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Cacá Diegues levou 18 meses entre a concepção e o início das filmagens de O Maior Amor do Mundo, que estréia hoje em circuito nacional. Não se trata, portanto, de um projeto antigo, daqueles acalentados durante anos e concretizados graças à persistência dos envolvidos. Pelo contrário. Como o próprio diretor define, seu 16.° longa-metragem é o trabalho mais "instantâneo" de sua carreira. Mas a palavra poderia ser "espontâneo".

Diegues vinha de filmes com ares de superprodução (para os padrões nacionais, claro), como Tieta do Agreste (1996), Orfeu (1999) e Deus É Brasileiro (2003). Não abandonou os grandes orçamentos, mas dessa vez aposta em uma história intimista e tocante. Uma jornada interior e exterior: pela alma de um homem angustiado e por entre as miseráveis ruas da Baixada Fluminense.

O personagem central é Antonio (José Wilker), um astrofísico brasileiro, radicado há anos no EUA, que dedicou sua vida ao trabalho. Aos 55 anos, descobre que tem um tumor fatal no cérebro e resolve voltar ao Rio de Janeiro, para receber uma última homenagem oficial. Solitário e deprimido, o cientista também se vê atormentado por memórias e devaneios resultantes de sua própria condição mental, comprometida pela doença.

Já em solo carioca, Antonio visita o pai adotivo (Sérgio Britto) e, pela primeira vez, recebe informações sobre sua mãe biológica. Com as poucas pistas que tem, o personagem inicia uma verdadeira corrida contra o tempo, em busca de suas origens. Acaba indo parar numa favela da Baixada Fluminense, onde conhece uma benzedeira (Léa Garcia), um menino ligado ao tráfico de drogas (Sérgio Malheiros) e a jovem Luciana (Thaís Araújo), com quem se envolve imediatamente.

Na favela, o protagonista conhece a história de amor que uniu seus pais e refaz sua trajetória – a seqüência catártica em que todos os detalhes sobre seu passado finalmente se conectam está entre as mais intensas do cinema nacional recente. E por mais que o cenário seja desolador, ali Antonio encontra indivíduos que encaram a vida com a coragem que ele nunca teve. Chega, então, à redenção.

Vencedor, na última segunda-feira, do prêmio principal do Festival de Montreal, no Canadá, O Maior Amor do Mundo surpreende pelo toque pessoal com que Cacá Diegues assina o roteiro e a direção. Uma linguagem autoral, rara nos dias de hoje, que perdoa os deslizes de um filme imperfeito – mas rico em significados. GGG1/2

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