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Muitas das que já passaram dos 20 e poucos anos acham um "tanto infantil". Quem tem mais de 40 disfarça, mas não consegue aceitar o hábito como algo "de gente grande". Fato é que, de uma década para cá, o consumo e o hábito de leitura de histórias em quadrinhos tornou-se cada vez mais comum para um certo grupo de meninas, adolescentes e (por que não?) mulheres.

Embora a minoria dos títulos disponíveis no mercado mundial atualmente sejam de autoria de artistas gráficas mulheres, não é difícil topar com adolescentes viciadas em mangás, garotas que têm a obra completa de Neil Gaiman (Sandman) ou mulheres adultas gargalhando ao ler as tirinhas da argentina Maitena Inês Burundanera (autora da famosa série Mulheres Alteradas).

Eis que, para felicidade geral da nação feminina, o crescimento no número de garotas que tomam a corajosa decisão de levar o gosto por tirinhas, cartuns e histórias em quadrinhos à prática, é igualmente proporcional ao de leitoras que vêm adentrando tal universo ao longo dos anos. "Nunca sofri preconceito por gostar de quadrinhos, mas as pessoas costumam estranhar. Não tenho problema nenhum em admitir essa paixão, mesmo que a maioria das pessoas achem que quadrinhos são só para crianças", garante a advogada Simone Hembecker, 24 anos, dona do site Nabucomics, criado para dar vazão às tirinhas que vem criando há seis anos, desde que foi aluna de um dos cursos oferecidos pela Gibiteca de Curitiba, ministrado pelo quadrinista e artista gráfico José Aguiar (leia Pen-sata abaixo).

Inspirada no universo da faculdade de Direito e nas frustrantes tarefas atribuídas ao alunos recém-ingressos no curso (e, conseqüentemente, nos famosos estágios), Simone criou perosnagens como o rato Nabuco, o estudante nerd Xisto (que anda agarrado a um Código Civil) e a Super Amiga da Justiça, que ao invés de dar um jeito na lentidão do sistema judiciário brasileiro, é convocada para missões do tipo grampear relatórios e colocá-los em ordem alfabética.

"Eu sempre gostei de desenhar, desde que aprendi a segurar um lápis, então pensei: por que não? Criei o primeiro personagem, outros foram surgindo e cada um foi tomando sua forma. Hoje em dia sinto que eles têm vida própria, são independentes", explica Simone, que apesar de já ter publicado algumas de suas tirinhas nos jornais paranaenses (entre eles a Gazeta do Povo), confessa ter uma "certa preguiça" em levar o desenho como uma atividade profissional.

"Admiro a coragem e o empenho dos que o fazem, porque não é fácil. Sou formada em Direito e gosto do que faço, mas a vida sem quadrinhos é impensável. Acho que mesmo desdentada, aos 90 anos, estarei criando novos personagens", profetiza.

A coragem admirada por Simone é um dos fatores que mais chama atenção no trabalho da cartunista e ilustradora Pryscila Vieira, 27 anos, criadora da personagem Amely, protagonista da exposição Amely, Uma Mulher de Verdade, inaugurada na última quinta-feira, no Museu da Gravura (Solar do Barão).

Presenteada com um exemplar da revista Chiclete com Banana (de Angeli), aos 14 anos, Pryscila descobriu no ato o que queria ser "quando crescesse". "Foi aí que eu encontrei exatamente o que eu queria fazer: humor aliado a um desenho descompromissado com o realismo", conta.

Assim como Simone, Pryscila nunca teve vergonha de admitir ser fã de quadrinhos, mas revela nunca ter sido uma leitora assídua de histórias de super-heróis como a colega, que possui mais de 300 gibis da editora Marvel (que publica gibis dos personagens X-Men, Homem-Aranha, Wolverine, entre outros).

Sua atenção sempre fora atraída pela combinação "crítica mais humor inteligente", ingredientes que, por questões culturais, acabavam esbarrando num machismo, que hoje ela combate através da "boneca inflável feminista e intelectual" Amely.

"O humor sempre foi feito por homens e para homens. Por conta disso, sempre foi muito machista. A mulher sempre é um objeto, representada por um estereótipo sem voz. É a gostosa, ou a burra, ou a bonitinha que está sendo enganada para ir para a cama com um homem. Então, condicionadas a pensar que todo humor gráfico segue este padrão machista, as mulheres acabam por sequer procurar por esse tipo de arte. Sentem-se agredidas, caçoadas e jamais gastariam seu dinheiro para comprar um livro em que são reduzidas a objeto de piada. É a hora de desenhar nosso feminismo e caçoar das tantas possibilidades de piadas que o universo masculino nos proporciona", desafia.

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Links: Confira os sites das entrevistadas Pryscila Vieira e Simone Hembecker, autoras de tirinhas e cartuns:

Pryscila Vieirahttp://pryscila-freakomics.blogspot.comwww.amely.com.br

Simone Hembeckerhttp://nabucomics.cjb.net

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