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Os poucos e raros que frequentam este canto da Gazeta do Povo já devem ter percebido que eu defendo que as bandas e músicos façam mais shows em teatros. Tudo bem, o barzinho é legal, tem energia, garante o trocado e eu também gosto. Mas, quando o assunto é qualidade musical, nada se compara a shows em teatros. Felizmente, eles estão aumentando.

A banda ruído/mm teve a experiência, pela primeira vez, no Teatro do Paiol, em agosto. O guitarrista Ricardo Pill, em entrevista a André Mantra, do Projeto Cena Low-fi, reconheceu a diferença e confessou o nervosismo. A apresentação se transforma e precisa ser pensada integralmente, não apenas no som melhor, mas também com toda a composição de figurino, cenário e o que mais pode ser agregado.

No entanto, é difícil também ver os músicos pensarem integralmente. Muitas vezes, eles apenas levam para os palcos o mesmo que tocam em bares, sem considerar as diferenças de percepção, do público, da atenção e o grau de exigência maior para este tipo de apresentação.

A cantora Janaína Fellini deu literalmente um show e uma aula no lançamento de seu primeiro disco, na sexta-feira e sábado passados, no Paiol. Como já escrevi aqui, o projeto do CD da cantora foi todo feito com a colaboração de amigos e fãs, sem dinheiro de leis de incentivo. O mesmo se deu no espetáculo – e que espetáculo.

Os músicos, excelentes, estavam bem afiados e formavam uma banda "nervosa", na descrição do coprodutor do disco, Álvaro Ramos, após o show. Dú Gomide (guitarra e direção musical), Glauco Sölter (baixo), Alonso Figueroa (teclados e programação), Denis Mariano (bateria) e Sérgio Monteiro Freire (sax) garantiram um colchão sonoro seguro, nem sempre confortável, por vezes espinhoso, e exigente, no qual Janaína se deitou, dançou e cantou. Houve ainda as participações especiais de Juliana Liconti e Marina Prado na dança e evoluções na fita de circo, e do cantor e compositor Bernardo Bravo, um dos pontos altos do show na interpetação da bela canção "Estrela de Brilhar", da dupla Felixbravo.

Vou explicar melhor a parte acima, na qual me refiro à banda como, por vezes, espinhosa. Quando a cantora é insegura, meio fraquinha, a banda tem de ser certinha, não pode arriscar, tem de acompanhar a melodia para ajudar e até consertar possíveis vacilos vocais. Se a intérprete é boa, permite aos músicos voos mais altos, arranjos mais complexos e arriscados.

Neste espetáculo, por exemplo, a banda pôde fazer um acompanhamento mais rítmico e com fraseados diferentes dos instrumentos enquanto a intérprete se encarregou, muitas vezes sozinha, da linha melódica. Isso é bom e não é fácil. Só pode ser feito quando há confiança entre todos os músicos envolvidos. Ali, a confiança foi total e mostrou um crescimento sonoro em relação ao disco, que também é muito bom e pode ser comprado ou baixado gratuitamente pelo site Musicoteca.

Se fosse apenas o som, o espetáculo já teria sido ótimo. A direção de Sílvia Patzsch, no entanto, elevou ainda mais a apresentação. Houve uma produção de figurino, maquiagem, evoluções de dança e acrobacias e projeções de slides que faziam as vezes de cenário.

O que eu lamento depois de ver apresentações lindas como esta, que me enchem de prazer, é que tanto trabalho não tenha uma continuidade. São feitos dois shows e depois se suspende tudo até que venha uma próxima e indefinida oportunidade. Um espetáculo desses deveria ter apresentações garantidas por meses a fio e viajar em turnê por muitos lugares no Brasil e fora do país. Um dia, quem sabe.

Shows que vêm aí e eu recomendo, em teatro, ou não:

* O grande Dú Gomide, que toca com Janaína Fellini, se apresenta junto com banda e mais o Manchinha Trio na Sociedade 13 de Maio (Rua Clotário Portugal, 274), dentro do projeto Circuito Autoral, amanhã, dia 10.

* O grupo Siricutico apresenta para as crianças e papais o show Ziriguidum no Teatro Sesc da Esquina (Rua Visconde do Rio Branco, 969) pelo projeto Som da Cidade, amanhã, às 20 horas.

* A banda ruído/mm, a que me referi acima, e a stella-viva se apresentam na sexta-feira, dia 12, no Wonka (RuaTrajano Reis, 326).

* Anna Toledo, Lucymar Nicastro, Levi Brandão e banda, sob direção de João Egashira, fazem show em homenagem a Lupicínio Rodrigues no Canal da Música (Rua Julio Perneta, 695), com transmissão pela rádio e TV E-Paraná, a partir das 16 horas do sábado, dia 13.

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