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Circo Negro: esquetes experimentais deixa atores expostos | Rosano Mauro/Divulgação
Circo Negro: esquetes experimentais deixa atores expostos| Foto: Rosano Mauro/Divulgação

Não é um espetáculo simples. Quase sem palavras, esquetes experimentais seguem uma sequência em que o teatro é desnudado e seus atores muito expostos – ao extremo de, virados de costas, baixarem as calças e aguardarem tomates. Circo Negro, com texto do argentino Daniel Veronese, está em cartaz nesta sexta-feira e sábado no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. A peça representa Curitiba no evento, ao lado de Clarice Matou os Peixes, da Cia. do Abração, que teve sessões na terça e quarta-feira.

O curioso é que Circo Negro tenha sido selecionada não apenas por esse, mas vários festivais, sem ter recebido destaque na última premiação do Troféu Gralha Azul, em dezembro passado. Durante a cerimônia, simpatizantes da companhia gritavam "cadê Circo Negro?", num protesto bem-humorado.

Além de ter entrado para a mostra Novos Repertórios durante o último Festival de Curitiba, com apresentações no Teatro HSBC, o espetáculo foi convidado para o Festival Internacional de Londrina, onde se apresenta no fim de agosto; para o Festival de Teatro Brasileiro, que em agosto e setembro leva espetáculos paranaenses a São Paulo e ao prestigiado Porto Alegre em Cena, também em setembro.

Palavras

Ao contrário do foco performático de Circo Negro, o próximo trabalho da CiaSenhas prioriza a palavra e sua enunciação. O autor do texto é o mesmo Veronese, agora com Equívoca Fuga de Señorita Apretando un Pañuelo de Encaje sobre Su Pecho.

O interesse do grupo é trabalhar com a peça no original, junto a uma tradutora que auxilie o elenco a extrair de cada trecho uma essência cênica. A estreia desse texto de 1996, definido pelo autor como uma "tragicomédia de costumes em chave de humor negro", é prevista para 2014.

Infantil

Alice catou os peixes?

A fila irrequieta dentro do Sesc de São José do Rio Preto (SP) dava mostras de que o feriado da Revolução Constitucionalista podia estar chegando ao fim, mas o dia seguinte seria igualmente de folga nessas férias de inverno. Poucos sabiam que a peça a seguir era curitibana. Clarice Matou os Peixes, vários murmuravam, enquanto crianças perguntavam insistentemente aos pais o que isso queria dizer.

Quando o espetáculo começou, dando o tom, logo no início, de musical com canções originais, o auditório silenciou e assim permaneceu. Os olhares vidrados acompanhavam o espetáculo agitado – que segura a atenção sem dar lugar ao tédio infantil.

O nome de Clarice é citado em vários momentos, mas a peça não fala de Clarice Lispector, que assina o conto "A Mulher Que Matou os Peixes", de que o espetáculo dá sua visão.

Numa investigação "policial", três amigos questionam quem teria, afinal, dado cabo de dois peixinhos. Em sua defesa, cada um relembra sua relação com animais de estimação, procurando provar o quanto tem apreço pelos bichos. Num dos momentos mais inspirados, eles se sentam à máquina de escrever tal qual um escrivão de polícia, a relatar a confissão do acusado.

Outros elementos do universo da escritora surgem, como a galinha do conto "Uma Galinha", do livro Laços de Família. Ali, a morte surge límpida diante dos olhos das crianças, ainda que num contexto lúdico.

"Há tempos o teatro para crianças deixou as histórias de fadinhas, de falar só de determinadas coisas e de determinadas maneiras", contou à reportagem a diretora da Cia. do Abração, Letícia Guimarães.

No final edificante, uma mensagem ambiental. Quem matou os peixes fomos nós, que poluímos os rios e mares.

A jornalista viajou a convite do festival.

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