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A própria Marisa Orth afirma que jamais conseguiria ser uma mocinha de novela das oito. Mais conhecida pelos papéis cômicos que viveu na televisão (o exemplo mais óbvio é a Magda, de Sai de Baixo), a atriz já interpretou inúmeras personagens "sérias" em seus 23 anos de carreira – aliás, iniciou-se na carreira na Escola de Artes Dramáticas da Universidade de São Paulo. Uma dessas personagens é a fã psicótica que seqüestra um escritor em Misery, peça inspirada pela trama de Stephen King. Também participou da tragédia Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello, e Três Mulheres Altas, de Edward Albee, montada em 1995, em que dividia a cena com Beatriz Segall e Nathália Timberg.

Certo. Neste fim de semana ela está em Curitiba com a comédia Fica Comigo Esta Noite (escrita por Flavio de Souza e dirigida pelo cineasta Walter Lima Jr.), peça que a tornou conhecida do grande público em 1988. Mas, há muita tragédia nesta história em que o marido, interpretado por Murilo Benício, morre repentinamente e os dois passam a noite em claro, no velório, tentando entender os motivos. Seria trágico se não fosse cômico.

Como ela mesma explica, em entrevista concedida ao Caderno G, a atriz faz parte de uma geração do teatro que se aproveita do humor para falar sério com o público. Entre outras coisas, ela conta que não está interessada em rótulos. Comédia, tragédia, qualquer gênero será bem-vindo para essa atriz experimentada, desde que lhe apresentem um bom texto.

Seu papel em Fica Comigo Esta Noite tornou-a conhecida do grande público, em 1988. Quase 20 anos depois, você participa de uma nova montagem do espetáculo. Por que decidiu fazer de novo o mesmo papel?

Marisa Orth – Não é legal? Foi uma coincidência, na verdade. O produtor da peça me convidou para participar de um outro espetáculo, mas recusei porque estava exausta após gravar a novela Bang-Bang. Então, ele me contou que estava começando a produzir Fica Comigo Esta Noite, com o Murilo Benício e a Adriana Esteves, quando ela descobriu que estava grávida. Quando ouvi isso, eu disse: "Como assim? A peça é minha!" Me deu um ciúme tão fatal! "Nada disso, essa peça sou eu que faço!", eu falei. Ele concordou e me chamou para ensaiar na semana seguinte, uma loucura.

A primeira montagem da peça, em 1988, tinha partes tristes, que não foram privilegiadas na montagem feita por Luiz Fernando Guimarães, em 1990. Neste sentido, como você vê a peça dirigida pelo Walter Lima Jr.?

Na verdade, a peça sempre foi uma grande comédia com partes tristes. A direção que a Deborah (Bloch) e o Luis (Fernando Guimarães) deram pesou para a comédia, mas não abandonou o lado trágico. O bonito é exatamente essa mistura. Mais do que uma tragicomédia, acho que é uma comédia lírica.

Você é uma atriz cômica que, no entanto, já fez papéis mais sérios no teatro e no cinema, como a jornalista de Doces Poderes (filme de Lúcia Murat). A comédia é a sua preferência?

Me considero uma atriz, em primeiro lugar. Mas, gosto muito de saber fazer comédia. Talvez essa seja uma tendência que tenho. Na verdade, acho que sou muito... tragicômica.

Inclusive como pessoa?

Como pessoa eu sou tragicômica, é verdade (risos). Adoro fazer uma piada cáustica. Ah, eu sou engraçada, sim! Sei fazer humor. É uma questão de timing, além de ter me aprimorado. Afinal, ninguém ensina ninguém a contar piada. Não tenho nada contra a comédia. mas não quero ser uma humorista. É claro que fazer a mocinha da novela das oito é difícil pra mim. Acho que nunca fui mocinha, desde os meus 14 anos. Mas, tem um monte de papéis aí. No teatro, eu exercito muito mais o drama, como em Seis Personagens à Procura de um Autor e Três Mulheres Altas.

Até mesmo em Fica Comigo Esta Noite você exercita o trágico.

Essa peça é muito bacana porque você está rindo e de repente a personagem vira e pega teu coração. Aí você pensa que vai chorar e começa a avacalhação de novo. Acho que sou de uma geração de atores que começou a usar a comédia para falar de assuntos sérios. O besteirol é isso. Batalhas de Arroz num Ringue para Dois, do Mauro Rasi (com Cláudia Raia e Miguel Fallabella), é formada por vários rounds de um casal. É engraçadérrima. Agora, que você sai com nó no peito, sai. É um tipo de teatro mais moderno, que vem sendo feito desde Asdrúbal Trouxe o Trombone (de Hamilton Vaz Pereira) , (o diretor) Vicente Pereira, Bailei na Curva (de Júlio Conte). São todas peças de uma época em que a comédia e o drama se misturaram. Veja os atores da minha geração. Todo mundo faz comédia e faz drama. Puxa vida, eu também quero! Só por que rolou o Sai de Baixo – super bem, graças a Deus! – eu não vou poder mais fazer drama?

Tem vontade de fazer um papel dramático na TV?

Tenho sim. Mas, não é uma necessidade urgente. Acho que a comédia é tão ampla: tem o chanchadão, o humoristmo, tem a comédia mais sofisticada...

Como foi a experiência como uma das apresentadoras do programa Saia Justa?

Uma delícia. O programa foi muito bem-sucedido, chegou a pontuar junto com a TV aberta Era a Globo, o SBT e a gente. E pus em prática um lado meu bacana (risos). Não tenho mais idade de recusar elogios, já fiz isso a vida inteira. Sei mediar conversa, gosto de falar, tenho interesses variados. No Saia Justa tive a chance de ter pautas já digeridas, um monte de assuntos maravilhosos do mundo inteiro. Além disso, adoro bater papo com os amigos. Era um empregão! E as pessoas me adoravam, me achavam inteligente. Eu tinha feito a Magda, então, estava com muitos bônus a meu favor. Qualquer coisa que eu falasse o povo ficava impressionado. "Nossa, ela concatena uma frase com a outra!"

E por falar nisso, a Magda foi o papel que a consagrou na televisão. Imagino que até hoje muitas pessoas a chamem assim nas ruas.

É um pouco aflitivo e, ao mesmo tempo é bom porque, poxa!, tudo o que a gente quer na vida é fazer sucesso. Eu falo "Gente, acabou o programa! Agora eu faço o quê, me mato?". As pessoas me dão muita bronca na rua. Eu fico sem saber o que falar!

A Banda Vexame tem muito a ver com o seu trabalho como atriz, pelo tom humorístico e teatral. Você se considera uma cantora?

Eu tento. A banda tem um formato de programa de TV. Eu interpreto a cantora Maralu Menezes, que é a apresentadora. Os outros cantores são os convidados. A gente finge que é uma transmissão ao vivo e a Maralu canta. É o mais fácil pra mim.

Fácil cantar?

Não, mas é fácil atuar. Então, eu faço uma mulher que canta. (risos)

A banda continua?

A banda hiberna, mas não morre. A gente acabou de fazer um revival – não há nada mais brega do revival e nada mais cafona do que Fênix! Foram três shows no Sesc Pompéia (em São Paulo). Há pouco tempo, conseguimos espaço na grade da TV Senado. A Maralu vai tentando, ela não cansa! E, olha, estamos a fim de dar uma voltada! Curitiba seria uma grande idéia, tínhamos um público muito fiel.

Você estreou nos palcos em 1983, na peça Una Serata Al Sugo, de Miroel Silveira...

Nossa, já tenho 23 anos de carreira! O pior é a impressão de que você ainda está começando. É uma profissão danada. Quando você começa um trabalho tem a sensação de que recomeça tudo do zero.

Desde então, você construiu uma carreira sólida nos palcos, na TV e no cinema. O que lhe dá mais prazer?

Pergunta difícil! Sou Libra com ascendente em Libra (risos). Mas é inegável que no teatro o ator desliza melhor, é mais a nossa praia. É uma mídia mais voltada para o ator. A própria repetição, fazer várias vezes as mesmas cenas, te dá muito poder. E é o ator e platéia: na hora da estréia, o diretor já foi, todo mundo já foi, tchau! Resta o público.

O que fará depois da peça?

Eu estava fazendo o filme Eu Prefiro a Maré, da Lucia Murat, com quem eu já havia trabalhado em Doces Poderes. Estávamos quase terminando de filmar quando tivemos problema com os patrocinadores. Agora, estamos captando mais um pouquinho de grana para recomeçar as filmagens. É um musical inspirado em Romeu e Julieta, sobre dois jovens de facções inimigas de um morro no Rio. Eu faço a professora de dança da ONG onde eles se encontram. Sou uma espécie de padre de Romeu e Julieta, pois faço ponte entre os dois. Até o final do ano acabamos de filmar.

Qual personagem mais gostou de fazer, seja pelo prazer da interpretação ou pelo reconhecimento do público?

Amo a Maralu. Ela improvisa sempre e já está completando 11 anos de existência. E a Magda, sem dúvida. Poxa, uma amiga, né? Ela foi importante na minha vida. Nunca fui tão burra e nunca fui tão amada. (risos).

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