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Desativado na década de 1980, o Hospital Colônia de Barbacena (MG) fez milhares de vítimas. | Luis Alfredo/Divulgação
Desativado na década de 1980, o Hospital Colônia de Barbacena (MG) fez milhares de vítimas.| Foto: Luis Alfredo/Divulgação

Convites não têm faltado para que Daniela Arbex deixe o interior de Minas e o jornal de São João Del Rey, no qual trabalha há 21 anos. Ela resiste. “Gosto daqui, de levar minha filha à escola. E o jornal, embora pequeno, me permite fazer o jornalismo que gosto e acredito.” Foi lá que, em 2009, Daniela descobriu as fotos que Luís Alfredo tirou no antigo Hospital Colônia de Barbacena – o maior hospício do Brasil –, em 1961. Foi um choque descobrir que aquele horror, um verdadeiro genocídio, tenha ocorrido de forma impune.

Cerca de 60 mil pessoas foram vítimas da barbárie do Estado, cometida com a conivência de médicos, funcionários e da própria população de Barbacena. Chocada com a realidade retratada nas fotos, Daniela partiu em busca de sobreviventes. Localizou 20. Criou uma série de reportagens publicada pelo jornal. Escreveu um livro - de não ficção, na tradição de Gay Talese. Holocausto Brasileiro virou best-seller. Veio o convite da HBO para que Daniela fizesse um filme.

É esse filme, um documentário terrível e necessário, que passa neste domingo (20), no Max, às 21 h. Na sequência, Holocausto Brasileiro será incorporado à grade da HBO Latin America e exibido pelas TVs de todo o continente. É impactante. Sua primeira reação será perguntar – como isso foi possível? Pessoas internadas sem diagnóstico.

Os indesejáveis – da família e da sociedade – submetidos ao confinamento e ao extermínio. Histórias como a de Zé Carlos, que tenta, tantos anos depois, saber o que ocorreu com sua mãe e descobre – momento doloroso - que ela foi internada por seu pai.

Repórter, Daniela diz que não sabia se conseguiria escrever para livro. “Não é a mesma coisa”, reflete. Também não sabia se conseguiria filmar. “Não tinha nenhuma experiência com audiovisual. Felizmente, encontrei pessoas maravilhosas, cujas habilidades se somaram às minhas.” Como ela diz, “são histórias tão pungentes que não precisam de impacto. Era só não estragar”.

O filme levanta questões como responsabilidade. O mais importante é romper o silêncio. “Tenho feito muitos debates. As pessoas chegam e dão seu testemunho. Sempre tem alguém com algum familiar que viveu aquele inferno. As pessoas se sentem resgatadas, e isso não tem preço.”

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