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A fase "quente" das CPIs já passou. A eleição também. E pouca coisa se resolve no Brasil daqui até o carnaval. O que resta, então, para os telespectadores e internautas que se acostumaram a ver as TVs Senado e Câmara nos últimos dois anos de agitação política? Acredite se quiser, mas há vida inteligente além do blablablá diário das sessões plenárias.

No ar ininterruptamente, os dois canais contam com uma grade voltada para o serviço de utilidade pública e, principalmente, a divulgação cultural. São documentários, talk shows, curtas-metragens e shows praticamente "escondidos" em meio ao leque de opções da tevê por assinatura. Como o didático musical Quem Tem Medo de Música Clássica?, apresentando pelo ex-senador e jornalista Artur da Távola. Ou o descontraído Sempre Um Papo, versão para a tevê do evento itinerante que vira e mexe passa por Curitiba. Quem costuma garimpar a programação, certamente já parou em alguns desses programas. E ficou.

Hoje, por exemplo, a TV Senado exibe, às 20h30, mais uma edição da premiada série Inclusão, sobre personagens à margem da sociedade. Desta vez, o assunto é a arte produzida em instituições manicomiais, com foco na produção de Arthur Bispo do Rosário. Já o destaque da TV Câmara é o Sintonia, talk show cultural comandado pelo jornalista e especialista em televisão Inimá Simões. Às 20 horas, ele conversa com o cineasta cearense Karim Aïnouz, diretor de Madame Satã e do elogiado O Céu de Suely, recém-chegado às telas.

Fundada há dez anos, quando José Sarney era o Presidente do Congresso Nacional, a TV Senado se firmou e inspirou "filhotes" como as TVs Câmara e Justiça, além dos diversos canais legislativos espalhados pelo país. Também transformou a postura dos políticos, que passaram a cuidar mais da língua e da imagem. "As transmissões das CPIs mudaram tudo. Os parlamentares foram obrigados a prestar mais atenção em detalhes, inclusive nos cabelos", brinca Silvio Schimitt, diretor de programação da TV Senado e funcionário do canal desde sua inauguração.

Disponível não apenas no sistema a cabo, mas também na internet e via antenas parabólicas, os canais legislativos federais medem sua penetração por meio dos e-mails recebidos e das ligações feitas para o serviço de 0800 das duas casas. De acordo com Schimitt, o perfil do público é bem definido: homens com mais de 40 anos (muitos deles idosos ou aposentados) e nível de escolarização entre o segundo e o terceiro graus completos. Mas esse retrato muda e se diversifica à noite e nos fins de semana, justamente quando a programação ganha contornos mais culturais.

"Quando a TV Senado foi criada, ninguém sabia direito o que fazer. Então seguimos as regras estabelecidas por lei, que previam a cobertura das atividades parlamentares e a difusão cultural", explica Schimitt. Ele também lembra dos protestos da imprensa e até de alguns senadores, no início revoltados com o alto custo de operação do canal (hoje em torno de R$ 10,5 milhões anuais, saídos dos cofres públicos). "Achavam o preço absurdo. Agora, a maioria dos repórteres setoristas do Congresso acompanha as sessões das redações. Se acontece alguma coisa importante, eles correm para cá", conta.

Com formatos parecidos, as TVs Senado e Câmara chegam aos lares de cerca de 90 milhões de brasileiros. Um número que vai explodir até o fim de 2007, quando o canal dos senadores estará disponível no sistema aberto de Salvador, Recife, Fortaleza, Manaus, Rio de Janeiro, Belém, Natal, Maceió, Cuiabá, Boa Vista, João Pessoa e Goiânia (ainda não há previsão para Curitiba).

Que as tevês legislativas e sua transparência representam um indiscutível avanço na democracia brasileira, disso ninguém duvida. Mas cabe ao seu grande financiador, o público, fiscalizar se o dinheiro está sendo bem empregado. Não dá para simplesmente ignorar e passar para o próximo canal.

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