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Em um país com as características do Brasil, um jornal como o Rascunho parece uma aberração, um fenômeno que acontece uma vez em milhões de anos. Uma erupção (literária). Ele é a prova irrefutável de que é possível manter uma publicação que fala somente de livros em uma nação famosa por baixos índices de leitura e pequenas tiragens do mercado editorial.

Isso não significa que cada nova edição não mereça ser comemorada. Todo ano de publicação pode ser encarado como um marco (porque, de fato é). Daí o Rascunho bancar um debate com os escritores Moacyr Scliar e Cristovão Tezza, mediado por José Castello, hoje no Teatro Paiol, às 20h30. Com entrada gratuita, o evento marca os seis anos do jornal – talvez o mais duradouro na história das letras brasileiras – e o lançamento da edição de abril, a 72.ª. A discussão deve abordar temas da literatura contemporânea, além de pagar tributo ao aniversariante em questão.

Em que medida faz sentido discutir literatura em um país pouco "literário" como o Brasil? "Faz todo o sentido. Precisamos lutar com todas as forças contra a barbárie e a ignorância que nos rodeiam, mesmo que essa luta pareça um tanto quixotesca, como tem se mostrado a do Rascunho nesses longos seis anos de vida. Num país de milhões de banguelas e analfabetos, fazer um jornal sobre literatura é uma insanidade mais do que necessária. Os dentes e a alfabetização, deixo sob a responsabilidade dos governos", diz Rogério Pereira, criador e editor do Rascunho.

Sem nunca ter consumido um centavo de dinheiro público – muitas vezes, o meio pelo qual iniciativas desse tipo se viabilizam –, Pereira mantém sua "insanidade" com a ajuda de mais de 200 colaboradores espalhados pelo Brasil que já escreveram para o Rascunho na base da camaradagem. Leitores existem muitos, em uma dúzia de países – sem contar o Brasil.

O jornal se sustenta graças à comercialização de espaço publicitário, aos assinantes e à boa vontade dos colaboradores.

Apesar da falta de recursos, nunca falhou sequer um mês. Perguntado o que faria com mais dinheiro, Pereira conta que desenvolveria uma série de projetos engavetados, inclusive o de levar literatura para os bairros de Curitiba em uma biblioteca móvel. "Não dá para esperar que os governos façam. Tenho muita fé no poder civilizatório da literatura. Se tivesse dinheiro sobrando, executaria inúmeros projetos e também ampliaria o alcance do jornal, com maior tiragem e eventos com escritores na cidade. Temos um nome consolidado, mas não temos dinheiro para utilizá-lo nas inúmeras maneiras possíveis."

Pereira não vê o Rascunho como um formador de leitores, ao menos não na essência. "Somos apenas um meio de discussão e divulgação. Acho que conseguimos despertar e aumentar o interesse pela literatura. A formação de um leitor requer um processo longo, que se inicia na família, num forte exemplo de leitura. O Rascunho é apenas mais uma ferramenta disponível nesse acidentado caminho."

Hoje, cada tiragem custa em média R$ 5 mil por mês (a de aniversário saiu por R$ 8 mil, graças ao evento no Paiol), mantém um site na internet (www.rascunho.com.br) e conta com escritores consagrados na lista de assinantes – Rubem Fonseca e Ignácio de Loyola Brandão são dois deles.

Para terminar: parabéns.

Serviço: Bate-papo com os escritores Moacyr Scliar e Cristovão Tezza, mediado por José Castello. Teatro do Paiol (Pça. Guido Viaro, s/n.º). Hoje, às 20h30. Entrada gratuita.

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