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Experiência metalinguística leva Bruna Bloch ao seu passado como estudante de Jornalismo | José Aguiar/Reprodução
Experiência metalinguística leva Bruna Bloch ao seu passado como estudante de Jornalismo| Foto: José Aguiar/Reprodução

Opinião

Jogo de oposição de estilos e a coesão como trunfo

Não há como negar: o cuidado gráfico de Sangue, Suor e Nanquim impressiona à primeira vista e dá motivos prévios suficientes para embarcar na proposta metalinguística toda.

Alternando entre quadrinhos de Ducci, responsável pelos momentos mais delirantes, DW Ribatski, que faz a migração ao interior da história dentro da história, e José Aguiar, no primeiro plano dos acontecimentos, o livro é um mérito estilístico por reunir três traços completamente distintos e, ainda assim, imprimir coesão.

Para quem leu o primeiro Vigor Mortis Comics, fica a impressão de que os roteiristas estão mais maduros e fluentes. E, sem dúvida, ao trazer o traço de Ducci, que ainda não havia trabalhado com a companhia, o material cresceu em força e significado.

Mesmo no epicentro do gênero horror, muitas vezes excessivamente arbitrário e sem preocupação mais profunda com o entrelaçamento de palavras, Sangue, Suor e Nanquim vale pelo esmero gráfico e a diversão toda, enfim. GGG

Lançamento

Vigor Mortis Comics 2 – Sangue, Suor e Nanquim

Solar do Barão (R. Pres. Carlos Cavalcanti, 533 – Centro), (41) 3321-3250. Hoje, às 20 horas. Entrada franca. O livro tem autoria de José Aguiar, Paulo Biscaia Filho, DW Ribatski e André Ducci. Quadrinhofilia, 120 págs. R$ 20. HQ

Bruna Bloch integra o imaginário cultural de Curitiba. Criada pelo dramaturgo e diretor de cinema Paulo Biscaia Filho, a ambígua jornalista e escritora insere-se na gama de personagens que podem transitar por diversas tessituras narrativas – do horror ao suspense ao drama – e simultaneamente se incorporar a um processo amplo de convergência, transmidiático, entre o cinema, o teatro e a literatura.

Personagem-motriz um tanto ambígua e perversa, Bruna ressurge em livro numa remissão ao passado através do selo Quadrinhofilia, que a traz para Vigor Mortis Comics 2 – Sangue, Suor e Nanquim, com lançamento hoje, às 20 horas, no Solar do Barão.

A obra conta com quadrinhos dos curitibanos José Aguiar, editor do selo, arte educador e colaborador da Gazeta do Povo, DW Ribatski, artista plástico e professor, e André Ducci, ilustrador e gravurista. Os três intercalam-se para descrever Bruna Bloch em seus tempos de estudante de Jornalismo. E não é somente isso: a obra ainda se propõe a um exercício metalinguístico bem peculiar.

Continuação descontinuada de Vigor Mortis Comics, antologia de oito HQs retirados do repertório tradicional da companhia Vigor Mortis, o segundo volume é uma espécie de fenda entre personagens do longa-metragem Nervo Craniano Zero e da peça Seance – As Algemas de Houdini.

A história se passa em 1969, em um país indefinido sob o jugo de um governo opressor. Bruna vive entre as aulas da faculdade, consumo irrestrito de substâncias ilícitas, entrevistas no jornal da qual é estagiária e os rascunhos da saga de Lavínia, a enfermeira sem passado e abalroada por estranhos acontecimentos paranormais – ela tem o dom de ressuscitar os mortos por 60 segundos.

"Eu e o Paulo tivemos a ideia de montar um quebra-cabeça entre dois momentos do universo do Vigor Mortis, sem necessariamente ter um eixo regulador. A ideia principal foi entregar um livro em que mesmo quem nunca teve contato com a obra geral pode ler e apreciar de forma autônoma. Ao fã que acompanha a trajetória da companhia, temos um novo caminho experimental, inclusive com uma personagem especialmente criada para este novo projeto, a Lavínia", afirma José Aguiar, um dos roteiristas do livro.

A ideia propulsora de trazer a personagem Bruna Bloch para o HQ surgiu em 2011 quando José Aguiar sugeriu a Biscaia uma adaptação que rompesse com as barreiras formais. Vigor Mortis, o primeiro livro, recebeu indicação ao prêmio de melhor Edição Especial Nacional no Troféu HQ Mix.

Trajeto

De fato, a Cia Vigor Mortis é um aparato ideológico singular. Fundada em 1997, a companhia curitibana se inspira no Théâtre du Grand-Guignol, fundamentado em cenas grotescas-extravagantes e profusão incondicional de vísceras. O propósito: desconfortar e chocar o público. Com estas referências entranhadas no horror e agregada de elementos da cultura pop – além de uma boa dose de humor –, Biscaia trabalha sempre à beira do absurdo, do bizarro e do experimental. Tudo com muito sangue.

"Nós buscamos construir um universo orgânico. Apesar de não saber exatamente para onde estamos caminhando com todas as nossas empreitadas, tudo o que fazemos tem sido muito bem planejado e com o envolvimento de grandes profissionais", alega Biscaia. "Ao criar novas plataformas, trazemos uma perspectiva nova para cada personagem, damos vida e expandimos nossos trabalhos", completa.

Além do lançamento, haverá mesa-redonda com os autores e sessão de autógrafos.

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