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Da esquerda para a direita: Renato Scaramella Jr. (guitarra e voz), Abdul Osiecki (bateria), Alexandre Osiecki (baixo e voz) e Rodrigo Scaramella (guitarra e voz), os Beatles das araucárias | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Da esquerda para a direita: Renato Scaramella Jr. (guitarra e voz), Abdul Osiecki (bateria), Alexandre Osiecki (baixo e voz) e Rodrigo Scaramella (guitarra e voz), os Beatles das araucárias| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

A cada entrevista que davam, os Beatles se superavam. Dotados de ironia sofisticada, demoliam jornalistas mundo afora. Um dos episódios mais marcantes, quando brincaram com sua própria obra, aconteceu em Tóquio, em 1966, horas antes do show que fariam na capital japonesa.

"Por quê fazem tanto sucesso já que vocês dizem que suas músicas são razoáveis e que vocês não são grandes músicos?", perguntou um pobre jornalista. "Porque as pessoas gostam de coisas razoáveis", saiu-se John Lennon, exalando fumaça do cigarro recém-tragado.

Ao menos esse temperamento ácido em relação à imprensa a banda Metralhas Beatles Again não tem. Prestes a comemorar 50 anos na estrada, a formação curitibana é provavelmente a que mais tocou Beatles na terra das araucárias. Atualmente, John, Paul, George e Ringo são Renato Scaramella Jr., Alexandre Osie­­cki, Rodrigo Scaramella e Ab­­dul Osiecki. Dois pares de irmãos, todos curitibanos, que pror­­rogam a saga musical e beatlemaníaca iniciada por Phaulo Hilário Bonametti, cofundador da banda, em 1961.

O primeiro nome do grupo foi The Little Devils. Quando deixou de ser um trio e virou um quinteto, mudou a alcunha para The Shelters e depois para The Mar­­vels. Em 1967, surgiu o nome definitivo: Os Metralhas. "Beatles Again" foi incorporado após alguns anos, quando a música dos ingleses não saía dos ensaios, dos shows e da boca dos fãs.

"Eu ouvia só Elvis Presley quando um amigo chegou e disse: ‘ouve isso aí’". A música era "I Saw Her Standing There" e Renato Scaramella nunca mais foi o mesmo. Para os irmãos Osiecki, Beatles era um termômetro caseiro. Abdul, o baterista, lembra que seu pai ouvia a banda na sala de casa. Se era alguma música triste de Lennon, era melhor não incomodá-lo em sua cadeira. Se era uma balada animada de Paul, então tudo bem.

Da formação atual, Renato, de 43 anos, é o mais experiente. Está há dez anos no grupo. O mais novo é Alexandre, de 29, há apenas dois anos como guitarrista e backing vocal.

O peso de tocar na Metralhas é grande. A banda, ao lado da Blin­­dagem, praticamente criou o circuito rock curitibano. Já lançou oito discos, o último deles com composições próprias, em 2006. Hilário, último remanescente da formação original, saiu do grupo há dois anos. "O Phaulo teve alguns problemas de saúde, por isso se retirou", diz Renato. Hoje o músico está mais para um Brian Epstein – empresário, mentor e consultor dos Beatles –, já que "fica atrás das cortinas, dando sugestões".

Liverpool

A banda curitibana esteve por três vezes na terra natal dos Beatles. Foi convidada nos anos de 1999, 2000 e 2001 para participar do International Beatles Week, evento que reúne bandas covers dos Fab Four de todo canto do planeta. "Foi incrível. Tinham muitas bandas cover boas e um sujeito que achava que era o próprio John Lennon", lembra Renato.

Para os quatro, a Metralhas Beatles Again não é uma banda cover, já que não imita vestes e tampouco tem alguma semelhança física com os ingleses – a costeleta de Renato ainda está mais para Elvis do que para John. "Nunca vai ser igual, mas nós tocamos as músicas da forma mais parecida possível com o que eles faziam", diz o vocalista.

Em se tratando de Beatles, a questão "público" é única. De forma quase mágica, há tanto garotos pré-adolescentes estampando a marca dos ingleses em suas camisetas quanto senhores ouvindo LPs originais confortavelmente em suas poltronas.

"Sim, nossos fãs são de todas as idades. Falou em Beatles, tem público" conta Alexandre, também produtor de eventos. Já Rodrigo se vira também com a confeitaria que toca com a esposa, enquanto Abdul dirige um bar-pizzaria no Largo da Ordem.

Shows

A Metralhas Beatles Again se apresenta mais fora de Curitiba do que na cidade em que surgiu. A justificativa é a grande quantidade de bandas novas e dos DJs, que, na opinião de Renato, assumiram o posto de algumas bandas. Por mais que alguns toquem Beatles. "Está virando um problema sério, em todos os espaços há DJs", reclama o músico.

No repertório todo, são cerca de cem músicas de todas as fases dos Beatles – para as canções orquestradas, o convidado é o tecladista Moisés Wenger. "Ah, há sempre aquelas que não podem faltar. ‘Twist and Shout’, ‘Help!’, mas os mais fanáticos pedem coisas obscuras, nos desafiando", aponta Re­­nato. O Cavern Club da Metralhas Beatles Again é o Sheridan’s Irish Pub, no Batel. O quarteto se apresenta por lá todas as terças-feiras. Até quando, não se sabe.

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