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Muita gente torce o nariz quando se defronta com uma mostra de arte contemporânea. As peças expostas nem sempre são o que comumente classificamos como arte. Por exemplo, uma parede pintada em bege. Ou uma caixinha cheia de tijolos ao lado do rodapé de uma parede. Pois, essas são algumas das obras que integram o 61.º Salão Paranaense, instalado no Museu da Arte Contemporânea de Curitiba, desde o final de dezembro. Gostemos ou não, as obras são (quase sempre) frutos de conceitos bastante precisos, criando variações de significados em relação ao público, ao espaço expositivo, à própria arte, e assim por diante.

Por isso, a reportagem do Caderno G percorreu a o Salão com o crítico de arte Paulo Reis, um dos curadores da mostra. Ele explica que o evento conta com uma seleção de obras (leia no quadro ao lado) que abrange um panorama amplo de discussões presentes na arte contemporânea. Uma delas são reflexões sobre o sujeito criadas a partir de inquietações pessoais de seus autores.

É o caso dos tijolinhos na caixa de papelão, de Brígida Baltar, cujo projeto ainda conta com desenhos de paisagens na parede, livros e cadernos de linhas, todos feitos com auxílio de pó de tijolo. "Ela pegou uma série de tijolos da casa dela, transformou tudo aquilo em pó, e ela vem trabalhando com esse pó do tijolo da antiga casa dela e cria essas passagens de sonho, essas paisagens imensas, que estão relacionadas ao ninho, a esse espaço muito caro à gente. É uma idéia do subjetivo, é uma artista que vai buscar nas memórias o manancial de sua criação" diz o curador.

Esse é o caso das pequenas construções feitas com blocos de madeira por Laerte Ramos. Lixadas e pintadas, as montagens não ultrapassam a altura do rodapé do espaço expositivo. O trabalho mapeia a cidade de São Paulo de maneira afetiva, recorrendo à memória e à infância por empregar os blocos usados nas brincadeiras infantis.

Outras obras discutem a própria instituição do museu. É o caso do trabalho de Jared Domício, uma parede pintada que "escorre" pelo chão do espaço expositivo. "Museu é como uma igreja, é uma instituição simbólica, onde chão, parede, iluminação, tudo está carregado de significação. O que o trabalho do Jared está trazendo é essa discussão da arquitetura própria dos museus", conta Reis. A noção de arte como algo inútil é trabalhada por Edígio Rocci, em três obras instaladas em um quarto. O mais curioso deles confina uma série de ventiladores ligados dentro de um armário dotado com portas de vidro. Paradoxalmente, o funcionamento dos aparelhos não esfria, mas esquenta o ambiente.

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