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São Paulo - Três meses antes de morrer, aos 91 anos, em 2010, o pianista Hank Jones deixou um singelo atestado de sua genialidade ao interpretar temas espirituais em parceria com o baixista Charlie Haden. O registro foi feito em apenas dois dias, com o intuito de produzir compactas improvisações sobre o cancioneiro gospel americano. O resultado é Come Sunday, uma coda para o impecável legado do mais elegante dos pianistas do pós-bop. A conversa da dupla, lançada nos EUA esta semana, é uma aula de sutileza e disciplina.

As melodias são interpretadas sem firula, deixando os corais quase intactos. Não há, como é de costume, releituras jazzísticas, harmonizações sofisticadas ou deslocamentos melódicos.

O intuito é destilar cada hino até que sobrem apenas os elementos mais puros. Até que a luz natural inerente às composições ilumine o diálogo entre baixo e piano. À beira de sua partida para o país desconhecido, a forma de Jones está impecável, como invariavelmente esteve ao longo de uma carreira de mais de 60 anos, em que tocou com todo mundo, de Miles Davis a Ella Fitzgerald.

Seu inconfundível toque pianístico, sutil sem ser frágil, leve sem perder a contundência rítmica, desenha solos elegantes sobre as canções, com o tipo de objetividade que mesmo um mestre desta estirpe só atinge na fase final de sua produção. A abordagem é direta: tema, não mais do que um chorus de solo, e tema novamente. As faixas que duram por volta de três minutos, e na medida em que Come Sunday progride, se estabelece um ritmo constante de improvisos graciosos, que obrigam o ouvinte a prestar atenção.

Serviço:Come Sunday, de Hank Jones e Charlie Haden. Emarcy, US$ 10 (inportado). Jazz.

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