• Carregando...

O ano era 1927 e um paranaense decidiu que iria fazer cinema. Resolveu passar um tempo nos EUA, mais precisamente na efervescente e iniciante Hollywood, com suas dezenas de estúdios. Ele comprou equipamentos e começou a filmar a movimentação na capital do cinema mundial. Esse registro histórico está no filme Hollywood Studios. Seu autor e diretor é Arthur Rogge, uma figura quase desconhecida do cinema paranaense.

Uma cópia completa desse filme mudo está em mãos de Harry Luhn – que tem um pequeno estúdio caseiro para fazer cópias em vídeos de filmes (feitos em qualquer bitola). Ele obteve o material com Dóris, filha de Arthur. Além do documentário sobre Hollywood, Rogge realizou ainda um filme sobre a miss Paraná de 1929, Didi Caillet. "Como o Rogge só fez este dois filmes, ele caiu no esquecimento. Todo mundo fala em Aníbal Requião e João Baptista Groff, e o Rogge é um ilustre desconhecido do cinema paranaense. Estamos divulgando a existência desses filmes para que ele seja lembrado", diz Luhn, que também tem trechos da película sobre a beldade curitibana da primeira metade do século 20.

Segundo ele, alguns contatos em São Paulo informaram que pode haver um interesse da própria Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood pelo documentário. "Consegui também um contato com a Warner nos EUA. Fiz um vídeo de amostra do filme, de dez minutos, e mandei para eles", informa Luhn, que espera que algum órgão oficial brasileiro ou paranaense também demonstre interesse por Hollywood Studios. "Sei que o Museu da Imagem e do Som do Paraná tem dois ou três rolos do filme, mas a única cópia completa é a que temos", continua.

O documentário tem 74 minutos e apresenta imagens feitas por Rogge durante os nove meses que passou nos EUA. "Ele morou lá, mas nota-se que ele não tinha muito acesso aos estúdios, então filmava na rua mesmo", conta Luhn, lembrando que o diretor registrou a fachadas de estúdio como os da Metro, Fox, United, Paramount e outros que já nem existem mais, além da casa de alguns atores. "Há uma ou duas cenas em que conseguiu registrar uma externa de filmagem, mas tenho impressão que ele ficou em cima do muro para conseguir filmar. Há também cenas de atores brasileiros que estavam por lá na época, como Lia Torá e Olympio Guilherme", revela.

Arthur Rogge (1896 – 1974) era industrial, dono de uma serraria no local onde hoje se encontra a Paraná Previdência (na Rua Inácio Lustosa). A compra dos caros equipamentos de cinema o fez perder um bom dinheiro, pois eram de cinema mudo – em 1929, dois anos depois da compra, o som chegava a Hollywood com O Cantor de Jazz, e ninguém queria mais saber de filmes mudos. Mas ele acabou se recuperando financeiramente depois da venda dos equipamentos para os estúdios da Atlântida e também por fechar novos negócios com madeira.

A família de Luhn era amiga dos Rogge. "Eu gostava de ir junto com minha mãe visitá-los porque diziam que lá na casa dos Rogge tinha um homem misterioso, que tinha um estúdio de revelação na casa. Ele mesmo fazia tudo, filmava, revelava e copiava. Mas era um ambiente secreto e ele não abria para ninguém", relembra Harry Luhn. "Pela minha insistência, um dia ele começou a me dar uma pequena atenção, deixou que eu entrasse no estúdio, mas sem mexer em nada, e me deu um pedaço de filme. Isso me fez, mais tarde, ter interesse pela sua obra", completa.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]