• Carregando...
O amor casto entre a mortal (e virgem) Bella e o vampiro Edward é uma febre | Divulgação
O amor casto entre a mortal (e virgem) Bella e o vampiro Edward é uma febre| Foto: Divulgação
  • A abstinência sexual pregada pelos Jonas Brothers faz sucesso entre mulheres

Em um mundo onde as distâncias pouco significam graças à globalização e às tecnologias, jo­­vens da China, do Brasil ou da Di­­namarca já sonharam em estudar bruxaria em Hogwarts, na carteira ao lado do inglesinho Harry Potter. Agora, querem mesmo é estar na pele dos adolescentes vampirescos criados por uma escritora do Arizona, Estados Unidos.

Outros, muitos nem tão jo­­vens assim, abdicaram dos praze­­res do sexo para seguir a abstinência pregada pelos três irmãos que integram a banda Jonas Brothers. A psicóloga Rosa Endo se deparou algumas vezes com pacientes mulheres, às vezes, com mais de 30 anos, que decidiram ser castas como dizem ser seus ídolos norte-americanos.

O consumo maciço desses produtos leva a pensar se o gosto, cada vez mais homogêneo dos jovens, não indica um conservadorismo em suas preferências culturais. "Com o surgimento de tantas opções de entretenimento, os jovens estão formando uma cultura horizontalizada, isto é, participando de muitas atividades, a maioria delas su­­per­­ficiais e agradáveis, oferecendo prazer imediato, mas sem profundidade ou reflexão", considera Denize Araújo, coordenadora do Mestrado e Doutorado em Comunicação e Linguagens e da Pós em Cinema da UTP.

Para Ana Luísa Fayet Sallas, professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná, há várias formas de viver e experimentar a juventude, que podem se dividir em inúmeras tribos como os góticos, os rappers, os punks, os agroboys. Celina Alvetti, professora de Cinema do Curso de Comu­nicação Social da Pontifícia Uni­versidade Católica do Paraná, con­­corda com ela. "Cabem no mundo diferentes modos de vida, de pensar. Até porque é pelo confronto de diferentes ‘pensares’ que o mundo se move, transforma-se. Ou isso é conservador?", reafirma.

No mundo contemporâneo basta um clique para trocar experiências, se conectar com o que há de mais novo e se mobilizar. "Clicando se envereda por lugares desconhecidos, e isso é sempre excitante, porque é uma articulação que os jovens mesmo procuram, é um código de referência absolutamente da nossa época", diz Ana Luísa. Se por um lado, a internet e o excesso de canais a cabo elevam a disponibilidade de informação a grandes potências, por outro, pode induzir à mesmice.

"Diante do excesso de informação, da perda de referenciais e da liquidez do nosso tempo, há uma tendência ao conservadorismo cultural", diz Celina. A Era da In­­for­­mação trouxe, sem dúvida, imensas possibilidades estatísticas, informativas, quantitativas, mas está longe de oferecer qualidade e reflexão, na opinião de De­­nize. "A educação está perdendo muito para os games, para a telefonia celular móvel e para os gadgets que se multiplicam cada vez com mais facilidade, a preços acessíveis. O cartesianismo de ‘penso logo existo’ cedeu seu lugar ao "clico logo existo" da Internet", diz.

Cultura empacotada

A mística dos vampiros, tão em voga por conta da série de livros sa série Crepúsculo, de Stephenie Meyer, não é algo inventado pela indústria cultural, mas incorporado por ela.

"É algo que surge a partir dos darks, dos emos, com uma atmosfera noturna, e é ressignificado de modo positivo, com vampiros bonzinhos", diz Ana Luísa.

Valores estéticos inovadores, diz Celina, são reelaborados pela indústria cultural e devolvidos ao mercado mais palatáveis. "Veja o caso da montagem fragmentada, atualmente presente nos filmes de ação (e não só), por exemplo. Ou podem ser vanguarda conservadora, como tanto acontece nas artes, especialmente por conta de quem tenta não perder poder."

Para Denize, a cultura está se hibridizando, assim como os meios de comunicação. "A Cul­­tura com C maiúsculo deu lugar a diversas culturas, as dos blogueiros, dos DJs, dos punks, do hip-hop, e assim por diante. As assim chamadas ‘subculturas’ se transformaram em culturas emergentes", diz, citando como exemplo adaptações para o cinema de histórias em quadrinhos, games, literatura underground e trash.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]