da editora Objetiva. Espécie de história do papado em clave picaresca, o livro segue a receita já empregada por Torero nos romances O Chalaça, Terra Papagalli e O Evangelho de Barrabás, dos quais parece ser uma síntese estilístico-temática.

A obra está inteira no título. Ninguém terá dificuldade em perceber que Papis et Circenses é um trocadilho com Panis et Circencis, título do disco-manifesto tropicalista de 1968. Menos óbvio é o fato de que o trocadilho só funciona porque a citação latina consagrada pelos tropicalistas está errada. A expressão, extraída da Sátira X, de Juvenal, é na verdade "panem et circenses", com "s" e no acusativo.

Se o título do livro fosse "papam" ou "papas et circenses", como seria o correto, perderia boa parte da graça. Tanto mais porque "papis" remete não só à corruptela infantil "pápi", mas também ao inconfundível cacoete linguístico do saudoso Mussum. O título Papis et Circenses, portanto, é isto: uma fusão de referências humorísticas em torno de uma expressão latina que cada um de nós só entende porque todos deixamos de compreender. E isso sintetiza perfeitamente o livro, composto por uma série de breves narrativas cômicas (enfim, de piadas) em que a biografia dos papas parece ser contada sob a ótica do atual leitor de tweets.

Os capítulos são de fato bem curtos. O maior tem seis páginas; o menor, duas linhas. Torero aproveitou a experiência com outras linguagens (como roteirista de cinema e tevê, além de comentarista esportivo) para driblar qualquer monotonia narrativa. Há capítulos em forma de diário, de programa de entrevistas, de reportagem de telejornal e até de narração de desfile de escola de samba. Jogada criativa se houvesse ali personagens também diferentes para finalizá-la. Em vez disso, temos somente, capítulo a capítulo, o mesmos tipos burlescos e caricatos.

Alguns papas foram santos; outros, verdadeiros bandidos, praticamente psicopatas. A tentativa de nivelar os cumes e abismos da paisagem humana numa mesma e risonha planície, dando assim ao homem médio a ilusão de poder julgá-la do alto, isola a obra no circuito das impressões mais banais. Como no caso do trocadilho em latim, cuja compreensão se baseia no engano consagrado, também o humor de Papis et Circenses não funciona por si, mas depende da impressão geral e comumente preconceituosa que se tem dos papas.

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