
Uma famosa lápide de cerâmica, grafada no Portal de Bisagra, entrada das muralhas de Toledo, cidade histórica fundada em 193 a.C., epitomiza em boa escala uma tradição milenar: "Oh, peñascosa pesadumbre, gloria de España y luz de sus ciudades".
Datada do século 16 e de autoria de Miguel de Cervantes, embora tenha sido plagiada de um poeta local em uma época, é bom dizer, de pouco apreço à propriedade intelectual , a frase ambígua sobre a cidade de penhascos tristonhos e glórias mil é representativa da longa trajetória da cultura castelhana.
A Toledo evocada de Cervantes é uma das paisagens pictóricas apresentadas em Itinerário Iconográfico da Língua Castelhana, exposição que o Instituto Cervantes abre hoje, a partir das 19h30. Com 36 registros iconográficos do arquiteto madrileno José Maria Plaza Escrivá e painéis em mosaico da arquiteta brasileira Sandra Paro, também curadora, a mostra retrata uma espécie de crônica pictórica da linguagem espanhola, desde o reino medieval de Castela aos dias atuais.
Cronista
Escrivá viajou para cada uma das localidades e desenhou conforme o costume dos cronistas antigos, descrevendo no local as suas percepções. Ao revelar os traços de diversos monastérios, catedrais, igrejas, bibliotecas, palácios e construções antigas, ele averigua por um ângulo artístico o relicário cultural de um país de vasta relação com a linguagem o castelhano é derivado de línguas populares latinas, chamadas de românicas e disseminado por todo o mundo.
"As palavras surgiram do desenho, do traço. Ao organizar o olhar lírico de Escrivá nos deparamos com um recorte original e icônico, um viajante apurado, original e capaz de captar a história e seus signos. As glosas, primeiras notas encontradas nos monastérios antigos, demonstram como a escrita evoluiu a partir da fala e do desenho. Escrivá, de certo modo, resgata isso", afirma Sandra Paro. Ela transpôs para a mostra um dos edifícios mais emblemáticos do itinerário do madrileno, a Casa das Conchas, de Salamanca, considerada a cidade do saber.
Conferência
Além do material iconográfico, a mostra é boa ocasião para conhecer os legendários cartulários góticos, registros de títulos das instituições religiosas medievais. Na abertura, José Maria Plaza Escrivá e Sandra Paro darão uma palestra sobre a transformação da língua espanhola através dos tempos.
A exposição se soma aos eventos de comemoração ao terceiro centenário da fundação da Academia Real Espanhola, tradicional instituição que tem para si a tutela oficial da língua castelhana, e integra a série de eventos que Curitiba está recebendo no mês de Copa do Mundo e de concentração da La Roja na cidade.




