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Desde que Mel Gibson foi detido por dirigir embriagado e em alta velocidade numa rodovia de Malibu, poucas personalidades da comunidade judaica de Hollywood reagiram publicamente às declarações anti-semitas feitas pelo ator.

Gibson, que também é diretor, foi formalmente acusado de dirigir embriagado na quarta-feira, seis dias após sua prisão e subsequente discurso violento em que disse a um policial que todas as guerras são causadas por judeus.

Na terça-feira, Mel Gibson divulgou um comunicado dizendo: "Quero pedir desculpas especificamente a todos da comunidade judaica pelas palavras mordazes e danosas que proferi".

O ex-vice-presidente da AOL Time Warner Merv Adelman ficou tão injuriado com a ausência de ultraje manifestado por uma indústria fundada e liderada por muitos judeus que pagou um anúncio de um quarto de página no Los Angeles Times para protestar contra a falta de protestos.

"O que essa comunidade teria feito se Mel Gibson, embriagado, tivesse dito impropérios sobre 'mexicanos sujos' ou mesmo usado a 'palavra n' (referindo-se a negros) em tom insultuoso, como fez com a palavra 'judeus'?", perguntou Adelman no anúncio.

Pelo menos um ator adotou uma posição pública. O comediante Rob Schneider, que é filho de pai judeu e mãe filipino-americana e astro dos filmes "Gigolô Americano", publicou um anúncio no Web site da publicação especializada Variety prometendo nunca mais trabalhar com Mel Gibson.

O colunista de cinema do Los Angeles Times, Patrick Goldstein, se indagou porque os "grandes de Hollywood" - como o diretor Steven Spielberg e chefões de estúdios como Ron Meyer, da Universal, Jeffrey Katzenberg, da DreamWorks, e Brad Grey, da Paramount - vêm mantendo silêncio sobre o incidente envolvendo Mel Gibson.

Um porta-voz de Spielberg disse que o diretor se encontra de férias e impossível de ser contatado.

O colunista interpreta o silêncio dos líderes de hoje em Hollywood como a continuação de um padrão de tentar encaixar-se no mundo americano, algo que, no passado, levou atores como Emmanuel Goldenberg e Muni Weisenfreund a mudar seus nomes para Edward G. Robinson e Paul Muni.

"Eles pensam: 'O que vai acontecer se ele (Gibson) sair desta ileso, e eu tiver dito alguma coisa? Ele não vai querer trabalhar comigo quando eu precisar dele"', teria dito o produtor Howard Rosenman, segundo Goldstein.

Na terça-feira, a rede ABC cancelou uma minissérie sobre o Holocausto que estava sendo produzida por Gibson, católico tradicionalista que construiu sua própria igreja em Malibu, mas se recusou a dizer que o cancelamento guardasse relação com a polêmica envolvendo o diretor.

Gibson dirigiu o blockbuster de 2004 "A Paixão de Cristo", sobre as últimas horas de vida de Jesus. O filme foi criticado por alguns setores como sendo anti-semita, por retratar os judeus como assassinos de Cristo. Seu pai descreveu o Holocausto dizendo "talvez não seja inteiramente ficção, mas em sua maior parte é, sim".

O cineasta e crítico da revista Time, Richard Schickel, disse que a cautela de Hollywood se deve em parte ao temor de fazer críticas a um dos astros mais vendáveis do cinema.

"Não acho que essa seja a única razão, mas acho que muitos pensam que ele (Gibson) vai superar esta tempestade e conservar sua influência como astro e diretor. Se for isso o que estão fazendo, é deplorável", disse Schickel.

A colunista de cinema do Los Angeles Weekly Nikki Finke disse que há pessoas se manifestando e prometendo que não voltarão a trabalhar com Gibson. Entre as que já o fizeram estão o agente Ari Emanuel, que pediu um boicote ao diretor, e a presidente da Sony Pictures, Amy Pascal, que qualificou as declarações de Gibson como "incrivelmente decepcionantes".

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