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Reconstituição de época minuciosa e trilha sonora são destaques da série Boardwalk Empire | Divulgação/HBO
Reconstituição de época minuciosa e trilha sonora são destaques da série Boardwalk Empire| Foto: Divulgação/HBO

Nova York - Numa tarde escaldante de junho passado, em frente a um clube de poloneses em Greenpoint, bairro no Brooklyn, em Nova York, homens trajando pesados smokings de lã, com os cabelos penteados para trás e finos bigodes como que riscados a lápis, secavam suas testas. Sofrendo com o calor excessivo, pareciam figuras saídas de uma ilustração de Peter Arno (1904 – 1968), célebre cartunista da revista The New Yorker. Perto dali, havia algumas mulheres jovens e muito esbeltas em cintilantes vestidos longos. Algumas usavam uma espécie de cocar de penas; outras ostentavam papelotes nos cabelos. Mas, como ali é o Brooklyn, onde as pessoas vestem modelitos estranhos o tempo todo, não chamavam nenhuma atenção.

A poucos quarteirões de distância, num terreno originalmente destinado a um condomínio, um calçadão à beira-mar de uns 90 metros, como os de antigamente, surgira ali milagrosamente, e não apenas como fachada, mas ostentando casas noturnas, restaurantes, um estúdio de fotografia, lojinhas de balas e bombons, e mesmo um estabelecimento no qual, por 25 centavos de dólar, podia-se dar uma olhadinha em bebês prematuros. Só que as incubadoras estavam vazias. Assim como as lojas. O único ruído no lugar era o de um casal de gaivotas gritando, sem dúvida decepcionado com a ausência de restos ou lixo. No final do calçadão, a areia da praia deserta cozinhava ao sol, mas onde deveria estar o mar havia, em vez disso, uma parede de contêineres de metal.

Essa novíssima cidade-fantasma é o cenário de US$ 5 milhões Boardwalk Empire, nova série da HBO que estreou nos Estados Unidos em 19 de setembro e começa a ser exibida no Brasil no próximo domingo, dia 17, às 22 horas, no canal pago. Já há mais de um ano o lugar periodicamente ganha vida, com centenas de atores, como aqueles fazendo hora em frente ao clube. Estavam se preparando para filmar a cena de um jantar social em que Hardeen, irmão mais novo do ilusionista Houdini, consegue se livrar de uma camisa-de-força colocada nele do avesso.

Trama

Boardwalk Empire se passa em Atlantic City, em 1920, durante o primeiro ano da Lei Seca, e o grande cenário ao ar livre, as roupas vintage e o tipo de pesquisa que se delicia com detalhes como o do irmão de Houdini são provas da inusitada e meticulosa ambição dos responsáveis pela série ao recriar uma época que ocupa lugar secundário na consciência histórica norte-americana.

Daniel Okrent, ex-editor do The New York Times que acaba de publicar uma história do período, Last Call: The Rise and Fall of Prohibition [última chamada: ascensão e queda da Lei Seca], conta que, quando começou sua pesquisa, ficou surpreso com o quão pouco a maioria de nós sabe sobre aqueles anos, os quais tiveram efeito bastante profundo na vida política e social dos Estados Unidos. A Lei Seca teve a ver com a instituição tanto do imposto de renda quanto do sufrágio universal, e alterou radicalmente as relações dos cidadãos com o governo. Também levou homens e mulheres – aqueles que estivessem a fim de tomar uma bebida, é claro – a um nível de intimidade nunca antes imaginado até então.

"Tudo o que sabemos sobre aquela época se resume a Robert Stack como Eliot Ness", diz Okrent, referindo-se à série de televisão Os Intocáveis, de 1959. "A Lei Seca é como um segredo cheio de culpa, ou uma vergonha", continua ele, explicando por que o período foi até hoje tão pouco estudado. "Como se explica que durante 13 anos tenha vigorado uma emenda à Constituição dos Estados Unidos que proibia tomar um drinque legalmente? Não dá nem pra imaginar."

A série Boardwalk Empire é baseada, em parte, num livro homônimo, uma história de Atlantic City desde sua criação, no século 19, até os dias atuais, de autoria de Nelson Johnson, um juiz da Suprema Corte de Nova Jersey. Em 2006 a HBO, já àquela altura procurando uma série ambiciosa para substituir Os Sopranos, mostrou o livro, cuja opção de compra era do ator Mark Wahlberg e de seu parceiro de produção, Stephen Levinson, a Terence Winter, autor de vários episódios dos Sopranos. "Eles disseram: ‘Talvez você tire alguma coisa daí’", recorda Winter, "e acrescentaram que, ah, a propósito, Martin Scorsese está interessado, se vier a dar certo. Respondi que, nesse caso, certamente tiraria alguma coisa dali." Scorsese acabou dirigindo o episódio piloto e se tornou um dos produtores executivos da série.

Winter inicialmente se interessou pela Atlantic City dos anos 50 e por um personagem chamado Skinny D’Amato, dono de uma casa noturna e íntimo da turma de Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr. e cia. Mas, rapidamente, voltou-se para a década de 20 e Enoch Johnson, conhecido como Nucky, de longe o personagem mais carismático do livro. O apelo daquele período era que poucas vezes tinha sido recriado na tevê, ou mesmo no cinema, explica Winter. "Sempre adorei a maneira como as pessoas falavam na década de 20, e as roupas, os carros", prossegue. "Foi um período transitório. O mundo estava mudando tanto. E, de certa forma, foi um tempo muito moderno. Já faz quase um século, mas havia aviões e telefones, as pessoas iam ao cinema o tempo todo."

Serviço:

Boardwalk Empire. Estreia dia 17 de outubro, às 22 horas, na HBO.

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