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Em Skagboys, Irvine Welsh conta a história pregressa dos personagens de Trainspotting | John Rankin Waddell/Divulgação
Em Skagboys, Irvine Welsh conta a história pregressa dos personagens de Trainspotting| Foto: John Rankin Waddell/Divulgação

Romance

Skagboys

Irvine Welsh. Tradução de Daniel Galera e Daniel Pellizzari. Rocco, 592 págs. R$ 49,50.

Entre um livro e outro, uma peça e outra, um roteiro e outro, Irvine Welsh sempre volta aos personagens que o consagraram. Sem abrir mão da linguagem ferina, o autor escocês lança agora no Brasil Skagboys (Rocco), que conta como Renton, Spud, Begbie e Sickboy, criados em Trainspotting (1993), e revisitados em Pornô (2002), viraram os junkies eternizados no filme de Danny Boyle, em 1996.

No livro, Welsh leva os personagens, filhos da classe operária inglesa, de volta à década de 1980, nos seus 20 e poucos anos, em meio à Era Thatcher e a toda a tensão social que se seguiu, com greves, manifestações e uma violenta crise. Ainda limpinhos e usando seus nomes de batismo, eles são profundamente afetados pelo clima de repressão, e, sem vislumbrar um futuro decentemente possível, começam a se afundar nas drogas. Faz mais de dez anos desde o lançamento de Pornô e mais de 20 desde Trainspotting. O que o faz voltar a Renton, Spud, Begbie e Sickboy de tempos em tempos?

Gosto deles como personagens. Eles são muito de seu próprio tempo, mas também são arquétipos universais. Então eles são um conjunto fantástico de ferramentas para um escritor ter à mão. Skagboys nos mostra mais sobre os bastidores do início da vida desses personagens nas drogas. Qual a importância de voltar ao passado e quão fácil (ou difícil) foi fazer isso?

Achava importante reumanizá-los. Mostrar que são apenas caras normais que entraram numa tempestade de merda que simplesmente não entendiam. Remontar a juventude desses personagens foi bem simples, é como voltar a se aproximar de velhos amigos. Tentei não forçar isso, deixei os personagens me contarem o que eles passaram. Como foi o processo de escrever Skagboys? Suponho que você tenha tido que reler Trainspotting.

Sim, e odeio ler meus livros. Assim que termino de escrevê-los, encerro minha relação com eles. Apesar disso, o processo é o mesmo de tudo o que escrevo: eu me vejo numa sala com pessoas que não existem e minha esperança é conseguir sair de lá com algo decente antes de enlouquecer.

Como é escrever a história que antecipa Trainspotting após ver esses personagens ganharem vida em filme tão icônico?

Tive que tentar superar o filme. Até porque é apenas uma aproximação do mundo que eu criei, mas não exatamente aquele mundo. Então, tive que voltar aos livros para ter a real noção disso. De que maneira a forma como os personagens terminam em Pornô afetou a história pregressa deles em Skagboys?

Não tenho certeza. Acho que eu tinha que ter a consciência de para onde eles estavam indo. O livro levanta a questão sobre o quanto você muda quando cresce, envelhece, mas não tenho tenho certeza se sei a resposta para isso. Além de ser um livro sobre como aqueles personagens se tornaram junkies, é um livro sobre a década de 1980 no Reino Unido, durante a Era Thatcher. Essa fase o marcou, o traumatizou?

Acho que todos nós [britânicos] somos traumatizados de certa forma, já que ainda vivemos na era do neoliberalismo, numa época global, corporativa e controlada pelo Estado, modelo criado nos anos 1980. Em certo nível, temos que seguir em frente e mudar isso, pois está nos matando. Também devemos seguir com nossas vidas e aproveitá-las. Às vezes, as duas coisas parecem não funcionar juntas, mas funcionam. Você gostaria de ver Skagboys adaptado, como Trainspotting?

Sim, e vejo essa história em uma série. Você pode fazer muito mais por uma dramaturgia orientada pelas histórias dos personagens hoje na tevê.

Seu material pode ser bastante engraçado. Você acha que o humor é subestimado na literatura?

Se você pede ao leitor que embarque com você numa jornada sombria, precisa oferecer a ele humor e leveza no caminho. Muitos romances são respeitáveis e sérios demais para o meu gosto. Muita gente encara prequels e sequências de filmes como manobras comerciais – você acha que é assim com livros?

Prequels e continuações são mais comerciais, pois envolvem histórias familiares do público e construção de marca. Mas isso não é motivo para não fazê-las. Às vezes, os personagens que você já usou são as melhores ferramentas para o projeto que deseja realizar. Você tem planos de escrever mais sobre esses personagens?

Estou sempre escrevendo sobre eles, suas histórias nunca se completam.

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