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Depois de 1h27, Rollins voltou para um bis de 18 minutos, ao som de "St. Thomas" | Maurício Val/ Fotocom.net
Depois de 1h27, Rollins voltou para um bis de 18 minutos, ao som de "St. Thomas"| Foto: Maurício Val/ Fotocom.net

MPB

Passos lentos

Assim que o transe propiciado pelo show de Sonny Rolins foi completamente absorvida, a cantora baiana Rosa Passos subiu ao palco da segunda tenda. Considerada por alguns como a "versão feminina" de João Gilberto, Rosa esteve bem perto da monotonia enfadonha do conterrâneo. Com voz anasalada, a fã de Elis Regina cantou Caymmi ("Vatapá", "Marina Morena" e "O Que É Que a Baiana Tem? "), "Álibi", de Djavan, "Águas de Março", de Tom Jobim, entre outras composições próprias e outras de um repertório exaurido por aqui.

Por isso, é de se entender por que Rosa faz mais sucesso fora do Brasil do que em seu próprio país. Nos intervalos das suas interpretações mornas, a cantora jogava rosas amarelas à platéia e distribuía sorrisos igualmente amarelos, tentando ganhar o público de outra forma. Não deu. Em um país em que não faltam revelações e pessoas interessadas em fazer música nova e criativa, chega a ser incompreensível um grande festival trazer um "medalhão" que relê músicas de meio século de vida e nada acrescenta a elas. (CC)

Rio de Janeiro - O show que abriu o Tim Festival no Rio de Janeiro na quinta-feira (23) levou muitas celebridades até a Marina da Glória, local do espetáculo. "Trouxe discos para ele autografar e estou curioso para ver essa legenda. Vou ver ao vivo um capítulo importante da história da música", disse Ed Motta. "Ele" é Sonny Rollins. Marco vivo da história do jazz, o sax-tenor já tocou com John Coltrane, Miles Davis e Art Blakey. No Rio, fez as 1,5 mil pessoas esquecerem o frio do ar-condicionado e a pose da "Noite de Gala" para criar uma noite memorável.

Rollins, que não tocava no Brasil há 23 anos, entrou no palco às 21h05. Vestia camisa vermelho-sangue, calças e sapatos brancos. Não disse nada antes de entoar com vigor "They Say It's Wonderful", de Irvin Berling. E por 20 minutos pareceu que era o sax que o empunhava e não o contrário. Nos solos do trombonista Clifton Anderson, Rollins ficava de lado para a platéia e, admirado, regia o colega, como se ouvisse aquelas notas pela primeira vez.

Foi no meio de "In a Sentimental Mood", de Duke Ellington, que Rollins tomou água pela primeira vez. Os passos para chegar até a mesa foram incertos. Seu andar era pesado, deixando evidente seus 78 anos, mas contrastando com o vigor que demonstrava cada vez que improvisava. Improviso, aliás, que foi além do recorrente no jazz tradicional.

Sonny Rollins foi o pioneiro na textura strolling, que abre mão do piano e utiliza somente baixo e bateria como acompanhamento para seus solos de sax. A música de Ellington foi "detonada", – no bom sentido – e replanejada de uma forma quase abstrata.

O clima mudou com "Don't Stop the Carnival", primeira das músicas que o remeteu às suas origens latinas – a mãe do jazzista nasceu na ilha de St. Thomas (no Mar do Caribe). Embalado pelo groove-salsa do baixista Robert Cranshaw, Rollins dançou e sorriu. Também posou para fotos e filmagens de pessoas que perceberam a importância do que acontecia e largaram a mesa com tábua de frios para registrar o espetáculo.

"Tenor Madness" – de Saxophone Colossus, seu emblemático disco de 1956 – e "Serenade" seguiram antes da arrebatadora "Why Was I Born". Foi uma exaltação à música. Rollins balbuciava algo, inebriado pelo solo do jovem baterista Kobie Watkins. A platéia tentava aplaudir e era interrompida por ataques precisos de sax e trombone; jornalistas olhavam-se tentando buscar em algum lugar palavras para descrever o momento.

Depois de 1 hora e 27 minutos de show, Rollins finalmente falou. "Muito, muito obrigado, Rio de Janeiro." O músico apresentou sua banda e, com o punho esquerdo cerrado, bateu duas vezes no peito antes de deixar o palco.

A ausência foi sentida por três minutos. Em cena rara do jazz, Rollins voltou com um bis: "St. Thomas", música inspirada em histórias que sua mãe lhe contava na infância. Foram outros raros e inesquecíveis 18 minutos.

Provando que seu fôlego é de 20, e não de 78, Sonny Rollins se apresenta hoje, gratuitamente, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

*O jornalista viajou a convite do festival.

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